(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
Depois da primeira bebedeira
minha mãe adotou a prática de ter que chama-la para abrir a porta depois que
chegávamos de uma balada, cheirando nossa boca para saber se havíamos bebido, o
que conseguia driblar facilmente com a técnica ensinada pelo André de abrir a
boca mas soltar o ar pelas narinas, além, é claro, de uma boa e forte bala na
boca. Dificilmente meu irmão e eu chegávamos juntos, mas ainda assim tínhamos que
chama-la. Minha irmã estava com o casamento marcado e, por isso, ganhara o
direito de dormir na casa do agora noivo, já não sendo mais um problema para
meus pais.
Como meu irmão era mais velho
podia chegar um pouco mais tarde do que eu, mas isso quase nunca acontecia. Meu
horário limite era duas da manhã, e o dele as três. Por se tratar de uma cidade
pequena íamos a pé para todos os lugares de forma que tínhamos bastante
liberdade.
_ Tchau mãe. Estamos saindo. –
Anunciei.
_ juízo heim! Não esquece de me
chamar quando chegarem. Lou cuida do seu irmão.
_ Tá.
Naquela noite iriamos para a
boate. Era a única da cidade e onde todos se encontravam. O roteiro era
basicamente o mesmo: lanche com os amigos, volta no centro até por volta da
meia noite e boate. Meu irmão e eu seguíamos juntos até encontrarmos nossas
turmas, e então, adeus.
_ E aí moçada? – Cumprimentei ao encontrar
o André, o Jonatan e o Manezinho no lanche. – O Vini não apareceu ainda?
_ Deve tá pra chegar. E aí,
comprou o cigarro? – Perguntou o André.
_ Ainda não. Se te der o dinheiro
você compra?
_ De novo essa história Leo? Você
tem que criar coragem e comprar. Ninguém liga pra idade, só querem vender. –
Disse o Jonatan, irritado.
Fiquei quieto, com a cabeça
baixa, até que o Manezinho se pronunciou.
_ Daqui Leo. Eu vou.
_ Mas Manezinho, você nem fuma! –
Disse, espantado.
_ Não fumo, mas posso comprar. Me
dá o dinheiro.
Fiquei um pouco sem graça, mas o
fiz, e tempo depois ele volta com o cigarro. Fiquei me sentindo um bosta.
_ Como foi? – Perguntei.
_ Fácil.
E me senti mais bosta ainda.
O Vini chegou e fomos comer
lanche, mas o Vini não comia nunca, só nos acompanhava, sempre dizendo que já
tinha jantado. Demos um rolê no centro até chegar a hora de ir pra boate.
Percebi que o Vini combinava alguma coisa com o André e o Jonatan.
_ Que tá pegando? – Quis saber.
_ O Vini tá sem grana para a
boate, e estamos armando um esquema. – Respondeu o André.
_ É. – Disse o Jonatan. – Parece que
se você colocar um pouco de álcool nas costas da mão e alguém que já tem o carimbo
de entrada colar a mão por cima consegue passar o carimbo.
_ Verdade! Vamos tentar.
O Vini já tinha saído com um
pouco de álcool num potinho, então o Manezinho, o André e eu entramos, tendo as
mãos carimbadas. Pouco depois o André e o Manezinho saíram com o objetivo de
passar o carimbo, e eu fiquei aguardando. Pouco mais de dez minutos depois
estavam todos lá, de modo que o Jonatan aproveitou para entrar de graça também,
com a promessa de usar o dinheiro da entrada para comprar bebidas para todos
nós, e assim descobrimos um jeito de economizar a entrada para beber mais. Só
fiquei incomodado por terem chamado o Manezinho para fazer o esquema e não
eu...
A boate estava lotada, mal dando
para andar. Aos poucos íamos encontrando conhecidos, conversando um pouco e
voltando a tentar andar, sempre trombando em outros conhecidos ou paqueras.
_ A Jéssica tá gostosa pra
caramba hoje. – Comentei.
_ E se tá! Será que tenho chance?
– Quis saber o Jonatan.
_ Desencana. Nenhum de nós tem.
Ela só sai com cara mais velho. – Já desanimou o André. E continuamos a andar.
_ Quem pega a próxima rodada? –
Perguntou o Vini.
_ Vai você Leo. – Sugeriu o
Jonatan.
_ Ok. – Respondi.
