terça-feira, 17 de setembro de 2013

Aos Meus Amigos - 1


Creio que posso considerar meus primeiros melhores amigos como sendo meus primos. É aquela velha história, ao menos nas famílias da minha época: família grande e que sempre se reúne na casa de um dos avós aos fins de semana. Esses avós, no caso, eram os avós maternos: Vô Tonico e Vó Cotinha. Os tios eram Osório, o mais velho e que seus filhos não tive muito contato devido à diferença de idade; Tia Matilde, no qual seus netos se tornaram bons amigos mais tarde; Tio Mané, esse sim um grande tio para minha infância, com seus filhos João e Manezinho. Tinha a Tia Josefa também, no qual um dos filhos, André, era quem fechava a quadrilha dos primos: João, Manezinho, André e eu, que era filho da caçula dos avós Tonico e Cotinha, Marilda.
Alias, nem me apresentei. Me chamo Leonardo Félix, filho caçula de Marilda e Francisco, e tenho um irmão do meio, Lourenço, e uma irmã mais velha, Rosália. Moramos numa cidade pequena do interior do estado, o que permite uma vida mais tranquila à liberdade e segurança.
Praticamente todos os dias visitávamos o Vô Tonico e a Vó Cotinha. Mas os momentos mágicos mesmo eram aos fins de semana. Chegava da escola e, depois de almoçar e fazer o dever de casa, pegava minha bicicleta, colocava roupas na mochila e lá ia eu para a casa dos avós, onde só voltava no domingo a noite e muitas vezes aos berros por querer ficar.
Meus primos nem sempre dormiam lá aos fins de semana, sobretudo o André, que tinha medo do escuro, mas mesmo assim sempre nos encontrávamos para nossas brincadeiras e aventuras. Geralmente o Vô Tonico saia para caminhar aos sábados cede, pela marginal que passava a poucas quadras de sua casa, ainda de chão de terra, e ia até o matadouro municipal. Para nós era uma farra, pois enquanto nosso avô caminhava aproveitávamos para brincar de guerra de mamona, atravessar o córrego de um lado para o outro equilibrando sobre os canos que o cruzavam e procurando marcas de cigarro pelo chão, que todos nós colecionávamos. E chegar ao matadouro era sempre chocante: restos de ossos de gado espalhados por todos os lados e urubus entre eles. Quando chegávamos em horário de matança, o sangue era jogado no rio, o que o tornava completamente vermelho. Era o Rio de Sangue, como chamávamos. Penso que nos levar até lá foi a forma de meu avô nos ensinar sobre a morte...

Lembro-me uma vez em que o André sugeriu que pegássemos alguns ossos maiores, enrolássemos as camisetas na cabeça e fossemos até a beira da rodovia que passava por ali assustar os motoristas. Não sei como o Vô Tonico não percebeu a movimentação, mas quando nos viu no alto do barranco ao lado da rodovia e fazendo aquela farra ficou muito bravo.
_ Vocês podiam morrer lá. E se um caminhão perde a direção? A mãe de vocês vai ficar sabendo disso...
Essa era uma ameaça gigantesca, principalmente para mim, pois sabia que qualquer castigo implicaria em não dormir os fins de semana na casa dos avós. Voltamos todos cabisbaixos para casa, sem guerra de mamona ou brincadeira no córrego.

Em muitos fins de semana nossos pais iam ao jogo de futebol do time da cidade, e os primos todos ficavam com a Vó Cotinha. Era uma farra, pois nos davam alguns trocados para podermos gastar no bar da esquina ou na sorveteria ao lado. Nossos doces prediletos eram a caixinha surpresa, que, como o nome diz, era sempre uma surpresa de que doce e soldadinho de plástico viria dentro; um pirulito em que se passava num pozinho azedo antes de levar à boca; e o arroz doce, um tipo de salgadinho doce em forma de arroz numa embalagem rosa. Eu também gostava do sorvete quente, que era uma maria-mole em forma de bola de sorvete numa casquinha. Ficávamos todos à frente da TV branco e preto comendo nossos doces até acabar e ir ao barzinho ou sorveteria novamente.
Outra brincadeira comum era fazer cabaninha com as várias madeiras que o Vô Tonico mantinha atrás da casa. Direto a cabana desmontava e era todo mundo saindo de baixo das madeiras esfregando a cabeça de dor, mas sempre tentávamos montar novamente e nos enfiávamos todos dentro dela. Quando ela se mantinha por mais tempo começávamos a fantasiar, dias simulando uma pequena cidade em que cada um tinha uma profissão e morávamos todos juntos, ou numa cena de guerra, em que lutávamos contra inimigos imaginários e aquele era nosso acampamento.

Sim, tínhamos bastante espaço na casa de nossos avós. Um quintal com mangueira, horta, roseiras, pés de fruta, além de outras plantas, que eram a paixão da Vó Cotinha. Mas além do quintal também aproveitávamos os fins de semana andando de bicicleta...

(Não deixe de ler a continuação em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-2.html )

2 comentários:

  1. Reconheço os personagens dessa história. Mto legal!!
    Bruno.

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  2. Oi, "Bruno", hehehehe.
    Apesar de reconhecer alguns personagens, a ideia não é autobiográfica, e sim utilizar experiências de vida para contar histórias. Muito pode ter de "igual" a muita coisa e muita gente, mas não quero criar relações. Aproveitem as histórias...

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