sexta-feira, 2 de maio de 2014

Aos Meus Amigos - 12 (Parte II)

O natal seria um tanto chato por ser o primeiro sem a vó Cotinha. Como sempre, era na casa dela que passávamos o natal, e o vô Tonico estava bem abatido. Meu pai tentou fazer a farra de sempre levando as crianças para a rua dizendo que o Papai Noel chegaria, enquanto os outros colocavam os presentes embaixo da árvore, mas as crianças de agora não eram como da nossa época.
_ Para de enganar a gente, tio Chico! – Dizia um.
_ Papai Noel não existe! – Dizia outro.
_ Quem disse isso pra vocês? Claro que existe, pergunta pro Leo!
E a molecada saia de perto, descrente.
_ Deixa pai. Eles não sabem o que estão perdendo.
E voltamos para dentro, com meu pai desanimado e as crianças abrindo seus presentes sem o mesmo encanto de antes.
Jantamos, esperamos meia-noite, estouramos espumantes e todos se abraçaram, desejando Feliz Natal. Logo começaria o amigo secreto, e enquanto isso, enchíamos nossos copos com o espumante e bebíamos com todo mundo. Natal e Ano Novo eram os únicos momentos que nos deixavam beber um pouco.
_ Vão com calmo ai molecada! – Chamava minha mãe à atenção.
_ Tá mãe. – Respondia. – Pega mais uma garrafa lá Manezinho. – Dizia logo em seguida, disfarçando.
Naquela altura o Ivan, sobrinho do André, já estava maior e grudava na gente. O deixávamos ficar com uma condição:
_ Se contar pra alguém que estamos pegando outra garrafa você tá ferrado!
Ele concordava e ainda procurava nos acobertar. Pelo jeito logo seria um bom companheiro.
No amigo secreto a troca de presentes mais virava uma esculhambação do que troca de presentes entre “amigos”:
_ O meu amigo secreto uma vez cagou na calça tentando peidar. É você Francisco!
_ O que é isso Mané? Uma cueca nova?
_ Claro! Vai que você caga nas calças de novo!
_ Hahahahahahaha...
E seguia:
_ O presente que comprei pro meu amigo secreto vai ser muito útil. É você Roberto. Abre aí.
_ Sacanagem Rodolfo. Um pacote de fraldas? Era presente pra mim ou pro cagão do meu filho?
_ Hahahahahahaha...
E a coisa continuava:
_ O meu amigo secreto na verdade é irmão secreto. Isso mesmo, tirei o Lourenço. O duro é que o presente que comprei acho que ele nunca vai usar.
_ Abre aí Lourenço, mostra pra gente. Camisinha? Hahaha!
_ Babaca!
Depois do amigo secreto cada um se juntava pra fazer o que gostava: jogar baralho; conversar; arrumar a cozinha; dormir... Dissemos para nossos pais que só daríamos uma volta e logo retornaríamos, uma vez que havíamos combinado passar o natal inteiro com eles para ficar até o amanhecer no Ano Novo. Nos deram só meia hora. E o quarteto foi dar sua volta.
_ João, a gente vai fumar um cigarro. Tudo bem? – Já abriu o jogo o André.
_ Sem problemas. Mas você não fuma não, né Manezinho?
_ Pode ficar tranquilo que não.
Caminhávamos sem rumo, mas sem se afastar muito, fumando e conversando. O João sairia conosco na noite da virada, mas tinha combinado com outra turma depois disso.
_ Ano passado fui na avenida do bairro, e foi muito massa. – Disse ele.
_ Será que o Leo perde a virgindade? – Cutucou o Manezinho, que também já tinha transado.
_ Vai se foder Manezinho!
_ Esquenta não Leo. Já disse que vou arrumar uma garota pra você. – Disse o André.
Fumamos mais um cigarro e matamos a garrafa de espumante que havíamos levado escondido. Chicletes na boca e voltamos para casa do vô Tonico. Por volta das quatro da manhã, depois de mais algumas voltas daquela, fomos embora com nossos pais. O Ano Novo se aproximava.

