(Não deixe de ler a Introdução em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)
Creio que posso considerar meus
primeiros melhores amigos como sendo meus primos. É aquela velha história, ao
menos nas famílias da minha época: família grande e que sempre se reúne na casa
de um dos avós aos fins de semana. Esses avós, no caso, eram os avós maternos:
Vô Tonico e Vó Cotinha. Os tios eram Osório, o mais velho e que seus filhos não
tive muito contato devido à diferença de idade; Tia Matilde, no qual seus netos
se tornaram bons amigos mais tarde; Tio Mané, esse sim um grande tio para minha
infância, com seus filhos João e Manezinho. Tinha a Tia Josefa também, no qual
um dos filhos, André, era quem fechava a quadrilha dos primos: João, Manezinho,
André e eu, que era filho da caçula dos avós Tonico e Cotinha, Marilda.
Alias, nem me apresentei. Me
chamo Leonardo Félix, filho caçula de Marilda e Francisco, e tenho um irmão do meio,
Lourenço, e uma irmã mais velha, Rosália. Moramos numa cidade pequena do interior
do estado, o que permite uma vida mais tranquila à liberdade e segurança.
Praticamente todos os dias
visitávamos o Vô Tonico e a Vó Cotinha. Mas os momentos mágicos mesmo eram aos
fins de semana. Chegava da escola e, depois de almoçar e fazer o dever de casa,
pegava minha bicicleta, colocava roupas na mochila e lá ia eu para a casa dos
avós, onde só voltava no domingo a noite e muitas vezes aos berros por querer
ficar.
Meus primos nem sempre dormiam lá
aos fins de semana, sobretudo o André, que tinha medo do escuro, mas mesmo
assim sempre nos encontrávamos para nossas brincadeiras e aventuras. Geralmente
o Vô Tonico saia para caminhar aos sábados cede, pela marginal que passava a
poucas quadras de sua casa, ainda de chão de terra, e ia até o matadouro
municipal. Para nós era uma farra, pois enquanto nosso avô caminhava
aproveitávamos para brincar de guerra de mamona, atravessar o córrego de um
lado para o outro equilibrando sobre os canos que o cruzavam e procurando
marcas de cigarro pelo chão, que todos nós colecionávamos. E chegar ao
matadouro era sempre chocante: restos de ossos de gado espalhados por todos os
lados e urubus entre eles. Quando chegávamos em horário de matança, o sangue
era jogado no rio, o que o tornava completamente vermelho. Era o Rio de Sangue,
como chamávamos. Penso que nos levar até lá foi a forma de meu avô nos ensinar
sobre a morte...
Lembro-me uma vez em que o André
sugeriu que pegássemos alguns ossos maiores, enrolássemos as camisetas na
cabeça e fossemos até a beira da rodovia que passava por ali assustar os
motoristas. Não sei como o Vô Tonico não percebeu a movimentação, mas quando
nos viu no alto do barranco ao lado da rodovia e fazendo aquela farra ficou
muito bravo.
_ Vocês podiam morrer lá. E se um
caminhão perde a direção? A mãe de vocês vai ficar sabendo disso...
Essa era uma ameaça gigantesca,
principalmente para mim, pois sabia que qualquer castigo implicaria em não
dormir os fins de semana na casa dos avós. Voltamos todos cabisbaixos para
casa, sem guerra de mamona ou brincadeira no córrego.
Em muitos fins de semana nossos
pais iam ao jogo de futebol do time da cidade, e os primos todos ficavam com a
Vó Cotinha. Era uma farra, pois nos davam alguns trocados para podermos gastar
no bar da esquina ou na sorveteria ao lado. Nossos doces prediletos eram a
caixinha surpresa, que, como o nome diz, era sempre uma surpresa de que doce e
soldadinho de plástico viria dentro; um pirulito em que se passava num pozinho
azedo antes de levar à boca; e o arroz doce, um tipo de salgadinho doce em
forma de arroz numa embalagem rosa. Eu também gostava do sorvete quente, que
era uma maria-mole em forma de bola de sorvete numa casquinha. Ficávamos todos
à frente da TV branco e preto comendo nossos doces até acabar e ir ao barzinho
ou sorveteria novamente.
Outra brincadeira comum era fazer
cabaninha com as várias madeiras que o Vô Tonico mantinha atrás da casa. Direto
a cabana desmontava e era todo mundo saindo de baixo das madeiras esfregando a
cabeça de dor, mas sempre tentávamos montar novamente e nos enfiávamos todos dentro
dela. Quando ela se mantinha por mais tempo começávamos a fantasiar,
dias simulando uma pequena cidade em que cada um tinha uma profissão e
morávamos todos juntos, ou numa cena de guerra, em que lutávamos contra
inimigos imaginários e aquele era nosso acampamento.
Sim, tínhamos bastante espaço na
casa de nossos avós. Um quintal com mangueira, horta, roseiras, pés de fruta, além de
outras plantas, que eram a paixão da Vó Cotinha. Mas além do quintal também
aproveitávamos os fins de semana andando de bicicleta...
(Não deixe de ler a continuação em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-2.html )
(Não deixe de ler a continuação em: http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-2.html )
Reconheço os personagens dessa história. Mto legal!!
ResponderExcluirBruno.
Oi, "Bruno", hehehehe.
ResponderExcluirApesar de reconhecer alguns personagens, a ideia não é autobiográfica, e sim utilizar experiências de vida para contar histórias. Muito pode ter de "igual" a muita coisa e muita gente, mas não quero criar relações. Aproveitem as histórias...