segunda-feira, 23 de junho de 2014

Aos Meus Amigos - 16 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


_ O que aconteceu com você ontem? – Perguntava o Mário ao telefone.
_ Nada. Só curti a noite.
_ Alias, não foi só você, e sim todo mundo. Sempre sumiam e demoravam um monte pra voltar. Sorte que suas primas me fizeram companhia.
É, teríamos que tomar mais cuidado. A Maria também tinha falado um monte pra mim.
Durante o dia ficamos todos de boa, com dor de cabeça e descansando. Almoçamos na casa do vô Joaquim com a família do meu pai e fomos tomar sorvete depois. De resto, cama e TV, recuperando para a segunda noite.
Nos encontramos as nove na praça em frente ao clube, e era a vez do Cleber levar o tubo.
_ Vou colar em vocês o tempo todo. – Disse o Mário. – Vou descobrir o que estão aprontando.
_ Não é melhor contarmos pra ele? – Sugeri disfarçadamente ao André.
_ Não. O Mário é muito certinho. Ele não vai aceitar de boa.
Entramos, agora com a missão de despistar o Mário toda vez que quisermos o lança-perfume. Combinamos de sair de dois em dois ao invés de todos juntos, assim o restante ficaria com o Mário e minhas primas, o que facilitaria o disfarce. Meu irmão hora saia com os amigos, hora se juntava a nós, o que não apresentava grande problema.
O Jonatan e o André foram primeiro, tendo combinado usar o banheiro do andar de cima. Cerca de vinte minutos depois eles voltam, passam o tubo para o Cleber. Como estávamos em cinco, o Hugo iria com o Cleber, puxaria a dele e voltaria, enquanto o Cleber permaneceria no banheiro para que eu o encontrasse. Uns dez minutos depois o Hugo chega.
_ Vou dar uma mijada. – Anunciei em alto e bom som.
_ Volta logo, heim Leo! – Disse o Mário.
_ Qual cabine ele está? – Cochichei com o Hugo.
_ Na última.
E fui, todo empolgado. Seria a primeira da noite.
Entrei no banheiro, que estava com um fluxo grande, e fui me dirigindo à última cabine.
_ Cleber? Cleber? – Dava pequenas batidas na porta enquanto chamava, mas nada. – Porra Cleber, abre essa porta! – Nada.
Na cabine ao lado sai alguém, e antes que um próximo pudesse entrar, me enfiei nela, trancando a porta.
_ Cleber, tá me ouvindo? – Nada ainda.
Subi na privada para poder ver o lado dele, tentando disfarçar caso alguém visse, mas logo isso não me preocupava mais.
_ PORRA CLEBER! ACORDA!
A cena era bizarra: ajoelhado no chão nada lindo, segurava com uma mão o tubo, intacto, mas estava completamente apagado, com a cara apoiada na própria privada, cheia de mijo respingado. Percebi que o relógio no pulso do outro braço estava com o vidro quebrado.
_ Cleber! acorda caralho!
_ Ele começou a voltar a si, tirando o rosto da latrina e a limpando com a mão vazia.
_ Que aconteceu Cleber?
_ Ah! Leo? É a sua vez? Toma o tubo...
E começou a esticar o braço para me entregar o tubo por cima da divisória das cabines, mas antes que eu pudesse segurar ele o soltou, de modo que o tubo foi direto ao chão, espatifando.
_ QUE MERDA, CLEBER! – Gritei.
_ O que tá acontecendo aí? – Era a voz do tiozinho que ficava na entrada do banheiro pra ver se estava tudo em ordem.
_ Meu amigo bebeu muito e desmaiou, mas ele já está acordando. – Falei, em pânico.
Ele começou a bater na porta do Cleber, que foi se levantando, agora assustado. Eu apontava do alto a válvula e os restos de vidro do tubo, de modo que ele sacou, pegou a válvula e empurrou os vidros para trás da privada e abriu a porta.

