sexta-feira, 16 de maio de 2014

Aos Meus Amigos - 13 (Parte II)

(Não leu desde o inicio: então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)


Os primeiros dias do ano foram passando. Claro que eu não havia contado que tinha brochado, inventando uma história de como tinha sido massa.
Enquanto as férias permaneceram continuamos a sair, beber e nos divertir, com exceção do Manezinho, que tinha começado a namorar e se afastado um pouco, mas logo as férias terminaram e voltamos às nossas rotinas de aulas, reunindo a turmas só aos fins de semana mesmo.
O resultado do vestibular do Lourenço saiu, e ele tinha passado numa universidade de uma cidade de grande porte em outro estado. Era bem longe da nossa cidade, e isso apavorava meus pais. Ele, por outro lado, estava com a cabeça raspada e parecia outra pessoa de tão animado.
_ Não precisa se preocupar pai. Eu sei me virar.
_ Não é isso Lou. É uma cidade bem maior que a nossa. A gente fica preocupado.
Percebia que minha mãe às vezes chorava escondido. Apesar de tentar não demostrar, era evidente o pânico que ela estava por se separar do filho, ainda mais que não sabíamos onde o Lourenço ficaria. A solução encontrada foi pegarmos um fim de semana anterior ao começo das aulas e irmos até lá, todos nós, procurando alguma pensão para que ele ficasse. Caso fosse necessário, minha mãe passaria uma semana com ele para adaptação, o que ele não queria de jeito nenhum.
_ Amanhã cedo saímos. – Disse meu pai numa sexta à tarde. – Um cliente do trabalho conhece a cidade e me passou alguns contatos.
_ Mas vou poder sair hoje, né pai? – Era a minha preocupação.
_ Se prometer não voltar tarde pode sim. – Respondeu minha mãe.
_ Quer ir junto Lou? – Pela primeira vez convidei.
_ Não. Vou sair com o Borges e a turma para me despedir.
Realmente, ele não parecia a mesma pessoa. A farra do ano novo e a notícia do vestibular o haviam transformado completamente. Pena que isso tinha ocorrido justo quando ele iria embora.

Encontrei com a turma no bar do Pescocinho. Só o Manezinho não estava.
_ Vai conhecer a cidade do seu irmão então, Leo? – Puxou assunto o Hugo.
_ Pois é. Parece que é uma cidade bem legal. Vamos até no shopping.
_ Volta amanhã mesmo? – Perguntou o André.
_ Não sei. Depende se vamos encontrar um lugar pro meu irmão ficar.
_ O negócio é república. Fala pra ele procurar uma república. – Era a sugestão do Jonatan.
E umas partidas de bilhar, cervejas e cigarros depois e tive que ir embora.

Saímos antes das seis da manhã, esperando chegar lá por volta das dez.
_ Pegou tudo Lou? Não esqueceu nada? – Minha mãe perguntava.
_ Peguei mãe.
_ E você, Marilda? Tá preparado para o caso de ficar lá? – Agora era a vez do meu pai perguntar.
_ Tudo sim. Ai! Não acredito que o Lou já está saindo de casa... – E encheu os olhos de lágrimas.
_ Mãe! Não faz drama! Você sabia que isso ia acontecer. – Disse meu irmão, já meio de saco cheio dos choramingos dela.
_ Então vamos. – Apressou meu pai.
A estrada estava calma. No rádio baixo, tocava música sertaneja antiga. No carro, todos quietos. Vez ou outra minha mãe puxava assunto com meu pai, num tom que imaginava que meu irmão e eu não ouviríamos.
_ E se ele não se adaptar Francisco? Nunca saiu de casa assim.
_ Fica calma Marilda. Está na hora dele começar a viver a própria vida. E qualquer coisa daremos todo apoio.
_ Mas é tão longe. Acho que, mesmo que encontremos uma boa pensão, vou ficar com ele um tempo.
_ NÃO VAI NÃO, MÃE!!!
_ Você estava ouvindo, Lou?
Eu dava pequenas risadas, disfarçando.
_ Lou? – Puxei assunto, pouco depois. – Você vai procurar uma república depois né?
_ Certeza. Tentei convencê-los disso já pra agora, mas vi que não conseguiria.
_ E como você tá? Nervoso?
_ Que nada. Não via a hora de sair de casa.
_ Vou te visitar sempre.
_ Ah tá! Não vou querer ninguém me enchendo o saco não.
“Babaca”, pensei. E eu achando que ele estava mais legal. Virei para o lado e procurei uma posição para um cochilo. Apesar de ser ruim no carro, logo consegui. Ainda faltavam algumas horas para chegar.

