sexta-feira, 13 de junho de 2014

Aos Meus Amigos - 14 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Aproveite então em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)


Não demorou muito para meu irmão nos visitar, já que as aulas iniciaram pouco antes do carnaval. Assim como o ano novo, aquele seria o primeiro carnaval que poderíamos ficar até o fim, sem limites de horários, desde que não aprontássemos. Quatro dias de festa e folia no clube do centro, de modo que certamente seria bem legal.
O carnaval no clube do centro era bem tradicional e sempre vinha muita gente de fora. Minhas primas por parte de pai, Rosana e Maria, viriam e combinávamos por carta como seria massa.
_ Vou chegar na sua prima, Leo. – Dizia o Cleber.
_ Em qual delas? Quero só ver. – Duvidei.
_ Em qual der mole, hehehehe.
_ Chega em uma que eu chego na outra. – Já se meteu na conversa o Mário.
_ Bem que sua prima Michele podia vir também, né? – Era o interesse do Hugo.
As noites no clube seriam de sábado a quarta. Na sexta chegariam meu irmão e minhas primas, e geralmente todo mundo se reunia em frente ao clube, onde as ruas eram fechadas e muitas barracas ficavam vendendo de bebidas a comidas. A tradicional barraca da canja já estava lá também pra aliviar a bebedeira e a fome da madrugada. Combinamos de nos encontrar todos lá, uma vez que minhas primas ficariam na casa dos meus avós e meu irmão iria primeiro na casa do Borges. Passei na casa do Hugo e aos poucos a turma foi chegando: Mário, Cleber, André e Jonatan. O Manezinho se afastava cada vez mais por conta da namorada, e não sabíamos se realmente iria ao carnaval.
_ Bebidas? – Já foi sugerindo o Cleber.
_ Certeza. – Concordamos todos.
Bebidas e cigarros e logo vimos meu irmão com o Borges e amigos.
_ E aí babaca, nada da Rosana e da Maria ainda? – Perguntou ele.
_ Nada.
_ Então depois volto. Falou. – E saiu. Ele estava bem melhor. De outras vezes nem chegaria para falar comigo.
Pouco depois vejo minhas primas, e a molecada já foi ficando louca.
_ Acho que vou chegar na Maria. Ela está mais gata. – Disse o Mário.
Nos cumprimentamos e as apresentei à turma, que logo foram se enturmando. Sugeri bebidas e elas toparam. Ficamos trocando ideias e vendo o movimento. O Jonatan acendeu um cigarro, e eu pensei em dar uma tragada, mas achei melhor não por causa delas, mas a Maria me surpreendeu:
_ Tem um desses pra mim?
_ Claro! – Respondeu o Jonatan, lhe entregando um cigarro e acendendo para ela.
_ Passa um pra mim também. – Já aproveitei, me sentindo mais a vontade.
_ Você também, Leo? – Disse a Rosana, com certo ar de crítica. Fiquei sem graça.
_ Ah, Rô! É carnaval!
_ Tá, fazer o que. Não acho legal, mas vocês quem sabem. Já cansei de falar pra Maria, mas ela não me ouve. Acho que vai ser assim com você também...
Fiquei mais aliviado. Dei um abraço e um beijo nela. Mais bebidas.
Meu irmão chegou e apresentou a turma dele a todos, até aos meus amigos, o que comprovava a mudança de fato. Além do Borges estavam também o Fofo, um rapaz bem gordo e bem peludo, e o Fábio, irmão do Borges. Ficamos todos numa grande turma, e estava bem legal.
Vi uma movimentação estranha entre o André, o Jonatan e o Cleber. Estavam tramando alguma coisa sem que o Hugo, o Mário e eu percebêssemos. Me aproximei:
_ Que tá pegando? Vocês estão escondendo algo.
_ Se quiser ver o que é vem com a gente. Mas não pode falar nada. – Disse o André.
_ Mas minhas primas estão aí, e meu irmão acabou de chegar!
_ Estamos indo. Voltamos logo. Inventa uma desculpa.
Fiquei sem saber o que fazer, mas não podia perder o que era. Disse que iria ao banheiro e me afastei, encontrando os moleques mais à frente.
Andamos umas três quadras nos afastando do movimento sem que eles dissessem nada, apesar da minha insistência.
_ Calma Leo. Você já vai ver. – Dizia o André.
Quando tiveram a garantia de que ninguém se aproximava numa rua quase deserta eles se fecharam numa roda atrás de um carro, e me coloquei entre eles.
_ Acaba com o mistério logo, porra!
_ Bem, Leo, é isso aqui, e se quiser vai ter que entrar no racha. – Falou o Jonatan, mostrando um frasco que tirou de dentro da calça, escondido.
