(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
_ O que aconteceu com você ontem?
– Perguntava o Mário ao telefone.
_ Nada. Só curti a noite.
_ Alias, não foi só você, e sim
todo mundo. Sempre sumiam e demoravam um monte pra voltar. Sorte que suas
primas me fizeram companhia.
É, teríamos que tomar mais
cuidado. A Maria também tinha falado um monte pra mim.
Durante o dia ficamos todos de
boa, com dor de cabeça e descansando. Almoçamos na casa do vô Joaquim com a
família do meu pai e fomos tomar sorvete depois. De resto, cama e TV,
recuperando para a segunda noite.
Nos encontramos as nove na praça
em frente ao clube, e era a vez do Cleber levar o tubo.
_ Vou colar em vocês o tempo todo.
– Disse o Mário. – Vou descobrir o que estão aprontando.
_ Não é melhor contarmos pra ele?
– Sugeri disfarçadamente ao André.
_ Não. O Mário é muito certinho.
Ele não vai aceitar de boa.
Entramos, agora com a missão de
despistar o Mário toda vez que quisermos o lança-perfume. Combinamos de sair de
dois em dois ao invés de todos juntos, assim o restante ficaria com o Mário e
minhas primas, o que facilitaria o disfarce. Meu irmão hora saia com os amigos,
hora se juntava a nós, o que não apresentava grande problema.
O Jonatan e o André foram
primeiro, tendo combinado usar o banheiro do andar de cima. Cerca de vinte
minutos depois eles voltam, passam o tubo para o Cleber. Como estávamos em
cinco, o Hugo iria com o Cleber, puxaria a dele e voltaria, enquanto o Cleber
permaneceria no banheiro para que eu o encontrasse. Uns dez minutos depois o
Hugo chega.
_ Vou dar uma mijada. – Anunciei
em alto e bom som.
_ Volta logo, heim Leo! – Disse o
Mário.
_ Qual cabine ele está? –
Cochichei com o Hugo.
_ Na última.
E fui, todo empolgado. Seria a
primeira da noite.
Entrei no banheiro, que estava
com um fluxo grande, e fui me dirigindo à última cabine.
_ Cleber? Cleber? – Dava pequenas
batidas na porta enquanto chamava, mas nada. – Porra Cleber, abre essa porta! –
Nada.
Na cabine ao lado sai alguém, e
antes que um próximo pudesse entrar, me enfiei nela, trancando a porta.
_ Cleber, tá me ouvindo? – Nada
ainda.
Subi na privada para poder ver o
lado dele, tentando disfarçar caso alguém visse, mas logo isso não me
preocupava mais.
_ PORRA CLEBER! ACORDA!
A cena era bizarra: ajoelhado no
chão nada lindo, segurava com uma mão o tubo, intacto, mas estava completamente
apagado, com a cara apoiada na própria privada, cheia de mijo respingado.
Percebi que o relógio no pulso do outro braço estava com o vidro quebrado.
_ Cleber! acorda caralho!
_ Ele começou a voltar a si,
tirando o rosto da latrina e a limpando com a mão vazia.
_ Que aconteceu Cleber?
_ Ah! Leo? É a sua vez? Toma o
tubo...
E começou a esticar o braço para
me entregar o tubo por cima da divisória das cabines, mas antes que eu pudesse
segurar ele o soltou, de modo que o tubo foi direto ao chão, espatifando.
_ QUE MERDA, CLEBER! – Gritei.
_ O que tá acontecendo aí? – Era
a voz do tiozinho que ficava na entrada do banheiro pra ver se estava tudo em
ordem.
_ Meu amigo bebeu muito e
desmaiou, mas ele já está acordando. – Falei, em pânico.
Ele começou a bater na porta do
Cleber, que foi se levantando, agora assustado. Eu apontava do alto a válvula e
os restos de vidro do tubo, de modo que ele sacou, pegou a válvula e empurrou
os vidros para trás da privada e abriu a porta.
_ Que cara é essa, Cleber? –
Perguntou o Mário. – Está com a camisa e a calça molhadas e um vergão no rosto!
Conforme ele levou a mão ao
rosto, todos viram seu relógio quebrado.
_ Que aconteceu?!? – Se espantou
a Rosana.