Os dias que antecederam o Ano Novo foram bem legais. Como estávamos de férias reuníamos a turma todos os dias, jogando bola, bétia, andando de bicicleta e tudo mais. À noite sempre íamos ao bar do Pescocinho jogar bilhar ou fliperama, mas, conforme o combinado com meus pais, não poderia ficar até muito tarde. Estávamos evitando tomar só cerveja, pois, além de ser mais caro, tínhamos que guardar dinheiro para a grande noite da virada, então apelávamos para a porradinha ou conhaque com refrigerante. Até o cigarro estávamos dividindo para economizar. O plano era comprarmos algumas cervejas e uma garrafa de uísque importado. Colocaríamos tudo numa caixa de isopor e escolheríamos um lugar bem movimentado e cheio de gatinhas.
_ E o uísque Jonatan? Já foi atrás né? – Perguntou o André.
_ Já sim. O cara da loja de importados garantiu que arruma num preço mais em conta.
_ Maravilha. E tá fazendo o gelo no frízer da sua casa Leo?
_ Tudo certo. Meus pais nem repararam. Vai ter gelo suficiente.
_ Cara! Vai ser demais! – Disse o Cleber só de imaginar.
_ Tá chegando, molecada! Tá chegando! – Falou o Manezinho, dando um tacada.
E o dia finalmente chegou...

