(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
_ Cara, eu vou ser tio! – Disse na
escola para o Hugo, o Cleber e o Mário, que agora pertencia de fato à turma. O
Sidnei e o Tomás haviam se isolado entre eles, o que fez com que o Hugo e o
Cleber também se afastassem dos dois.
_ Então a Rosália tá grávida? –
Disse o Hugo. – E como seus pais reagiram?
_ Minha mãe quase surtou. Ficou
perguntando onde havia errado, por que eles não usaram camisinha e essas
coisas. Meu pai que se mostrou mais calmo, querendo saber desde quando sabiam.
_ E vocês foram comemorar? É isso?
– Não se conformava o Mário, que tinha duas irmãs.
_ Pois é. Meu pai sempre foi
assim. É difícil tirar ele do sério.
_ Se fosse algumas das minhas
irmãs acho que meus pais as teriam matado. – Completou o Mário.
_ E você ainda tá de castigo Léo?
– Perguntou o Cleber.
_ Até o fim de semana sim.
_ Nem pra jogar bola à tarde?
_ Nem.
A escola cada vez mais nos servia
como ponto de encontro e paquera e menos como local de aprendizado. As aulas
pareciam eternas e totalmente entediantes, a não ser por um ou outro professor
que eram mais legais. Eu particularmente me dava melhor na área de humanas, e detestava
as contas e fórmulas.
Na saída da escola, ao pegarmos
nossas bicicletas para irmos embora, minha sentença era uma só aquela semana:
direto para casa. A turma geralmente passava na sorveteria ou ia tomar um suco,
e normalmente eu ia com o Hugo até boa parte do caminho, pois morávamos perto.
Mas não aquela semana.
_ Falou galera. A gente se vê
amanhã. – Me despedi enquanto paravam na sorveteria.
Quase chegando em casa avistei o
Vini, também de bicicleta.
_ E aí Leo. Fim de semana já tá
livre?
_ E aí Vini. Já sim. Tão
combinando alguma coisa?
_ Acho que vamos jogar bétia. Seu
primo que tá agitando. Contamos com você?
Por um instante gelei. Não pelo
que o Vini havia falado, e sim por ver minha mãe passar de carro próximo a nós.
Certamente ela tinha me visto.
_ Léo? Tá tudo bem? O que
aconteceu?
_ Nada não. Fala pro André que
depois ligo para ele. Tenho que ir. Falou. – E saí o mais rápido que pude.
_ Léo? Léo? – Ouvia o Vini
gritar, mas nem olhei para trás.
Chegando em casa vi que o carro
estava lá, então entrei já esperando a bronca.
_ Oi mãe.
_ Oi Léo. Tem lição para hoje? –
Perguntou com bastante calma.
_ Só umas contas de matemática e
uma leitura.
_ Então faz já pra ficar livre. A
propósito, fim de semana vamos para um rancho com a tia Matilde. Sairemos no
sábado de manhã e voltamos no domingo.
_ Como assim? Eu não preciso ir
né?
_ Claro que precisa. A tia
Matilde vai reunir os filhos nesse rancho e chamou a gente pra participar. Faz
tempo que você não vê seus primos, sem falar nos de segundo grau, então você
vai sim.
_ Mas mãe! Já fiquei sem sair no
fim de semana, agora esse também?
_ Ficou sem sair sim, mas porque
você mereceu. E esse é um encontro de família, então não tem discussão.
_ O tio Mané e a tia Josefa vão
também? – Perguntei, na esperança do André ou do Manezinho também irem.
_ Não. Ela chamou apenas a gente.
Não acreditava naquilo. Novamente
perderia um fim de semana com a turma. Aquilo me deixou tão nervoso que estava
prestes a enfrentar minha mãe, mas me lembrei do que o vô Tonico havia dito,
que teria a vida toda para sair com os amigos, ainda mais sob o risco de um
novo castigo. Me calei e perguntei:
_ Posso chamar um amigo para ir
então?
_ Quem você vai chamar? Não é
aquele Vini Não né?
_ O Hugo. Se os pais deles
deixarem ele pode ir?
_ O Hugo pode.
Falei com o Hugo no dia seguinte,
na escola, e a tarde ele me disse que os pais dele tinham deixado. Liguei para
o André.
_ Vão mesmo jogar bétia no fim de
semana?
_ O plano é esse. Vai poder ir?
_ Não. Vou ter que ir para um
rancho com meus pais pra um encontro com os filhos da tia Matilde.
_ Sua mãe tá foda heim Léo?
_ Tá sim. Mas marquem algo pro
outro fim de semana que vou com vocês.
_ Ok. Falou.
_ Falou.
Na sexta o Hugo dormiu em casa,
pois sairíamos bem cedo. Minha mãe não tinha deixado nem a gente dar uma volta,
então ficamos vendo televisão e jogando jogos de tabuleiro até dar sono, e bem
de manhã fomos acordados por ela. O rancho era bem legal: um casarão central
onde ficava uma grande sala com os quartos ao redor e um quiosque contendo a
cozinha com churrasqueira. Além do rio represado que formava uma prainha o
rancho também tinha piscina.
A tia Matilde foi com a gente, e
aos poucos foram chegando seus filhos e netos. Tinha o Alfredo, que era o mais
novo, casado com a Bete e tinham um filho ainda bem pequeno, o Vitinho. O
Edivaldo, do meio e casado com a Mara, tendo dois filhos, o Juninho e a Cássia,
que eram uns cinco anos mais novos que eu. E, por fim, o Lúcio, casado com a
Joana e com duas filhas, a Michele, que tinha a minha idade, e a Milena, da
mesma idade da Cássia. Fazia tendo que não as via, e tanto o Hugo como eu nos
surpreendemos com a beleza da Michele.