Depois de uma parada num posto para banheiro e esticar o corpo, chegamos duas horas depois. A cidade já se mostrava ao longe, com seus prédios e tamanho. Realmente era grande.
_ Nós vamos no shopping primeiro, né pai? – Queria saber.
_ Ainda não, Leo. Vamos procurar as pensões que me indicaram primeiro e depois a gente vai lá pra almoçar.
_ Hummm! Tá!
Rodamos a cidade seguindo placar que identificavam os bairros. O trânsito era um tanto chato, muito diferente da nossa cidade: muitos carros, semáforos, gente. Para chegar à primeira pensão meu pai precisou pedir informação duas vezes em postos de gasolina.
_ Chegamos. Vamos conhecer. Parece bom, não Marilda?
_ É. Parece... – E não conseguiu falar mais nada.
Era um casarão grande e antigo, mas bem cuidado. A dona do local foi explicando as regras de funcionamento:
_ Nós acordamos todos os hóspedes às seis da manhã para o café da manhã, mesmo que alguns deles não estudem nesse período. Assim, quem tem que ir para a faculdade vai e quem não tem aproveita para estudar...
Meu irmão já fez uma cara de ódio.
_ Almoço é em dois horários para atender aos períodos de aula, assim como o jantar, e ninguém entra na pensão depois da meia noite...
E a amostragem e explicações continuaram, até que meus pais pediram para ficarmos do lado de fora para combinarem preços.
_ Tá fodido se ficar aqui, heim?
_ Nem a pau que fico. De jeito nenhum.
_ E se a mãe exigir?
_ Já falei. Não fico!
Logo eles saíram. Percebi no rosto do meu pai que ele não estava feliz. Minha mãe quieta. Entramos no carro para procurar a segunda indicação. Eram três. Ouvi minha mãe dizer baixo:
_ É cara, mas é segura. É nosso filho, Francisco!
_ Vamos ver as outras, Marilda. Depois conversamos.
Senti certo alívio em meu irmão.
Para chegar à segunda pensão meu pai já foi melhor, estava se acostumando com o trânsito da cidade. Era um sobrado bem comprido, e tinha uns jovens na frente. Ao descermos do carro já ouvimos:
_ Olha lá! Bicho novo. Tá fodido, hahahaha!
Minha mãe já olhou para o meu pai e voltou para o carro. Meu pai nem discutiu, só dando uma olhada para os moleques, fuzilando-os com os olhos, e fez sinal para entrarmos. Obedecemos. Não falaram nada o caminho todo.
A terceira e última pensão não era muito longe dali, e era uma casa bem simples. Descemos do carro e minha mãe foi tocando a campainha enquanto meu pai trancava o carro. Um senhor pouco mais velho que meu pai saiu.
_ Aqui é uma pensão para estudantes? O endereço é esse. – Perguntou minha mãe.
_ É sim. Vamos entrando.
O senhor se mostrou simpático, apresentando sua esposa, que estava numa sala com mais dois jovens.
_ Aqui somos como uma família. – Disse a mulher depois das apresentações. – São no máximo seis hóspedes no total, dois em cada quarto, e estamos com duas camas vazias. Venham, vou mostrar a casa. Não é grande, mas é confortável. Se os meninos quiserem ficar para se enturmarem podem tirar dúvidas com nossos meninos. Estes são Miguel e Nelson. – E saíram.
_ E aí? Que curso vai fazer? – Perguntou ao meu irmão o Miguel.
_ Computação. E vocês, o que fazem?
_ Eu engenharia elétrica e o Nelson direito.
_ Caramba? – Me interessei. – Quantos cursos têm aqui?
_ Só na federal tem doze. – Respondeu o Nelson. – Mas tem as faculdades particulares também.
“Caramba”, pensei. Era bem maior que a faculdade que conhecemos com o João.
_ E tem muita festa? – Perguntei novamente.
_ Festa é o que não falta. – Respondeu sorrindo o Miguel.
_ Com certeza vou vir te visitar. – Falei para o meu irmão. Ele só deu uma risada, dessa vez não de um jeito babaca.
Pouco depois meus pais voltaram, e percebia certa alegria no rosto dos dois.
_ Vamos comer, molecada? – Perguntou meu pai.
_ E aí? É aqui que vou ficar? – Quis saber meu irmão.
Meu pai olhou para minha mãe e foi ela quem respondeu:
_ No almoço a gente conversa. Vamos?
E saímos em direção ao tão esperado shopping.
_ Lou, o que achou dessa última pensão? – Perguntou meu pai.
_ Preferia uma república.
_ Você sabe que não vai morar em república. – Disse minha mãe. – Gostou ou não gostou?
_ Com certeza foi a mais legal.
_ Certo. Nós gostamos também, mas vamos nos decidir até depois do almoço. Sua mãe e eu temos muito que conversar.
O shopping era enorme, e logo que entramos fomos procurar a praça de alimentação. Comemos lanches de uma rede de fast-food e depois fomos dar uma volta. Meu irmão e eu nos separamos dos nossos pais depois de marcarmos uma hora e ponto de encontro.
_ Vamos o fliperama? – Perguntei.
_ Certeza.
A área de jogos eletrônicos era muito legal: muitas máquinas que nunca tínhamos visto e torramos nosso dinheiro ali. Certamente não chegaria a tempo de sair com a turma mesmo.
_ E aí Lou? Como tá agora sabendo que vai ficar?
_ Empolgado, mas é estranho. Agora que a ficha tá caindo.
_ Imagino. Mas a cidade é bem massa. Olha só esse shopping! Fora os caras falando das festas.
_ É. Vai ser massa... – Respondeu ele, um pouco vago e com o olhar fixo em algum ponto que não identifiquei.
Ficamos o resto do tempo ali, sem muitas palavras, nos divertindo.

_ Lou, já colocou suas coisas no quarto? – Perguntou meu pai.
_ Já sim.
Depois de a minha mãe tentar convencer inutilmente meu irmão e meu pai de que deveria ficar uns dias com meu irmão, começamos a nos despedir. Minha mãe chorava muito, e meu irmão já não a criticava, aceitando seus carinhos e abraços. Meu pai estava quieto, mais do que o normal, e essa era a sua forma de demostrar a tristeza por se separar do filho. Eu também estava estranho, pois sabia que agora o veria muito pouco, e isso não era tão legal como eu achava.
_ Falou, babaca. – Disse a ele, tentando quebrar um pouco a tristeza.
_ Falou, otário. – Respondeu ele, dando um forte tapa na minha mão. – E Leo? Venha me visitar, ok?
Abri um largo sorriso e concordei com a cabeça.

Entramos no carro e saímos. Vimos que meu irmão não entrou até que o carro não virou a esquina. A volta toda foi bem quieta, com alguns choros baixos da minha mãe.

(Continue a ler em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2014/06/aos-meus-amigos-14-parte-ii.html )

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