(Não acompanhou desde o inicio? Então comece, em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
É claro que minhas diversões não
ocorriam somente aos fins de semana, tendo bons amigos na escola também. Era
uma turma bem diferente dos meus primos, com outras formas de aventuras e confusões,
mas eram meus melhores amigos quando não estava em família.
Meu melhor amigo era o Hugo, um
ruivo com sardas nas bochechas e muito bonzinho. Tinha a dupla inseparável formada
por Tomás e Sidnei. O Tomás era um pouco gordinho e bem rico, o que o tornava
um pouco metido às vezes, e o Sidnei era o CDF da escola, o que nos ajudava
muito na hora dos trabalhos e provas. Para fechar a turma vinha o Cleber, um
garoto bem gordinho, baixinho e de cabelos enrolados. Adorava esportes,
principalmente futebol, apesar de não se dar muito bem com eles devido ao seu
porte físico.
Estávamos juntos desde a
pré-escola, e acho que a lembrança mais antiga de uma bagunça que tenho dessa
turma foi quando atiramos uma pedra na cabeça do Cleber. Foi mais ou menos
assim: Estávamos os cinco no parquinho da escola, de modo que o Hugo, o Sidnei
e eu estávamos ocupando os três únicos balanços que havia. O Tomás e o Cleber
esperavam a vez, que não chegava nunca. Então o Tomás, de saco cheio, inventa
que tinha uma brincadeira nova, para deixarmos para lá o balanço de modo que
ele nos ensinaria como era. Curiosos, descemos dos balanços para acompanha-lo,
levando-nos ao corredor atrás da sala de lanches.
_ É assim: cada um pega uma pedra
na mão. – Disse mostrando as pedras, dessas usadas para fazer calçadas de
jardim, e assim o fizemos. – Vamos tirar dois ou um e a pessoa que sair tem que
correr o máximo que puder, tentando pular das pedras que vamos tacar em seus pés,
ok?
Nem pensamos nas consequências e
aceitamos de imediato, tirando o dois ou um. Quando o Cleber viu que tinha sido
o único a mostrar o um com o dedo, saiu correndo imediatamente, enquanto
começamos a jogar as pedras nele, pegando mais no chão. Conforme ele se
afastava no longo corredor, mais fortes eram os arremessos, o que, devido a
nossa falta de coordenação devido a pouca idade, mais alto eram lançadas, até
que...
_ Ai! Ai! Ai! Tá doendo! –
Começou a berrar o Cleber, com a mão na testa.
Todos travamos, como que acordando
do que havíamos feito sem pensar. Com os gritos, a professora, dona Eleonor,
veio correndo.
_ O que está acontecendo aqui? O
que houve com sua cabeça, Cleber?
_ Eles jogaram pedras em mim,
tia. – E mostrou a testa, vermelha e com um grande galo.
_ Onde vocês estavam com a
cabeça? Vão já para a diretoria enquanto levo o Cleber pra colocar gelo nessa
testa.
Fomos para a direção, ainda sem
acreditar no que havia acontecido. Mesmo o Tomás estava assustado, pois, apesar
de ter dado a ideia, não pensou que aquilo pudesse machucar alguém.
Nossos pais foram chamados e
tivemos que tentar explicar o porquê daquilo, o que não conseguimos. E quando
nos perguntaram quem tinha acertado a pedra, afinal, todos nos olhamos,
inclusive o Cleber, sem saber que resposta dar. Realmente, não nos lembrávamos,
e mesmo tempos depois, essa resposta desapareceu da cabeça de todos nós.
Depois da pré-escola fomos todos
juntos para a mesma escola. Era uma escola pequena, com um pátio não muito
espaçoso e uma cantina que vendia um pouco de tudo que era gostoso:
salgadinhos, balas, refrigerantes, salgados, cachorro quente... só não vendia
goma de mascar, para não colarmos embaixo das carteiras no meio da aula. Para
que as garrafas de refrigerante não ficassem espalhadas pelo pátio, a cantina incentivava
com balas quem as recolhessem: a cada cinco garrafas, davam uma bala. Bala,
naquela época, era a moeda local da escola. Tudo se conseguia com ela.
_ Copia a lição pra mim?
_ Quantas balas eu ganho?
Ou mesmo:
_ Se você me dar uma bala eu deixo
você brincar com o meu soldadinho no intervalo.
Como ter bala representava poder,
resolvemos, os cinco, montar uma máfia da bala. Decidimos todos os dias nos
espalhar pelo pátio e recolher o maior número possível de garrafas, trocando-as
pelo nosso objeto de desejo, e para ajudar, recrutávamos os alunos mais novos.
_ Se vocês nos ajudarem a pegar
garrafas, no final do intervalo a gente paga vocês com balas.
E eles aceitavam, já que, para
evitar acidentes, os mais novos não entravam na proposta da troca com a
cantina, não os incentivando a ficar andando pelo pátio carregando garrafas. Isso
resultava num montante de cerca de dez balas ao final do intervalo, enquanto
que, se fosse apenas nós cinco, não conseguiríamos nem metade.
Um amigo da nossa sala, o Mario,
resolveu ajudar, e ele era muito bom, tendo um plano tonto mas funcional.
_ Seu Josias, trouxe algumas
garrafas. Onde coloco?
_ Deixa no balcão, Mario, depois
eu guardo.
_ Que isso, seu Josias. Pode
deixar que eu coloco na caixa.
E assim ia o Mario, anunciando as
garrafas que ia trazendo direto para a caixa e ganhando as balas, só que ao
invés de a cada cinco garrafas, o Mario ganhava uma a cada três.
_ Aqui. Três garrafas, seu
Josias... – E colocava dentro da caixa. Tirava duas, fingia que as pegava do
chão, colocando-as na caixa de novo. - ... e mais duas. Manda uma bala aí.
O seu Josias, naquela correria e
gritaria da molecada, acabava por nem perceber o golpe, o que nos rendia muitas
balas. Como o Mario não era muito a fim de balas, ele trocava por outros
favores: seu nome nos trabalhos escolares. Era uma ótima troca, para os dois
lados.
(Leia a continuação em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/11/aos-meus-amigos-11.html )
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