Peguei o dinheiro e me dirigi ao
bar com o objetivo de comprar três martinis, que dividiríamos. Me coloquei na
fila e pouco depois senti me cutucarem o ombro. Olhei.
_ Que você vai comprar?
Era meu irmão e, apesar de saber
que eu bebia, era louco pra me pegar no flagra pra poder tirar proveito depois.
_ Um refri. – Disfarcei.
_ Então vou ficar aqui com você.
Vou comprar um pra mim também.
“Babaca”, pensei, pois sabia das
suas reais intenções. Chegou minha vez na fila e pedi um refrigerante. Dei um
sorriso amarelo para ele e sai. Mal dei dois passos para me afastar e dei de
cara com o Vini.
_ Pegou as fichas? Vamos pro bar
que a galera tá sedenta.
Fiquei sem reação e, ao perceber
minha cara, pegou a ficha da minha mão.
_ Porra Leo! Que merda é essa?
_ O babaca do meu irmão colou em
mim e ai... – Nem terminei de falar quando o Vini desabafou.
_ Você é muito medroso Leo.
Garanto que se pedisse pra você fazer o lance do carimbo você não toparia por
medo.
Aquilo bateu forte em mim e,
embora tenha pensado em responder, não saia nada da minha boca.
_ Da aqui que eu compro. – Disse o
Vini já tirando o dinheiro de mim.
A noite foi passando com todo
mundo se divertindo menos eu, que estava quieto e pensativo. Quando o relógio
marcou uma e quarenta o Manezinho anunciou:
_ Tô indo galera. Deu meu
horário. Vamos Leo?
_ Vou ficar até mais tarde hoje. –
Disse quase sem soltar as palavras. Todos olharam para mim.
_ Mas você não tem que chegar às
duas horas também? – insistiu o Manezinho.
_ Tenho, mas não vou. Minha mãe
não vai nem perceber.
_ Leo, sua mãe sempre acorda,
você sabe disso. É melhor você ir. – Disse o André, que não tinha hora para ir
embora.
_ Não tenho medo da minha mãe.
Não sou medroso. – Disse, fingindo convicção. Todos se espantaram, mas não
falaram nada.
O Manezinho foi embora e restaram
o André, o Jonatan, o Vini e eu. Meu irmão já não estava mais por lá havia um
tempo, e fiquei até acabar a boate por volta das três e meia. Saímos de lá e
fomos para frente da igreja comer cachorro-quente. Por volta das quatro e dez o
André se despediu.
_ Tô indo nessa pessoal. Tô
caindo de sono. Você vai ficar ainda Leo?
Olhei para o Vini, que deu um
leve sorriso.
_ Vou sim. Mais um pouco.
_ Bem. Se sua mãe te matar me
tira dessa, heim?
_ Já disse que não tenho medo...
Fumamos uns cigarros e pouco
depois o Jonatan também foi embora, mas esperei até que o Vini também quisesse
ir, já por volta das cinco da manhã.
_ A gente se fala mais tarde.
_ Beleza.
Chegando em casa vejo a luz da
sala acesa, e aquilo me apavora. Mal abro o portão e minha mãe já destranca a
porta, saindo e me encarando.
_ Onde você estava até uma hora
dessas?
_ Ah Mãe! Não enche!
_ O que você disse? Repete se
tiver coragem!
Aquela palavra outra vez, coragem.
Mas dessa vez o medo foi bem maior e me calei.
_ Quero saber com quem você
estava.
_ Com o Vini.
_ É aquele moleque que eu não
gosto que mora perto da casa da vó, não é?
_ É, mas...
_ Nada de mas. Nunca fui com a
cara dele e não quero você andando mais com ele, entendeu bem?
_ Mas mãe...
_ Já disse e pronto. E você está
de castigo. Duas semanas sem sair.
_ Você fala isso dele só porquê
ele é podre.
_ Eu sou sua mãe e sei o que é
melhor pra você. Aquele menino não presta. Não quero mais você com ele. Agora
vai para a cama que amanhã seu pai e eu vamos ter uma conversa séria com você.
Dessa vez obedeci, com os olhos
cheios de lágrimas e muito nervoso. O Vini não tinha nada a ver com aquilo. Não
era justo ela me proibir de andar com ele. Mas, para minha sorte, aquela noite
ela não tinha cheirado minha boca. Do contrário certamente sentiria o cheiro de
cigarro.
(Continue a ler em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2014/01/aos-meus-amigos-3-parte-ii.html )
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