(Não deixe de ler desde a Introdução em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)
_ Pra onde vamos hoje? –
Perguntei.
_ Vamos para o lado do estádio. –
Sugeriu o André.
_ Não sei não! Sempre têm uns
moleques encrenqueiros naqueles lados... – Nos alertava João, que era o mais
velho dos quatro. Mas isso não intimidou o André, que era o mais arteiro e com
ideias mais ousadas, e já emendou:
_ Qualquer coisa a gente sai
correndo. Quero ver me pegarem.
Um olhava para o outro, esperando
algum sinal de reprovação frente tal ideia. Como não veio, lá fomos nós na
direção do estádio pela marginal de terra.
Postávamos corrida um com o
outro, mas sempre maneirando na velocidade quando alguém ficava muito para
trás. Vez e outra parávamos para olhar um maço de cigarro vazio no chão ou para
brincar em alguma parte do córrego.
_ Tá calor hoje, né? – Comentou o
Manezinho.
_ E se a gente brincasse de
guerra de lama? – Disse o André, já se aproximando da beira do córrego para
pegar o barro encharcado.
_ Melhor não. Minha mãe me mata
se eu chegar molhado na casa da vó. – Alertei. Mas, mais uma vez, o André tinha
uma ideia genial:
_ Ué! A gente finge que caiu sem
querer na água, e pronto. – A ideia caiu como uma luva para todos, e ninguém
desconfiou que nossos pais não acreditariam de jeito nenhum naquela história.
E a guerra começou. Lama para
todo lado, pulando dentro da água com gritos disfarçados do tipo “Opa!
Escorreguei”. Eu usava uma camiseta branca, com um cachorro estampado. Não era
nova, mas era uma das boas camisetas para se usar no dia-a-dia ainda. Claro que
depois disso virou pano de chão...
O João era cheio de querer armar
estratégias para tudo, e começou a montar um bunker de terra para se proteger
enquanto pedia para o Manezinho fazer bolinhas de barro para jogar na gente.
Automaticamente, André e eu já nos vimos como a dupla inimiga dos dois, e
começamos a nos armar também.
_ Pega aquela madeira. Tive uma
ideia.
Outra das ideias do André, e
sempre as que traziam mais problemas para nós, mas a gente sempre acabava
topando. Corri e peguei a madeira. Era dessas tábuas compridas, em forma de
prancha, usadas em construção. Levei a tábua para o André e ele já havia
preparado uma pedra como base para improvisarmos uma catapulta. Enchemos um dos
lados da madeira de barro e demos início ao plano: começamos a mexer com o João
e o manezinho, jogando algumas bolas de lama neles enquanto eles revidavam, num
volume bem maior. Fomos recuando aos poucos para que eles pudessem avançar
mais, e, assim que percebemos que os dois estavam a uma distância boa e
próximos um do outro, o André gritou:
_ É AGORA! VEM!
Saí correndo e no “Já” combinado
pulamos os dois na ponta erguida da madeira, esperando que aquele monte de
barro voasse sobre nossos “inimigos” da brincadeira. O barro mal levantou um
metro de altura e ainda por cima levamos um belo tombo. Mal conseguimos
levantar, decepcionados com nossa arma mortífera, quando uma bola de barro atinge
cada um de nós, seguida de várias outras.
_ Hahahaha! Seus tontos. Agora
vão sofrer...
E lá vai os quatro, rolando por
todo aquele barro, um tentando sujar mais o outro, até que nos cansamos e
decidimos nos limpar na água do córrego.
Quando começamos a voltar,
avistamos dois meninos no meio da rua de terra com pedras na mão. Faziam sinal
para pararmos. Ficamos com pé atrás, mas o fizemos.
_ Deixa a gente dar uma volta na
bicicleta de vocês. – Falou um dos meninos.
_ É só uma voltinha. Não vamos
demorar. – Falou o outro, sempre exibindo as pedras na mão.
O João tentou se esquivar do
pedido:
_ É que a gente tá com pressa. Já
estamos atrasados e vamos apanhar em casa se demorarmos mais.
_ Vocês é que sabem. Ou apanham
em casa ou apanham aqui.
Um olhou para o outro, sem saber
o que fazer, até que ouvimos o André gritar:
_ CORRE! PEDALA O MAIS RÁPIDO QUE
PUDER...
Todos fomos pegos de surpresa,
inclusive os dois moleques, mas no desespero fizemos o que o André gritou, e saímos
com tudo. Apesar do esforço e do medo, era possível perceber pedras passando
perto de nós, sendo atiradas pelos dois moleques, até que senti uma forte
pancada na cabeça, dando um clarão na vista, e logo as lágrimas começaram a
escorrer pelo rosto, mas não parava de pedalar por nada. Tempo depois, o João para
próximo a um bar que o pai dele costumava ir.
_ Ufa! Escapamos por pouco. Vamos
tomar água aqui.
_ Que foi Leo? Tá chorando de
medo?
Respondi à pergunta do Manezinho
levando a mão à cabeça e mostrando um pouco de sangue. Todos ficaram
assustados. Entramos no bar do seu Terso e mostramos para ele o ferimento. Ele
deu uma olhada e disse que não era nada sério, só um pequeno cortinho. Pegou
com pouco de gelo, colocou num saquinho e falou para deixar ali por um tempo,
para desinchar. Tomamos água da torneira, descansamos um pouco e fomos embora.
Nem precisa dizer que não pude dormir nos meus avós naquela noite, tanto por
causa da roupa como pelo galo na cabeça.
(Não deixe de ler a continuação em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-3.html )
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