quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Aos Meus Amigos - 15

(Não tem acompanhado desde o início? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


O assunto do momento na cidade era o Baile do Havaí do clube local. Claro que era um baile que tinha todo ano, mas aquele seria o primeiro que nossos pais nos deixariam ir sozinhos, pois já estávamos com a idade mínima para isso.
_ Será que a gente descola umas gatinhas? – Era a empolgação do Sidnei.
_ Eu vou pra curtir, se rolar alguma coisa, rolou. – Disse eu.
_ Você fala isso porque já andou dando uns beijos, né Leo? Já a gente... – Choramingou o Cleber.
Era verdade. Da turma eu era o único que já havia dado uns beijos, graças, mais uma vez, às saídas que dava com a turma do André.
Eu estava um pouco dividido, pois além de combinar com o pessoal da escola, o André e o Manezinho também tinham me chamado para irmos juntos ao baile. Nessa época já não íamos mais brincar tanto na casa dos nossos avós, pois já estávamos interessados em outras coisas. O João, como era mais velho, tinha optado por continuar os estudos numa escola agrícola em outra cidade, e o Manezinho vez ou outra se juntava à turma do André nos finais de semana. Mas aquele baile prometia, e eu sem saber o que fazer quanto às turmas.
_ Você vai ter que se decidir Leo. – Falou o Hugo, um pouco enciumado. – Você vai ficar com a gente ou com seus primos?
_ Relaxa Hugo. Vou ficar com vocês.

