terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Aos Meus Amigos - 2 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

Depois da primeira bebedeira minha mãe adotou a prática de ter que chama-la para abrir a porta depois que chegávamos de uma balada, cheirando nossa boca para saber se havíamos bebido, o que conseguia driblar facilmente com a técnica ensinada pelo André de abrir a boca mas soltar o ar pelas narinas, além, é claro, de uma boa e forte bala na boca. Dificilmente meu irmão e eu chegávamos juntos, mas ainda assim tínhamos que chama-la. Minha irmã estava com o casamento marcado e, por isso, ganhara o direito de dormir na casa do agora noivo, já não sendo mais um problema para meus pais.
Como meu irmão era mais velho podia chegar um pouco mais tarde do que eu, mas isso quase nunca acontecia. Meu horário limite era duas da manhã, e o dele as três. Por se tratar de uma cidade pequena íamos a pé para todos os lugares de forma que tínhamos bastante liberdade.
_ Tchau mãe. Estamos saindo. – Anunciei.
_ juízo heim! Não esquece de me chamar quando chegarem. Lou cuida do seu irmão.
_ Tá.
Naquela noite iriamos para a boate. Era a única da cidade e onde todos se encontravam. O roteiro era basicamente o mesmo: lanche com os amigos, volta no centro até por volta da meia noite e boate. Meu irmão e eu seguíamos juntos até encontrarmos nossas turmas, e então, adeus.
_ E aí moçada? – Cumprimentei ao encontrar o André, o Jonatan e o Manezinho no lanche. – O Vini não apareceu ainda?
_ Deve tá pra chegar. E aí, comprou o cigarro? – Perguntou o André.
_ Ainda não. Se te der o dinheiro você compra?
_ De novo essa história Leo? Você tem que criar coragem e comprar. Ninguém liga pra idade, só querem vender. – Disse o Jonatan, irritado.
Fiquei quieto, com a cabeça baixa, até que o Manezinho se pronunciou.
_ Daqui Leo. Eu vou.
_ Mas Manezinho, você nem fuma! – Disse, espantado.
_ Não fumo, mas posso comprar. Me dá o dinheiro.
Fiquei um pouco sem graça, mas o fiz, e tempo depois ele volta com o cigarro. Fiquei me sentindo um bosta.
_ Como foi? – Perguntei.
_ Fácil.
E me senti mais bosta ainda.
O Vini chegou e fomos comer lanche, mas o Vini não comia nunca, só nos acompanhava, sempre dizendo que já tinha jantado. Demos um rolê no centro até chegar a hora de ir pra boate. Percebi que o Vini combinava alguma coisa com o André e o Jonatan.
_ Que tá pegando? – Quis saber.
_ O Vini tá sem grana para a boate, e estamos armando um esquema. – Respondeu o André.
_ É. – Disse o Jonatan. – Parece que se você colocar um pouco de álcool nas costas da mão e alguém que já tem o carimbo de entrada colar a mão por cima consegue passar o carimbo.
_ Verdade! Vamos tentar.
O Vini já tinha saído com um pouco de álcool num potinho, então o Manezinho, o André e eu entramos, tendo as mãos carimbadas. Pouco depois o André e o Manezinho saíram com o objetivo de passar o carimbo, e eu fiquei aguardando. Pouco mais de dez minutos depois estavam todos lá, de modo que o Jonatan aproveitou para entrar de graça também, com a promessa de usar o dinheiro da entrada para comprar bebidas para todos nós, e assim descobrimos um jeito de economizar a entrada para beber mais. Só fiquei incomodado por terem chamado o Manezinho para fazer o esquema e não eu...
A boate estava lotada, mal dando para andar. Aos poucos íamos encontrando conhecidos, conversando um pouco e voltando a tentar andar, sempre trombando em outros conhecidos ou paqueras.
_ A Jéssica tá gostosa pra caramba hoje. – Comentei.
_ E se tá! Será que tenho chance? – Quis saber o Jonatan.
_ Desencana. Nenhum de nós tem. Ela só sai com cara mais velho. – Já desanimou o André. E continuamos a andar.
_ Quem pega a próxima rodada? – Perguntou o Vini.
_ Vai você Leo. – Sugeriu o Jonatan.
_ Ok. – Respondi.
Peguei o dinheiro e me dirigi ao bar com o objetivo de comprar três martinis, que dividiríamos. Me coloquei na fila e pouco depois senti me cutucarem o ombro. Olhei.
_ Que você vai comprar?
Era meu irmão e, apesar de saber que eu bebia, era louco pra me pegar no flagra pra poder tirar proveito depois.
_ Um refri. – Disfarcei.
_ Então vou ficar aqui com você. Vou comprar um pra mim também.
“Babaca”, pensei, pois sabia das suas reais intenções. Chegou minha vez na fila e pedi um refrigerante. Dei um sorriso amarelo para ele e sai. Mal dei dois passos para me afastar e dei de cara com o Vini.
_ Pegou as fichas? Vamos pro bar que a galera tá sedenta.
Fiquei sem reação e, ao perceber minha cara, pegou a ficha da minha mão.
_ Porra Leo! Que merda é essa?
_ O babaca do meu irmão colou em mim e ai... – Nem terminei de falar quando o Vini desabafou.
_ Você é muito medroso Leo. Garanto que se pedisse pra você fazer o lance do carimbo você não toparia por medo.
Aquilo bateu forte em mim e, embora tenha pensado em responder, não saia nada da minha boca.
_ Da aqui que eu compro. – Disse o Vini já tirando o dinheiro de mim.

