domingo, 22 de setembro de 2013

Aos Meus Amigos - 2

_ Pra onde vamos hoje? – Perguntei.
_ Vamos para o lado do estádio. – Sugeriu o André.
_ Não sei não! Sempre têm uns moleques encrenqueiros naqueles lados... – Nos alertava João, que era o mais velho dos quatro. Mas isso não intimidou o André, que era o mais arteiro e com ideias mais ousadas, e já emendou:
_ Qualquer coisa a gente sai correndo. Quero ver me pegarem.
Um olhava para o outro, esperando algum sinal de reprovação frente tal ideia. Como não veio, lá fomos nós na direção do estádio pela marginal de terra.
Postávamos corrida um com o outro, mas sempre maneirando na velocidade quando alguém ficava muito para trás. Vez e outra parávamos para olhar um maço de cigarro vazio no chão ou para brincar em alguma parte do córrego.
_ Tá calor hoje, né? – Comentou o Manezinho.
_ E se a gente brincasse de guerra de lama? – Disse o André, já se aproximando da beira do córrego para pegar o barro encharcado.
_ Melhor não. Minha mãe me mata se eu chegar molhado na casa da vó. – Alertei. Mas, mais uma vez, o André tinha uma ideia genial:
_ Ué! A gente finge que caiu sem querer na água, e pronto. – A ideia caiu como uma luva para todos, e ninguém desconfiou que nossos pais não acreditariam de jeito nenhum naquela história.
E a guerra começou. Lama para todo lado, pulando dentro da água com gritos disfarçados do tipo “Opa! Escorreguei”. Eu usava uma camiseta branca, com um cachorro estampado. Não era nova, mas era uma das boas camisetas para se usar no dia-a-dia ainda. Claro que depois disso virou pano de chão...
O João era cheio de querer armar estratégias para tudo, e começou a montar um bunker de terra para se proteger enquanto pedia para o Manezinho fazer bolinhas de barro para jogar na gente. Automaticamente, André e eu já nos vimos como a dupla inimiga dos dois, e começamos a nos armar também.
_ Pega aquela madeira. Tive uma ideia.
Outra das ideias do André, e sempre as que traziam mais problemas para nós, mas a gente sempre acabava topando. Corri e peguei a madeira. Era dessas tábuas compridas, em forma de prancha, usadas em construção. Levei a tábua para o André e ele já havia preparado uma pedra como base para improvisarmos uma catapulta. Enchemos um dos lados da madeira de barro e demos início ao plano: começamos a mexer com o João e o manezinho, jogando algumas bolas de lama neles enquanto eles revidavam, num volume bem maior. Fomos recuando aos poucos para que eles pudessem avançar mais, e, assim que percebemos que os dois estavam a uma distância boa e próximos um do outro, o André gritou:
_ É AGORA! VEM!
Saí correndo e no “Já” combinado pulamos os dois na ponta erguida da madeira, esperando que aquele monte de barro voasse sobre nossos “inimigos” da brincadeira. O barro mal levantou um metro de altura e ainda por cima levamos um belo tombo. Mal conseguimos levantar, decepcionados com nossa arma mortífera, quando uma bola de barro atinge cada um de nós, seguida de várias outras.
_ Hahahaha! Seus tontos. Agora vão sofrer...
E lá vai os quatro, rolando por todo aquele barro, um tentando sujar mais o outro, até que nos cansamos e decidimos nos limpar na água do córrego.
Quando começamos a voltar, avistamos dois meninos no meio da rua de terra com pedras na mão. Faziam sinal para pararmos. Ficamos com pé atrás, mas o fizemos.
_ Deixa a gente dar uma volta na bicicleta de vocês. – Falou um dos meninos.
_ É só uma voltinha. Não vamos demorar. – Falou o outro, sempre exibindo as pedras na mão.
O João tentou se esquivar do pedido:
_ É que a gente tá com pressa. Já estamos atrasados e vamos apanhar em casa se demorarmos mais.
_ Vocês é que sabem. Ou apanham em casa ou apanham aqui.
Um olhou para o outro, sem saber o que fazer, até que ouvimos o André gritar:
_ CORRE! PEDALA O MAIS RÁPIDO QUE PUDER...
Todos fomos pegos de surpresa, inclusive os dois moleques, mas no desespero fizemos o que o André gritou, e saímos com tudo. Apesar do esforço e do medo, era possível perceber pedras passando perto de nós, sendo atiradas pelos dois moleques, até que senti uma forte pancada na cabeça, dando um clarão na vista, e logo as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto, mas não parava de pedalar por nada. Tempo depois, o João para próximo a um bar que o pai dele costumava ir.
_ Ufa! Escapamos por pouco. Vamos tomar água aqui.
_ Que foi Leo? Tá chorando de medo?

Respondi à pergunta do Manezinho levando a mão à cabeça e mostrando um pouco de sangue. Todos ficaram assustados. Entramos no bar do seu Terso e mostramos para ele o ferimento. Ele deu uma olhada e disse que não era nada sério, só um pequeno cortinho. Pegou com pouco de gelo, colocou num saquinho e falou para deixar ali por um tempo, para desinchar. Tomamos água da torneira, descansamos um pouco e fomos embora. Nem precisa dizer que não pude dormir nos meus avós naquela noite, tanto por causa da roupa como pelo galo na cabeça.

(Não deixe de ler a continuação em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-3.html )

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