(Não leu desde o inicio? Aproveite então em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)
Não demorou muito para meu irmão
nos visitar, já que as aulas iniciaram pouco antes do carnaval. Assim como o
ano novo, aquele seria o primeiro carnaval que poderíamos ficar até o fim, sem limites
de horários, desde que não aprontássemos. Quatro dias de festa e folia no clube
do centro, de modo que certamente seria bem legal.
O carnaval no clube do centro era
bem tradicional e sempre vinha muita gente de fora. Minhas primas por parte de
pai, Rosana e Maria, viriam e combinávamos por carta como seria massa.
_ Vou chegar na sua prima, Leo. –
Dizia o Cleber.
_ Em qual delas? Quero só ver. – Duvidei.
_ Em qual der mole, hehehehe.
_ Chega em uma que eu chego na
outra. – Já se meteu na conversa o Mário.
_ Bem que sua prima Michele podia
vir também, né? – Era o interesse do Hugo.
As noites no clube seriam de
sábado a quarta. Na sexta chegariam meu irmão e minhas primas, e geralmente
todo mundo se reunia em frente ao clube, onde as ruas eram fechadas e muitas
barracas ficavam vendendo de bebidas a comidas. A tradicional barraca da canja
já estava lá também pra aliviar a bebedeira e a fome da madrugada. Combinamos
de nos encontrar todos lá, uma vez que minhas primas ficariam na casa dos meus
avós e meu irmão iria primeiro na casa do Borges. Passei na casa do Hugo e aos
poucos a turma foi chegando: Mário, Cleber, André e Jonatan. O Manezinho se
afastava cada vez mais por conta da namorada, e não sabíamos se realmente iria
ao carnaval.
_ Bebidas? – Já foi sugerindo o
Cleber.
_ Certeza. – Concordamos todos.
Bebidas e cigarros e logo vimos
meu irmão com o Borges e amigos.
_ E aí babaca, nada da Rosana e
da Maria ainda? – Perguntou ele.
_ Nada.
_ Então depois volto. Falou. – E saiu.
Ele estava bem melhor. De outras vezes nem chegaria para falar comigo.
Pouco depois vejo minhas primas,
e a molecada já foi ficando louca.
_ Acho que vou chegar na Maria.
Ela está mais gata. – Disse o Mário.
Nos cumprimentamos e as
apresentei à turma, que logo foram se enturmando. Sugeri bebidas e elas
toparam. Ficamos trocando ideias e vendo o movimento. O Jonatan acendeu um
cigarro, e eu pensei em dar uma tragada, mas achei melhor não por causa delas,
mas a Maria me surpreendeu:
_ Tem um desses pra mim?
_ Claro! – Respondeu o Jonatan,
lhe entregando um cigarro e acendendo para ela.
_ Passa um pra mim também. – Já aproveitei,
me sentindo mais a vontade.
_ Você também, Leo? – Disse a
Rosana, com certo ar de crítica. Fiquei sem graça.
_ Ah, Rô! É carnaval!
_ Tá, fazer o que. Não acho
legal, mas vocês quem sabem. Já cansei de falar pra Maria, mas ela não me ouve.
Acho que vai ser assim com você também...
Fiquei mais aliviado. Dei um
abraço e um beijo nela. Mais bebidas.
Meu irmão chegou e apresentou a
turma dele a todos, até aos meus amigos, o que comprovava a mudança de fato.
Além do Borges estavam também o Fofo, um rapaz bem gordo e bem peludo, e o
Fábio, irmão do Borges. Ficamos todos numa grande turma, e estava bem legal.
Vi uma movimentação estranha
entre o André, o Jonatan e o Cleber. Estavam tramando alguma coisa sem que o
Hugo, o Mário e eu percebêssemos. Me aproximei:
_ Que tá pegando? Vocês estão
escondendo algo.
_ Se quiser ver o que é vem com a
gente. Mas não pode falar nada. – Disse o André.
_ Mas minhas primas estão aí, e
meu irmão acabou de chegar!
_ Estamos indo. Voltamos logo.
Inventa uma desculpa.
Fiquei sem saber o que fazer, mas
não podia perder o que era. Disse que iria ao banheiro e me afastei, encontrando
os moleques mais à frente.
Andamos umas três quadras nos
afastando do movimento sem que eles dissessem nada, apesar da minha
insistência.
_ Calma Leo. Você já vai ver. –
Dizia o André.
Quando tiveram a garantia de que
ninguém se aproximava numa rua quase deserta eles se fecharam numa roda atrás
de um carro, e me coloquei entre eles.
_ Acaba com o mistério logo,
porra!
_ Bem, Leo, é isso aqui, e se
quiser vai ter que entrar no racha. – Falou o Jonatan, mostrando um frasco que
tirou de dentro da calça, escondido.
