Numa das vezes em que havia circo
no Terreno do Circo decidimos ir. Era um domingo à tarde, por volta das 15
horas, mas como condição para nos deixarem ir teríamos que levar o Ivan junto.
O Ivan era sobrinho do André, filho de sua irmã Inês. Além do André e da Inês,
a tia Josefa tinha um filho do meio, o Rodolfo.
O Ivan era seis anos mais novo do
que eu, e era muito chorão. Não gostávamos de brincar com ele por conta disso,
mas naquela tarde, se quiséssemos ir ao circo, teríamos que leva-lo.
Ao chegar à bilheteria uma mulher
que trabalhava no circo nos fez uma proposta: como estavam com falta de
funcionários, se aceitávamos trabalhar de vendedores nas arquibancadas em troca
da entrada mais o valor do ingresso em dinheiro no final da sessão. Claro que
topamos, e combinamos que o Ivan ficaria sentado na arquibancada enquanto isso,
assistindo as apresentações, e que ficaríamos todos de olho nele.
Eu peguei uma bandeja de maça do
amor. O André pegou uma bandeja com saquinhos de pipoca. O manezinho ficou com
o churros e o João com a batata frita. E assim fomos à labuta, nos espalhando
pela arquibancada oferecendo os produtos.
O circo era muito ruim. Uma
imitação dos apresentadores da TV com joguinhos e brincadeiras com as crianças
feitas por um palhaço mal maquiado e sem graça. Não tinha malabarista, trapezista,
equilibrista, mágico e nem nada de um circo de verdade, e, claro, estava bem vazio.
Dessa forma, quem compraria nossos produtos?
A solução foi facilmente
encontrada: nos revezamos para passar em frente ao Ivan, sempre o convencendo a
comprar alguma coisa, mas não demorou para que se enchesse de doces e frituras
e seu dinheiro acabasse. Então precisávamos de uma nova estratégia.
_ E se começássemos a comprar um
do outro? – Sugeriu o João.
E assim fomos, fingindo que
oferecíamos ou estávamos realmente interessados em algo:
_ Vai uma maça do amor aí, chefe?
_ Claro que sim. E por acaso não
gostaria de uma pipoca?
_ Humm... deu uma vontade de um
churros. Ei, moço! Manda um churros com calda de doce de leite, por favor.
_ Aqui está. E essas batatas parecem
ótimas. Manda uma pra cá.
Quando acabou a apresentação
fomos prestar contas das vendas. Havíamos ido com algum dinheiro para a entrada
e para comprar coisas. Como não pagamos a entrada, tínhamos mais dinheiro para
os doces e salgados, e gastamos todo ele. Não éramos tão burros para gastarmos
o dinheiro das vendas, o que permitiu fechar a conta direitinho, mas quando
recebemos o valor dos ingressos pelo serviço prestado não tivemos dúvida:
_ Ah! Aproveita então e me vê
mais um churros e uma batata.
_ Eu quero uma maça do amor e uma
pipoca.
_ Eu também vou comprar alguma
coisa...
E assim voltamos para casa dos
nossos avós, sem ter pagado para entrar no circo, trabalhado, e ainda assim sem
um tostão no bolso. Mas a barriga cheia de doces. O duro foi ter que comer o
prato de macarronada que nossos pais nos obrigaram na hora da janta, se não
ficaríamos de castigo, de novo...
(Leia a continuação em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/10/aos-meus-amigos-5.html )
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