_ Cinco! Quatro! Três! Dois! Ummmm...!!! Feliz Ano Novo!!!
Todo mundo se abraçou, agora na casa da tia Josefa.
_ Cadê o bom princípio de ano novo, tio Mané?
_ Ah! Vá catar coquinho na descida vai Leo! Olha o seu tamanho.
E saia dando risada para encher novamente o copo com espumante. Estaríamos livres em meia hora. O Jonatan já havia levado a caixa térmica com as cervejas e o uísque em casa, de modo que a enchemos de gelo e a mantivemos escondida no fundo de casa, coberta com caixas e tapetes. O ponto de encontro seria lá, por ser mais perto da avenida do bairro.
_ Mãe, já deu a hora. Estamos indo.
_ O Lourenço vai subir com vocês. É pra irem juntos até lá, entendeu?
Que saco! Teríamos que despistá-lo no caminho.
Nos despedimos de todos, dei um beijo no vô Tonico e saímos. Meu irmão junto.
_ Que bosta, Leo. Achei que poderia acender um cigarro, mas com seu irmão aí não rola. – Reclamou o André.
_ Nem me fale.
Chegando na esquina recebemos a boa notícia:
_ Falou babacas. Nem a pau vou com vocês até lá. Tô indo no Borges. – E seguiu em direção oposta à nossa.
_ Hahaha! Já me dá um cigarro também. – Disse ao André, sorrindo.
Chegando em casa o Jonatan já estava lá com o Cleber. Pouco depois chegaram o Mário e o Hugo.
_ Galera, é só pegar as coisas e sair, heim? Nada de beber aqui para os meus pais não desconfiarem.
_ Certeza! Não vejo a hora de chegar na avenida. – Já retrucou o Cleber.
Mais cigarros e seguimos as poucas quadras em direção à avenida do bairro, revezando quem levava a caixa térmica, que estava bem pesada.
_ Deixa que eu ajudo. – Brincava o Hugo tirando uma latinha de cerveja de dentro.
_ Passa uma pra cá que eu ajudo também. – Aproveitava o João.
E assim seguíamos, bebendo e fumando.
A avenida estava lotada: carros, gente, sons, bebidas... A galera estava ensandecida. Reparamos que a rua estava repleta de cacos de vidro e então percebemos que a maioria das pessoas, conforme terminavam de beber algo em garrafa de vidro, a espatifava contra o asfalto.
_ Que massa! Vamos achar logo um lugar cheio de gatas. – Disse o Mário. E assim fizemos.
O local escolhido foi entre dois carros com som ligado e estava cheio de garotas. Algumas conhecíamos da balada e outras não, e sabíamos que dificilmente pegaríamos alguma delas, mas o fluxo de gente por ali estava muito legal, de modo que a chance de pegarmos alguém seria grande.
_ Galera, vou dar um oi ali para minha turma. – Disse o João.
_ Mas agora que vamos abrir o uísque? – Falou o Manezinho.
_ Podem beber. Qualquer coisa bebo depois.
_ Isso se sobrar. – Soltou o André.
Ele nem respondeu e saiu. E percebemos que começávamos a perder o João.
_ Bem, vamos ao que interessa. – Disse o Jonatan abrindo a garrafa.
Enchemos nossos copos. Aquela noite não podia ter fim.
Bebidas rolando, cigarros sendo acesos, escondendo-os vez ou outra quando passava algum conhecido que não sabia que eu fumava e a noite rolava. Conversávamos com todo mundo um pouco, e em vários momentos arriscávamos umas cantadas sem sucesso.
_ Hoje a noite não pode passar em branco. – Dizia o André a cada cantada falha.
_ E se passar? – Perguntou o Mário.
_ Não passa. Qualquer coisa eu apelo. – E apontava para uma roda de garotas que tinham fama de serem fáceis e que ele e o Jonatan já haviam pegado. – Inclusive se quiser hoje mesmo você perde o cabaço Leo. É só falar.
Fiquei quieto, pois não sabia se queria daquela forma.
Um tempo depois vejo meu irmão passar por nós. Algo estava errado.
_ Leo, parece que seu irmão está meio chapado? – Reparou o Hugo.
De fato ele não estava normal: todo molhado, mexia com tudo e com todos, enquanto o Borges e outros amigos o acompanhavam e davam risada. Percebi o Borges cutuca-lo e apontar para mim, e ele veio, com um sorriso no rosto que nunca tinha visto.
_ Meu irmão! – E me abraçou forte. Parecia que ia quebrar minhas costelas. Me contorci para escapar.
_ Caralho Lou! O que você bebeu?
_ Só um pouquinho de rum. – Disse, enroscando todas as palavras.
_ Hahaha! Dá um gole aí então. – Falei, oferecendo meu copo de uísque. Ele virou tudo sem nem sentir.
_ Vamos Lourenço. Tem umas gatinhas ali. – Foi puxando um dos amigos dele, acho que era irmão do Borges.
_ Gatinhas? Opa! É pra lá que vamos então. – E saíram.
Achei muito massa aquilo. Parecia que ele finalmente tinha ganhado vida.
A noite foi seguindo: o Cleber, pra variar, ficou chapado demais; o João não voltou; o Manezinho saiu com uma garota que estava de rolo; o Jonatan e o André chavecavam umas meninas e o Mário, o Hugo e eu bebíamos e conversávamos. O dia estava quase para amanhecer quando o André me chamou:
_ Leo, pra mim não rolou nada e o Jonatan tá indo embora. Vou apelar. Quer ir junto?
Fiquei sem saber o que fazer.
_ Vai lá Leo. – Incentivou o Hugo.
_ Aproveita. Pelo menos você come alguém. – Ajudou o Mário.
_ E vocês? Combinamos de ficar juntos.
_ Não esquenta não. A gente vai levar o Cleber embora.
_ É. Deixa que a gente leva a caixa também. Tá bem mais leve agora.
“Os caras são foda”, pensei, e fui junto com o André. Senti que minhas pernas tremiam.
_ Leo, essas são a Daiane e a Sara. A gente vai dar uma volta. A Daiane quer te conhecer melhor. Vamos?
As duas não eram bonitas, mas, nas palavras do André, era hora de apelar, e conhecendo o André eu sabia no eu aquilo ia dar.
_ Opa! Prazer. Vamos sim.
O André foi seguindo mais à frente com a Sara, falando coisas que a faziam rir embora eu não ouvisse o que eram. Eu estava calado.
_ Então você é primo do André? – Perguntou a Daiane.
_ É. – Foi o máximo que saiu.
_ Você é meio quieto, mas é uma gracinha.
_ Valeu.
Andamos mais um pouco. O André fez um sinal e se afastou mais, virando um quarteirão.
_ Parece que agora estamos sozinhos. – Disse a Daiane. Não soube o que dizer. – Vem cá, vem. – E me puxou.
Ela começou a me beijar e a passar a mão no meu pau por cima da calça. Fiquei duro na hora.
_ Vem comigo, vem. – E começou a me arrastar para uma construção.
Entramos e ela começou a me beijar novamente, já desabotoando a minha calça.
_ Vamos brincar um pouquinho. – E foi tirando a blusa, mostrando os seios. Eu estava muito nervoso, mas comecei a beijá-los.
_ Delícia! Ui! Delícia! Espera aí. – E tirou a calcinha, ficando apenas de saia. – Tira a camisa. – Ordenou.
Tirei a camisa e ela a estendeu sobre um balcão de concreto, deitando sobre ele.
_ Põe a camisinha e vem.
Peguei a camisinha que sempre levava na carteira, abrindo-a, e comecei a coloca-la, me demorando.
_ Vem logo, vem!
E nada.
_ O que está acontecendo?
_ Não consigo colocar.
_ Como assim? Espera que te ajudo. - E se levantou. – Porra! Assim você não vai conseguir mesmo. Que droga! – E começou a se vestir.
Eu estava com o pinto completamente murcho. Nada o faria subir naquela hora. Minha primeira vez e eu havia brochado.
_ Vai, coloca a roupa e vamos embora.

Olhei para fora e o dia estava amanhecendo. Havia perdido meu primeiro pôr-do-sol no ano novo. E havia perdido minha primeira transa...

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