_ Ele escorregou no banheiro, o
burro. – Tentei disfarçar. – Foi risada pra todo lado.
O Jonatan já me puxou, percebendo
que algo estava errado. O Mário e minhas primas pareciam convencidos e deram
muita risada.
_ E o tubo? – Quis saber o
Jonatan depois que lhe contei a cena.
_ Já era. – E expliquei como.
Ele não se conformava. Em
instantes o André se aproxima, e o Jonatan o coloca a par da situação. Mais
desespero. Ficamos com cara de bosta, de modo que procurávamos nos divertir,
mas já sem o mesmo encanto da noite anterior.
_ Vamos pra padaria? – Chamou meu
irmão ao termino da noite no clube.
_ Padaria? Fazer o que? –
Perguntei.
_ Vai todo mundo pra lá. Por que
você acha que na praça fica vazio?
Olhei para os outros, e todo
mundo parecia concordar.
A padaria ficava no centro da
cidade, de modo que era a poucas quadras dali. As pessoas desciam em bandos, e
o fluxo era realmente grande.
_ Achava que a padaria só rolava
em dia de boate normal. – Disse o Hugo.
_ Já tinham me falado que era
legal no carnaval, mas ontem estava sem condições para me lembrar disso. –
Comentou o André.
Seguíamos a multidão conversando,
bebendo e fumando. O Mário estava mais grudado às minhas primas, e o Cleber
estava mais quieto a noite toda, chateado com o ocorrido, mas não pode deixar
de se expressar ao chegarmos à padaria:
_ Caramba! Tá lotado.
Realmente, a cena era bem legal:
como faziam em frente ao clube, fecharam a rua com cavaletes de modo que o
público a ocupava toda. Grandes rodas de pessoas em todos os cantos, em pé ou
sentados no chão mesmo. Em alguns pontos víamos grupos inteiros dormindo.
Alguns bêbados faziam farra e berravam coisas estúpidas, de modo que gerava
diversas cenas engraçadas. Algumas garotas também bêbadas desfilavam seus
corpos pela rua, e sempre alguém tentava xavecar, geralmente recebendo algum
palavrão desbocado.
_ Que massa! E agora? – Perguntou
o Mário.
_ O que rola aqui é o misto
quente. Eles já fazem aos montes, aí compra as fichas e os pega no balcão. –
Disse o Jonatan.
_ Vendem bebida também? – Quis
saber.
_ Vamos ver. – Se empolgou o
Cleber.
Compramos fichas de lanche e
cerveja. Estavam mais caros que o normal, mas era o que tínhamos no momento.
Sentamos em frente a uma loja e lá ficamos, bebendo e fumando depois de comer.
_ Apesar de tudo, essa noite foi
massa. – Disse o Hugo.
Tivemos que concordar. Só o
Cleber ficou quieto, ainda envergonhado.
_ E se usarmos os tubos à tarde
ao invés de levar ao clube? – Sugeri.
Os quatro ficaram quietos,
pensativos. O André foi o primeiro a se expressar:
_ Podemos sair de bicicleta por
aí e ficar loucos tranquilos em alguma cachoeira.
_ Pode ser perigoso. – Disse o
Hugo. – De repente a gente perde a noção e alguém se afoga.
Novamente silêncio.
_ Não podemos nos esquecer que o
Mário vai querer fazer algo com a gente também. Aí complica. – Lembrou o
Cleber.
Mais silêncio.
_ Meus tios estão viajando, e a
chave da casa deles está em casa. – Falou o Jonatan.
Olhamos todos para ele.
_ E que graça tem usar o lança
lá? – Quis saber o André.
_ O meu primo comprou o último
videogame que saiu. Já pensou jogar louco?
Imediatamente começamos a
imaginar, e aquilo foi empolgando.
_ Cara, vai ser muito louco! –
Disse o Hugo.
_ Gostei da ideia. – Concordei.
_ Videogame? Mesmo louco quero
ver ganharem de mim. – Falou o André.
_ Mas ainda assim teremos que
despistar o Mário. – Lembrou mais uma vez o Cleber.
E quando olhamos para ele,
estranhando o fato de não estar naquele momento conosco, vimos ele e minha
prima Maria nos beijos. Aquilo nos surpreendeu um pouco.
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