_ Que isso? – Perguntei, vendo o frasco, com uma válvula verde e comprido.
_ Lança-perfume. – Respondeu o Cleber.
_ Caramba! Onde conseguiram?
_ O Jonatan conseguiu com o Silvinho. – Disse o André. – E aí? Vai entrar no racha?
_ Cara, não sei! Ouvi dizer que é muito louco, mas tenho medo. Se nos pegarem com isso estamos ferrados.
_ Faz o seguinte: experimenta primeiro. – Sugeriu o Cleber. - Se depois disso não quiser, ok. Mas acho que isso não vai acontecer.
_ Vocês já experimentaram? É bom mesmo?
Ficaram quietos e só sorriram, com caras de algo incrível.
_ Mas e se eu ficar muito louco?
_ O efeito é rápido. Passa num instante. – Falou o Jonatan. – Vai, se prepara.
Ele ergueu a própria camiseta, espirrou um pouco nela e disse apressando:
_ Vai Leo! Puxa com a boca!
Meio que sem pensar coloquei a boca no local espirrado e comecei a puxar. Era gelado, e logo começou a dar uma tontura gostosa. Na cabeça a impressão que dava era um barulho tipo sirene:
UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU...
Os sentidos foram à mil. O mundo parecia mágico e as luzes e tudo à volta eram incríveis. Tudo estava feliz, e não existiam problemas. Pouco depois a realidade foi retornando. O som sumiu, as luzes sumiram, a magia sumiu.
_ Caralho! Quero mais!
_ Hehehe! Sabia que ia gostar. – Falou o Cleber.
_ Vai, mais uma rodada cada e vamos voltar. Tá no racha então, Leo? – Perguntou o André.
_ Certeza! – Respondi sem pestanejar.
Mais uma rodada, mais uma volta à realidade, cigarros acesos e retornamos à turma. Chegando lá todos haviam notado nossa ausência, perguntando onde estávamos. Para o Hugo e o Mário dissemos que fomos fumar escondido, já que meu irmão estava ali, e para as primas e o Lou que a fila do banheiro estava grande. Não tivemos problemas.
A noite foi desenrolando. O tempo todo algumas pessoas da turma se afastavam por algum motivo, ou para comprar algo, ou para cumprimentar alguém, ou mesmo ir ao banheiro ou fumar. Nessas horas aproveitávamos para nossas rodadas de lança-perfume, que foi esvaziando rapidamente.
_ Caramba! Esse já ta no fim. Acho que vamos precisar de um por noite. – Comentou o André.
_ É caro? – Perguntei.
_ Não muito. – Falou o Jonatan, dizendo quanto tinha pagado.
_ Estamos em quatro. E se cada um comprar um? – Sugeriu o Cleber. – Aí cada noite um fica responsável por levar.
_ É uma boa ideias. – Concordou o André, tendo a aceitação também do Jonatan.
_ Mas onde vocês o escondem em casa? E pra entrar com ele no clube? – Eram minhas dúvidas.
_ Você não guarda cigarro atrás da gaveta de meia? – Disse o André. – É só colocar no mesmo lugar.
_ E pra entrar é tranquilo. Meu primo que faz a revista dos homens na entrada, e ele também curte lança. Não teremos problemas. – Completou o Jonatan.
E então topamos o plano, de modo que o Jonatan falaria com o Silvinho e nos reuniríamos a tarde para as compras. Eu estava com certo medo ao mesmo tempo que empolgado. Voltamos ao local da turma, e o Hugo me puxou:
_ Onde vocês vão a toda hora, Leo? Fiquei reparando que são sempre os mesmos que saem juntos. Que tá pegando? Não confia mais em mim?
_ Relaxa, Hugo. Vai em casa amanhã antes de sairmos que te explico certinho. Mas não fala nada pro Mário não.
_ Sabia que estavam escondendo algo. Fala o que é.
_ Amanhã. Fica calmo que amanhã te mostro.
E ficamos todos na praça, bebendo e conversando. Minhas primas tinham se enturmado bem com meus amigos e a turma do meu irmão era bem legal. O Fofo bebia mais do que qualquer um de nós, e o Borges e o Fábio viviam falando de quadrinhos, e eram histórias bem legais. O Mário estava nos altos papos com a Maria, enquanto a Rosana conversava mais com meu irmão.
Já tarde da madrugada combinamos todos de comer a famosa canja e irmos embora, já que as próximas quatro noites prometiam ser bem agitadas, tanto pelo grande movimento que havia naquela sexta como pela empolgação que estávamos pelo lança-perfume.

A noite teria churrasco em casa para reunir a família, e de lá iriamos para o clube. O carnaval estava apenas começando...

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