A noite foi passando com todo mundo se divertindo menos eu, que estava quieto e pensativo. Quando o relógio marcou uma e quarenta o Manezinho anunciou:
_ Tô indo galera. Deu meu horário. Vamos Leo?
_ Vou ficar até mais tarde hoje. – Disse quase sem soltar as palavras. Todos olharam para mim.
_ Mas você não tem que chegar às duas horas também? – insistiu o Manezinho.
_ Tenho, mas não vou. Minha mãe não vai nem perceber.
_ Leo, sua mãe sempre acorda, você sabe disso. É melhor você ir. – Disse o André, que não tinha hora para ir embora.
_ Não tenho medo da minha mãe. Não sou medroso. – Disse, fingindo convicção. Todos se espantaram, mas não falaram nada.
O Manezinho foi embora e restaram o André, o Jonatan, o Vini e eu. Meu irmão já não estava mais por lá havia um tempo, e fiquei até acabar a boate por volta das três e meia. Saímos de lá e fomos para frente da igreja comer cachorro-quente. Por volta das quatro e dez o André se despediu.
_ Tô indo nessa pessoal. Tô caindo de sono. Você vai ficar ainda Leo?
Olhei para o Vini, que deu um leve sorriso.
_ Vou sim. Mais um pouco.
_ Bem. Se sua mãe te matar me tira dessa, heim?
_ Já disse que não tenho medo...
Fumamos uns cigarros e pouco depois o Jonatan também foi embora, mas esperei até que o Vini também quisesse ir, já por volta das cinco da manhã.
_ A gente se fala mais tarde.
_ Beleza.
Chegando em casa vejo a luz da sala acesa, e aquilo me apavora. Mal abro o portão e minha mãe já destranca a porta, saindo e me encarando.
_ Onde você estava até uma hora dessas?
_ Ah Mãe! Não enche!
_ O que você disse? Repete se tiver coragem!
Aquela palavra outra vez, coragem. Mas dessa vez o medo foi bem maior e me calei.
_ Quero saber com quem você estava.
_ Com o Vini.
_ É aquele moleque que eu não gosto que mora perto da casa da vó, não é?
_ É, mas...
_ Nada de mas. Nunca fui com a cara dele e não quero você andando mais com ele, entendeu bem?
_ Mas mãe...
_ Já disse e pronto. E você está de castigo. Duas semanas sem sair.
_ Você fala isso dele só porquê ele é podre.
_ Eu sou sua mãe e sei o que é melhor pra você. Aquele menino não presta. Não quero mais você com ele. Agora vai para a cama que amanhã seu pai e eu vamos ter uma conversa séria com você.

Dessa vez obedeci, com os olhos cheios de lágrimas e muito nervoso. O Vini não tinha nada a ver com aquilo. Não era justo ela me proibir de andar com ele. Mas, para minha sorte, aquela noite ela não tinha cheirado minha boca. Do contrário certamente sentiria o cheiro de cigarro.

(Continue a ler em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2014/01/aos-meus-amigos-3-parte-ii.html )

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