quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aos Meus Amigos - 10

(Não acompanhou desde o inicio? Então comece, em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

É claro que minhas diversões não ocorriam somente aos fins de semana, tendo bons amigos na escola também. Era uma turma bem diferente dos meus primos, com outras formas de aventuras e confusões, mas eram meus melhores amigos quando não estava em família.
Meu melhor amigo era o Hugo, um ruivo com sardas nas bochechas e muito bonzinho. Tinha a dupla inseparável formada por Tomás e Sidnei. O Tomás era um pouco gordinho e bem rico, o que o tornava um pouco metido às vezes, e o Sidnei era o CDF da escola, o que nos ajudava muito na hora dos trabalhos e provas. Para fechar a turma vinha o Cleber, um garoto bem gordinho, baixinho e de cabelos enrolados. Adorava esportes, principalmente futebol, apesar de não se dar muito bem com eles devido ao seu porte físico.
Estávamos juntos desde a pré-escola, e acho que a lembrança mais antiga de uma bagunça que tenho dessa turma foi quando atiramos uma pedra na cabeça do Cleber. Foi mais ou menos assim: Estávamos os cinco no parquinho da escola, de modo que o Hugo, o Sidnei e eu estávamos ocupando os três únicos balanços que havia. O Tomás e o Cleber esperavam a vez, que não chegava nunca. Então o Tomás, de saco cheio, inventa que tinha uma brincadeira nova, para deixarmos para lá o balanço de modo que ele nos ensinaria como era. Curiosos, descemos dos balanços para acompanha-lo, levando-nos ao corredor atrás da sala de lanches.
_ É assim: cada um pega uma pedra na mão. – Disse mostrando as pedras, dessas usadas para fazer calçadas de jardim, e assim o fizemos. – Vamos tirar dois ou um e a pessoa que sair tem que correr o máximo que puder, tentando pular das pedras que vamos tacar em seus pés, ok?
Nem pensamos nas consequências e aceitamos de imediato, tirando o dois ou um. Quando o Cleber viu que tinha sido o único a mostrar o um com o dedo, saiu correndo imediatamente, enquanto começamos a jogar as pedras nele, pegando mais no chão. Conforme ele se afastava no longo corredor, mais fortes eram os arremessos, o que, devido a nossa falta de coordenação devido a pouca idade, mais alto eram lançadas, até que...
_ Ai! Ai! Ai! Tá doendo! – Começou a berrar o Cleber, com a mão na testa.
Todos travamos, como que acordando do que havíamos feito sem pensar. Com os gritos, a professora, dona Eleonor, veio correndo.
_ O que está acontecendo aqui? O que houve com sua cabeça, Cleber?
_ Eles jogaram pedras em mim, tia. – E mostrou a testa, vermelha e com um grande galo.
_ Onde vocês estavam com a cabeça? Vão já para a diretoria enquanto levo o Cleber pra colocar gelo nessa testa.
Fomos para a direção, ainda sem acreditar no que havia acontecido. Mesmo o Tomás estava assustado, pois, apesar de ter dado a ideia, não pensou que aquilo pudesse machucar alguém.
Nossos pais foram chamados e tivemos que tentar explicar o porquê daquilo, o que não conseguimos. E quando nos perguntaram quem tinha acertado a pedra, afinal, todos nos olhamos, inclusive o Cleber, sem saber que resposta dar. Realmente, não nos lembrávamos, e mesmo tempos depois, essa resposta desapareceu da cabeça de todos nós.

Depois da pré-escola fomos todos juntos para a mesma escola. Era uma escola pequena, com um pátio não muito espaçoso e uma cantina que vendia um pouco de tudo que era gostoso: salgadinhos, balas, refrigerantes, salgados, cachorro quente... só não vendia goma de mascar, para não colarmos embaixo das carteiras no meio da aula. Para que as garrafas de refrigerante não ficassem espalhadas pelo pátio, a cantina incentivava com balas quem as recolhessem: a cada cinco garrafas, davam uma bala. Bala, naquela época, era a moeda local da escola. Tudo se conseguia com ela.
_ Copia a lição pra mim?
_ Quantas balas eu ganho?
Ou mesmo:
_ Se você me dar uma bala eu deixo você brincar com o meu soldadinho no intervalo.
Como ter bala representava poder, resolvemos, os cinco, montar uma máfia da bala. Decidimos todos os dias nos espalhar pelo pátio e recolher o maior número possível de garrafas, trocando-as pelo nosso objeto de desejo, e para ajudar, recrutávamos os alunos mais novos.
_ Se vocês nos ajudarem a pegar garrafas, no final do intervalo a gente paga vocês com balas.
E eles aceitavam, já que, para evitar acidentes, os mais novos não entravam na proposta da troca com a cantina, não os incentivando a ficar andando pelo pátio carregando garrafas. Isso resultava num montante de cerca de dez balas ao final do intervalo, enquanto que, se fosse apenas nós cinco, não conseguiríamos nem metade.
Um amigo da nossa sala, o Mario, resolveu ajudar, e ele era muito bom, tendo um plano tonto mas funcional.
_ Seu Josias, trouxe algumas garrafas. Onde coloco?
_ Deixa no balcão, Mario, depois eu guardo.
_ Que isso, seu Josias. Pode deixar que eu coloco na caixa.
E assim ia o Mario, anunciando as garrafas que ia trazendo direto para a caixa e ganhando as balas, só que ao invés de a cada cinco garrafas, o Mario ganhava uma a cada três.
_ Aqui. Três garrafas, seu Josias... – E colocava dentro da caixa. Tirava duas, fingia que as pegava do chão, colocando-as na caixa de novo. - ... e mais duas. Manda uma bala aí.
O seu Josias, naquela correria e gritaria da molecada, acabava por nem perceber o golpe, o que nos rendia muitas balas. Como o Mario não era muito a fim de balas, ele trocava por outros favores: seu nome nos trabalhos escolares. Era uma ótima troca, para os dois lados.

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