terça-feira, 22 de outubro de 2013

Aos Meus Amigos - 7

(Não leu desde o início? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

Outra coisa que o tio Mané adorava fazer e sempre nos levava juntos era para o futebol. Não jogávamos com ele, claro, mas como sempre ia para um lugar fora da cidade por fazer parte do time de onde trabalhava, era sempre a oportunidade de uma nova aventura para nós quatro.
_ O jogo vai ser no sítio do seu Ditinho. É o nosso time contra o da Vila Alta. Querem ir?
Era claro que queríamos, ainda mais num sítio, onde poderíamos brincar em qualquer lugar.
O tio Mané tinha um carro bem velho, embora conservado, daqueles que a lataria era bem dura. Um carro próprio de colecionadores. Chamávamos ele de Poizé, e parece que ele era do início do século, quando era difícil se ter um carro. Muitas vezes dávamos voltas pela cidade todos pendurados no capô do Poizé, mas é claro que para ir ao sítio do seu Ditinho teríamos que ir dentro, a não ser quando faltava pouco para chegar ao local do jogo, que o tio Mané nos deixava subir nele e ia buzinando, fazendo a maior farra enquanto abanávamos os braços para todos olharem.
A Vila Alta era conhecida por ter muito maloqueiro, e eles levaram uma torcida em que chegaram todos pendurados num caminhão de boi. Ficamos um pouco intimidados com uns moleques mal encarados que estavam nele, mas isso não nos impediria de nos divertirmos.
_ Não vão muito longe, heim? Logo que o jogo acabar nós vamos embora.
_ Pode deixar, pai. Só vamos brincar no mato aqui em volta.
Sempre gostamos de brincar no mato. Imaginávamos que estávamos em cenas de guerra, ou perdidos num lugar do qual teríamos que se virar para sobreviver. Muitas vezes o André sugeria o chamado Treinamento de Guerra, onde ele ia na frente fazendo desafios dos quais teríamos que imitar, tipo subir em árvores difíceis ou pular por valas de rio sem cair.
_ Agora todo mundo tem que se rastejar, se não raspa as costas no arame farpado! – Ordenava ele, como se houvesse um cenário inimigo. E todos obedeciam, pois sabíamos se tratar de um “treinamento” para nós mesmos.
No meio da brincadeira o André para, quieto, fazendo sinal para pararmos também.
_ Vocês viram aquilo?
_ Não. O que foi, André? – Pergunta o João.
_ Tinha um homem e uma mulher ali, e eu vi os dois se deitando no mato.
_ Vixi! Será que eles vão... – Falou Manezinho, com um sorriso malicioso no rosto.
_ Só tem um jeito de descobrir. Vai! Modo ninja. – Ordenou novamente o André.
Todos nós tiramos a camiseta e a colocamos na cabeça, deixando o espaço por onde se coloca a cabeça sobre os olhos e amarrando as mangas atrás da cabeça, ficando parecendo um ninja. Estávamos todos eufóricos.
O André estava na frente, seguido por João, Manezinho e eu. Nos movimentávamos com bastante cuidado, evitando fazer barulho, até chegarmos próximos de onde André os havia visto. Começamos a ouvir uns barulhos. Eram de respiração ofegante e estalos de beijo. De onde estávamos não víamos nada, mas só de imaginar já começamos a dar risadas contidas.
_ Hi hi hi hi...
_ Quem está aí? – Era a voz do homem.
_ Shiiii! Shiiii!
_ Quem está aí? Apareça!
Vimos a cabeça do cara, sem camiseta, tentando nos localizar, mas nos mantivemos em silêncio.
_ Não é nada. Vem cá, vem... – Agora era a voz da mulher, e vimos uma mão puxar o cara para baixo.
Logo os barulhos recomeçaram. O André não aguentou:
_ APERTA QUE ELA PEIDA! – Gritou.
Nisso o homem e a mulher se levantaram. Ele tentando colocar as calças e ela assustada, com os peitos de fora. Nunca tínhamos visto seios ao vivo daquele jeito, e ficamos loucos com aquilo, mas o momento não nos deixava tempo para aproveitar:
_ Corre, moçada! – Alertou o João, e foi aquela correria.
Acho que corremos uns dez minutos sem parar, dando uma volta enorme de onde estávamos para voltar ao local do jogo. Dávamos muita risada no caminho, excitados e com certo medo ao mesmo tempo. A adrenalina estava a mil.
_ Vocês viram os peitos? Hahahahaha. – Perguntou o André.
_ Nunca vou me esquecer. – Respondi.
_ E se o cara nos viu e reconhecer? – Preocupava-se com um sorriso no rosto o Manezinho.
_ Não esquenta não. Estávamos com o rosto tampado. – Acalmava o João.
Quando nos aproximamos do local do jogo, vimos uma movimentação estranha dos moleques mal encarados da Vila Alta. A alegria deu lugar à preocupação na hora. Um deles veio na nossa direção:
_ Onde vocês estavam?
_ Ali atrás, perto do paiol, brincando. – Respondeu o João.
Vocês não viram um cara de camisa cinza por lá? O cara sumiu e não sabemos onde está.
Quase demos risada ao perceber que era o mesmo cara do mato, mas conseguimos nos segurar.
_ Não vimos não. Estávamos só nós lá.
_ Firmeza, então. Se o virem por aí fala que a gente tá procurando ele.
_ Pode deixar. – Falou o Manezinho, meio que rindo.
Assim que o cara se afastou caímos na risada, tentando relembrar cada detalhe do que cada um viu.
Tempo depois vem o tio Mané, todo suado do jogo de bola.
_ Ah, Molecada! Onde vocês estavam? Eu estava procurando por vocês.
_ A gente tava vendo mulher pelada. Tio. – Respondi, com tom de brincadeira.
_ Até parece que uns pinto mucho que nem vocês vão achar mulher pelada aqui. Vai! Vamos embora que a vó Cotinha deve tá esperando com o café da tarde na mesa.

E lá fomos nós, para mais um café com bolacha de coco da vó depois de mais uma aventura com meus grandes amigos.

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