_ Sua prima é uma gata heim?
_ Pois é. Nem eu sabia que tava
tão gata assim.
Fomos todos nos cumprimentando e
arrumando as coisas, separando os quartos e conversando sobre o que fazer de
almoço e tudo mais. Logo já nos enturmamos com as primas e fomos para a
piscina. Meu irmão ficou vendo televisão no rancho, como sempre.
_ Além de gata sua prima tá
gostosa heim?
Apenas sorri e fui jogar água
nela e na irmã, o que deu iniciou uma guerrinha e começamos a nos divertir.
O dia todo foi bem gostoso,
brincando hora na piscina, hora na represa, hora ao redor do rancho onde possuía
algumas matas e outros ranchos. Combinamos de fazer uma fogueira a noite e
contar histórias de terror, e cada vez mais o Hugo se encantava com a Michele,
que era bem moleque nas brincadeiras e muito legal. A Milena e a Cássia, apesar
de mais novas, eram bem divertidas, e grudaram na gente. Então combinamos de
dar um susto nelas durante as histórias.
_ ... e foi então que começaram a
ouvir barulhos dentro da mata, sem saber o que era, já que tinham se
certificado durante o dia que estavam sozinhos... – Narrava eu uma tonta
história de terror.
_ Chiiiii... Fez a Michele. –
Vocês ouviram esse barulho?
_ Eu ouvi. – Disse o Hugo. – Será
que é bom vermos o que é?
Nisso a Milena e a Cássia já estavam
com os olhos arregalados de medo.
_ Deixa que eu vou. – Respondi. –
Cuidem das meninas. Se eu não der nenhum sinal em dois minutos vocês saberão
que algo aconteceu comigo.
_ Não é melhor corrermos para
dentro? – Se manifestou a Cássia.
_ Não. – Disse o Hugo. – É melhor
vermos o que é pra não assustar o pessoal lá dentro. Vai lá Léo.
Me afastei quase rindo pela arte
que havíamos armado. Me dirigi para as árvores próximas à represa e desapareci
para a vista deles.
_ Ahhhh!!! – Gritei tempo depois,
fingindo.
_ Que foi isso? – Ouvi a Michele
perguntando, fingindo susto.
_ Acho melhor eu ir ver. – Disse o
Hugo, em tom heroico e se levantando.
_ Não! Fica com a gente. –
Choramingou a Cássia.
_ Calma meninas. Eu fico com
vocês. Pode ir Hugo. Talvez o Léo precise de ajuda. – Disse a Michele.
O Hugo se afastou e pouco depois
também gritou, fingindo dor e angústia. Nisso eu já estava próximo a casa,
tendo dado a volta por trás das árvores.
_ Vamos pra dentro! Vamos pra
dentro! – Gritavam as meninas.
_ Vamos. Eu levo vocês. – Dizia a
Michele, fingindo pânico.
Quando se aproximaram do casarão
central saí com tudo vestindo uma capa de chuva amarela que havia no quarto,
dando um grito para assustá-las.
_ Ahhhhh!!! – Berravam as duas,
virando-se rapidamente para fugir, dando de cara com o Hugo, também com uma
capa e gritando.
As duas se agacharam e começaram
a chorar. O Hugo, a Michele e eu caímos na risada, enquanto todos saíram do
casarão assustados com os gritos.
_ O que tá acontecendo? –
Perguntou assustado o Lúcio, vendo sua filha menor aos prantos.
_ Foi uma brincadeira. A gente
assustou elas. – Disse a Michele, ainda rindo.
Tomamos uma bronca leve devido o
desespero das crianças, mas depois que passou era só risada por parte de todos,
até da Cássia e da Milena, que nos xingavam e diziam que se vingariam.
No domingo foi tudo ok. Mais
festas, farras e diversão. Depois do almoço arrumamos as coisas, limpamos o
rancho e nos despedimos, fazendo promessas de manter contato. O Hugo estava
todo apaixonado pela Michele, mas ela não parecia sentir o mesmo por ele.
_ Se divertiu bastante né Leo? –
Perguntou meu pai enquanto voltávamos.
_ Foi bem legal pai.
_ E pensar que você não queria
vir heim? – Disse minha mãe. – E você Lou, por que não se juntou aos outros? Só
ficou na frente da televisão.
_ Só tinha criança. – Respondeu ele.
_ Babaca. – Soltei.
Deixamos o Hugo na casa dele e
fomos para a nossa. Começamos a tirar as coisas do carro enquanto minha mãe
abria a casa. Quando meu pai fechou o porta-malas viu uma coisa no chão.
_ Bem, você deixou cair sua
bolsa? – Perguntou para minha mãe.
_ Eu não. Por quê?
_ Estava aqui na sarjeta. Olha.
_ Mas eu não levei essa bolsa.
Ela estava no quarto. – Pegou a bolsa e percebeu que ela estava completamente
vazia.
_ Alguém entrou em casa. – Disse meu
pai correndo para dentro, preocupado.
Entramos e começamos a vasculhar
os cômodos.
_ Meu tênis novo sumiu. – Disse meu
irmão.
_ O meu relógio também. – Falou meu
pai.
_ Mas não tem nada aberto! Quem
entrou sabia onde ficava a chave no fundo. – Concluiu minha mãe.
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