_ Que isso? – Perguntei, vendo o
frasco, com uma válvula verde e comprido.
_ Lança-perfume. – Respondeu o
Cleber.
_ Caramba! Onde conseguiram?
_ O Jonatan conseguiu com o
Silvinho. – Disse o André. – E aí? Vai entrar no racha?
_ Cara, não sei! Ouvi dizer que é
muito louco, mas tenho medo. Se nos pegarem com isso estamos ferrados.
_ Faz o seguinte: experimenta
primeiro. – Sugeriu o Cleber. - Se depois disso não quiser, ok. Mas acho que
isso não vai acontecer.
_ Vocês já experimentaram? É bom
mesmo?
Ficaram quietos e só sorriram,
com caras de algo incrível.
_ Mas e se eu ficar muito louco?
_ O efeito é rápido. Passa num
instante. – Falou o Jonatan. – Vai, se prepara.
Ele ergueu a própria camiseta,
espirrou um pouco nela e disse apressando:
_ Vai Leo! Puxa com a boca!
Meio que sem pensar coloquei a
boca no local espirrado e comecei a puxar. Era gelado, e logo começou a dar uma
tontura gostosa. Na cabeça a impressão que dava era um barulho tipo sirene:
UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU
UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU UIU...
Os sentidos foram à mil. O mundo
parecia mágico e as luzes e tudo à volta eram incríveis. Tudo estava feliz, e
não existiam problemas. Pouco depois a realidade foi retornando. O som sumiu,
as luzes sumiram, a magia sumiu.
_ Caralho! Quero mais!
_ Hehehe! Sabia que ia gostar. –
Falou o Cleber.
_ Vai, mais uma rodada cada e
vamos voltar. Tá no racha então, Leo? – Perguntou o André.
_ Certeza! – Respondi sem pestanejar.
Mais uma rodada, mais uma volta à
realidade, cigarros acesos e retornamos à turma. Chegando lá todos haviam
notado nossa ausência, perguntando onde estávamos. Para o Hugo e o Mário
dissemos que fomos fumar escondido, já que meu irmão estava ali, e para as
primas e o Lou que a fila do banheiro estava grande. Não tivemos problemas.
A noite foi desenrolando. O tempo
todo algumas pessoas da turma se afastavam por algum motivo, ou para comprar
algo, ou para cumprimentar alguém, ou mesmo ir ao banheiro ou fumar. Nessas
horas aproveitávamos para nossas rodadas de lança-perfume, que foi esvaziando
rapidamente.
_ Caramba! Esse já ta no fim.
Acho que vamos precisar de um por noite. – Comentou o André.
_ É caro? – Perguntei.
_ Não muito. – Falou o Jonatan,
dizendo quanto tinha pagado.
_ Estamos em quatro. E se cada um
comprar um? – Sugeriu o Cleber. – Aí cada noite um fica responsável por levar.
_ É uma boa ideias. – Concordou o
André, tendo a aceitação também do Jonatan.
_ Mas onde vocês o escondem em
casa? E pra entrar com ele no clube? – Eram minhas dúvidas.
_ Você não guarda cigarro atrás
da gaveta de meia? – Disse o André. – É só colocar no mesmo lugar.
_ E pra entrar é tranquilo. Meu
primo que faz a revista dos homens na entrada, e ele também curte lança. Não
teremos problemas. – Completou o Jonatan.
E então topamos o plano, de modo
que o Jonatan falaria com o Silvinho e nos reuniríamos a tarde para as compras.
Eu estava com certo medo ao mesmo tempo que empolgado. Voltamos ao local da
turma, e o Hugo me puxou:
_ Onde vocês vão a toda hora,
Leo? Fiquei reparando que são sempre os mesmos que saem juntos. Que tá pegando?
Não confia mais em mim?
_ Relaxa, Hugo. Vai em casa
amanhã antes de sairmos que te explico certinho. Mas não fala nada pro Mário
não.
_ Sabia que estavam escondendo
algo. Fala o que é.
_ Amanhã. Fica calmo que amanhã
te mostro.
E ficamos todos na praça, bebendo
e conversando. Minhas primas tinham se enturmado bem com meus amigos e a turma
do meu irmão era bem legal. O Fofo bebia mais do que qualquer um de nós, e o
Borges e o Fábio viviam falando de quadrinhos, e eram histórias bem legais. O
Mário estava nos altos papos com a Maria, enquanto a Rosana conversava mais com
meu irmão.
Já tarde da madrugada combinamos
todos de comer a famosa canja e irmos embora, já que as próximas quatro noites
prometiam ser bem agitadas, tanto pelo grande movimento que havia naquela sexta
como pela empolgação que estávamos pelo lança-perfume.
A noite teria churrasco em casa
para reunir a família, e de lá iriamos para o clube. O carnaval estava apenas
começando...
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