O dia do baile chegou, e meus pais levariam meu irmão e eu até a frente do clube para nos buscar de volta as duas da manhã. Minha irmã iria com o namorado, mas ficaria na parte de mesas reservadas, o que era bom, pois evitaria que ficasse no nosso pé. Já o meu irmão não queria ir, alegando não estar bem, mas meus pais insistiram para que ele fosse, estranhando sua vontade, uma vez que todos os seus colegas de sala estariam lá. Eu sabia o real motivo para ele não querer ir.
_ Deixa eu dormir na casa do André, mãe? – Pedi pela milésima vez.
_ Nada disso. O André não tem muitas regras na casa dele e não sei que horas ele vai embora, então nada feito. E é bom estarem aqui na frente pontualmente às duas horas, heim? Se não será sua primeira e última vez, Leo, já que o Lourenço nunca desobedeceu horários.
_ Pai?! – Tentei
_ Sua mãe já falou, então não insista.
Descemos do carro, meu irmão e eu, e já nos dirigimos ao portão de encontro combinado com a turma. Meu irmão ficou sozinho, encostado num muro.
_ Tava achando que ia furar Leo, e que viria com seus primos. – Cutucou o Tomás.
_ Nada disso moçada. Combinado é combinado. – E entramos.
O Clube era bem grande, dando a volta pelas piscinas onde ficavam as mesas reservadas e todo decorado com frutas e flores. Estava lotado. Conforme andávamos tínhamos que parar a todo instante por encontrar algum conhecido da escola. Estávamos todos eufóricos pelo nosso primeiro baile.
_ Vocês viram que aquela gostosa da Isabela tá aqui? – Comentava um.
_ A banda tá muito legal. Vamos lá na frente. – Falava outro.
_ Daquele lado tá meio barra pesada, não vão pra lá não. – Avisava outro.
E assim foi, andando pelo clube, papeando, paquerando e tudo mais. Vez ou outra passávamos pela banda, outras vezes íamos para perto do bar, depois entrávamos no salão onde tocava um DJ. Eu não tinha visto meus primos ainda, mas o tempo todo via meu irmão, não mais sozinho e sim com o Borges, seu amigo fora da escola.
_ Vamos comprar um refrigerante? – Sugeriu o Cleber, e assim fomos.
Enquanto o Cleber comprava ficha para o refrigerante avistei o André com um amigo que eu não conhecia.
_ Pera aí, só vou dar um oi para o meu primo. – E saí.
_ Ô Leo! Por onde andou? – Perguntou o André.
_ Estava por aí, dando umas voltas. E vocês?
_ Estamos perto do parquinho. O Manezinho tá lá. Que tal dar um oi para ele?
Olhei para os moleques e fiz um sinal com a mão para me esperarem. Percebi na hora que desaprovavam minha ação. O lado do parquinho era justamente o lado em que haviam nos dito para evitar por estar meio barra pesada. Chegando lá, estavam o Manezinho, o Sabugo, o Jonatan, o Otávio e o Silvinho. O amigo que eu não conhecia se chamava Vini, e fomos apresentados ali mesmo.
_ Que estão fazendo aqui ao invés de andarem por aí? – Perguntei.
_ Bebendo um pouco. – Falou o Sabugo.
_ Bebendo o que?
_ Experimenta Leo. – Ofereceu o Silvinho, estendendo o braço com um copo.
Peguei o copo e dei um gole. Era forte de álcool e doce ao mesmo tempo. Muito gostoso.
_ Que delícia! Que é isso?
_ É Martini. – Disse o Manezinho. – Gostoso né?
_ Caramba! Bom demais. Como conseguiram?
_ O Jonatan tem um primo que tá trabalhando no bar. Aí a gente dá o dinheiro pra ele e ele pega pra gente. – Disse o André.
_ Então pega um pra mim também Jonatan. – E lhe dei o dinheiro.
Fiquei ali, bebendo, e nem me lembrava que tinha pedido para a outra turma me esperar. Como não estava acostumado, rapidamente comecei a me sentir tonto, mas era uma tontura gostosa. O Manezinho também estava assim, mas o André não, então percebemos que ele já estava mais acostumado.
Vez ou outra alguém da turma do André acendia um cigarro, e o André sempre dava umas tragadas.
_ Quer um trago Leo? – Perguntou.
Olhei para ele e para os outros e, fora o Manezinho, todos pareciam esperar que eu aceitasse. Peguei o cigarro e dei uma puxada. Aquilo ardeu muito a garganta e imediatamente comecei a tossir. Todos caíram na risada e eu quase vomitei, ficando com os olhos cheios de lágrimas.
_ Que bosta! Vou no banheiro lavar o rosto. – E sai.
Entrei no banheiro e comecei a lavar o rosto. Nisso ouso a voz do meu irmão:
_ Que aconteceu Leo?
_ Nada. Só engasguei.
_ Você tá fedendo cigarro. Andou fumando?
_ Eu não! Tá louco?
_ Deixa eu cheirar sua boca.
_ Sai fora! – E fui me esquivando, saindo do banheiro.
Comecei a procurar o Hugo e companhia, encontrando-os perto da banda pouco depois.
_ Onde você tava Leo? – Perguntou o Tomás.
_ Eu não encontrava mais vocês. – respondi.
_ Mentira! Você tava com seus primos. Eu vi. – Retrucou o Hugo.
_ Fiquei só um pouco lá, aí voltei pro bar e não achei mais vocês.
Eles estavam meio que bravos comigo, mas fiquei por ali mesmo, um pouco mal por causa da bebida e do cigarro, e a coisa foi piorando.
_ Que você tem Leo? – Percebeu o Cleber.
_ Nada. Eu... – E virei a cabeça em direção ao canteiro e comecei a vomitar.
Eles ficaram preocupados. Esperaram eu parar de vomitar e trouxeram água. Bebi e comecei a me recompor.
_ Não sei o que me deu...
_ Leo. Você Bebeu? – Perguntou sério o Sidnei. Fiquei quieto, mas ele insistiu. – Você tá com jeito de bêbado. Bebeu ou não?
Baixei a cabeça, o que acabou me entregando. Eles ficaram bem decepcionados, e mal nos divertimos depois daquilo até chegar duas da manhã, que era o mesmo horário para ir embora de todos nós. Fomos em silêncio até a frente do clube, onde encontrei meu irmão e me distanciei da turma, com um breve tchau.
_ Vou contar pros pais que você fumou.
_ Cala a boca! Não fiz nada não!
_ Fez sim, e eu vou contar.
_ Conta então! E eu conto pra todo mundo da menina que você gosta.
Silêncio. Ele ficou sem reação, até que ouvimos a buzina do carro e vimos que era meu pai. Fomos até lá. Quietos, e entramos.
_ E aí? Como foi? – Perguntou meu pai, empolgado pela resposta.
_ Legal. – Respondeu meu irmão, seco.
_ Legal. – Respondi também seco.
E fomos para casa, sem falar mais nada.

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