_ Que cara é essa, Cleber? – Perguntou o Mário. – Está com a camisa e a calça molhadas e um vergão no rosto!
Conforme ele levou a mão ao rosto, todos viram seu relógio quebrado.
_ Que aconteceu?!? – Se espantou a Rosana.
_ Ele escorregou no banheiro, o burro. – Tentei disfarçar. – Foi risada pra todo lado.
O Jonatan já me puxou, percebendo que algo estava errado. O Mário e minhas primas pareciam convencidos e deram muita risada.
_ E o tubo? – Quis saber o Jonatan depois que lhe contei a cena.
_ Já era. – E expliquei como.
Ele não se conformava. Em instantes o André se aproxima, e o Jonatan o coloca a par da situação. Mais desespero. Ficamos com cara de bosta, de modo que procurávamos nos divertir, mas já sem o mesmo encanto da noite anterior.
_ Vamos pra padaria? – Chamou meu irmão ao termino da noite no clube.
_ Padaria? Fazer o que? – Perguntei.
_ Vai todo mundo pra lá. Por que você acha que na praça fica vazio?
Olhei para os outros, e todo mundo parecia concordar.
A padaria ficava no centro da cidade, de modo que era a poucas quadras dali. As pessoas desciam em bandos, e o fluxo era realmente grande.
_ Achava que a padaria só rolava em dia de boate normal. – Disse o Hugo.
_ Já tinham me falado que era legal no carnaval, mas ontem estava sem condições para me lembrar disso. – Comentou o André.
Seguíamos a multidão conversando, bebendo e fumando. O Mário estava mais grudado às minhas primas, e o Cleber estava mais quieto a noite toda, chateado com o ocorrido, mas não pode deixar de se expressar ao chegarmos à padaria:
_ Caramba! Tá lotado.
Realmente, a cena era bem legal: como faziam em frente ao clube, fecharam a rua com cavaletes de modo que o público a ocupava toda. Grandes rodas de pessoas em todos os cantos, em pé ou sentados no chão mesmo. Em alguns pontos víamos grupos inteiros dormindo. Alguns bêbados faziam farra e berravam coisas estúpidas, de modo que gerava diversas cenas engraçadas. Algumas garotas também bêbadas desfilavam seus corpos pela rua, e sempre alguém tentava xavecar, geralmente recebendo algum palavrão desbocado.
_ Que massa! E agora? – Perguntou o Mário.
_ O que rola aqui é o misto quente. Eles já fazem aos montes, aí compra as fichas e os pega no balcão. – Disse o Jonatan.
_ Vendem bebida também? – Quis saber.
_ Vamos ver. – Se empolgou o Cleber.
Compramos fichas de lanche e cerveja. Estavam mais caros que o normal, mas era o que tínhamos no momento. Sentamos em frente a uma loja e lá ficamos, bebendo e fumando depois de comer.
_ Apesar de tudo, essa noite foi massa. – Disse o Hugo.
Tivemos que concordar. Só o Cleber ficou quieto, ainda envergonhado.
_ E se usarmos os tubos à tarde ao invés de levar ao clube? – Sugeri.
Os quatro ficaram quietos, pensativos. O André foi o primeiro a se expressar:
_ Podemos sair de bicicleta por aí e ficar loucos tranquilos em alguma cachoeira.
_ Pode ser perigoso. – Disse o Hugo. – De repente a gente perde a noção e alguém se afoga.
Novamente silêncio.
_ Não podemos nos esquecer que o Mário vai querer fazer algo com a gente também. Aí complica. – Lembrou o Cleber.
Mais silêncio.
_ Meus tios estão viajando, e a chave da casa deles está em casa. – Falou o Jonatan.
Olhamos todos para ele.
_ E que graça tem usar o lança lá? – Quis saber o André.
_ O meu primo comprou o último videogame que saiu. Já pensou jogar louco?
Imediatamente começamos a imaginar, e aquilo foi empolgando.
_ Cara, vai ser muito louco! – Disse o Hugo.
_ Gostei da ideia. – Concordei.
_ Videogame? Mesmo louco quero ver ganharem de mim. – Falou o André.
_ Mas ainda assim teremos que despistar o Mário. – Lembrou mais uma vez o Cleber.
E quando olhamos para ele, estranhando o fato de não estar naquele momento conosco, vimos ele e minha prima Maria nos beijos. Aquilo nos surpreendeu um pouco.

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