quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Aos Meus Amigos - 16

(Não tem acompanhado do início? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


_ No começo é ruim, mas depois fica da hora, Leo. Tenta de novo. – Foi o que me disse o Vini, oferecendo um cigarro.
Descobri que o Vini morava perto da casa do vô Tonico, então como almoçávamos lá todo domingo, o André e eu sempre íamos a casa dele, o que nos aproximou bastante. Em relação à turma da escola, depois do baile do Havaí prometi que não beberia mais, mas era só me encontrar com o André e companhia que acabava bebendo algo, o que foi ficando cada vez mais frequente. O cigarro que havia prometido para mim mesmo não fumar mais, pois foi ele que me fez passar mal naquele dia, mas a cada encontro com a turma mais pensava em quebrar tal promessa, vendo o prazer que sentiam a cada tragada.
_ Mas e se eu passar mal de novo Vini?
_ Puxa só um pouquinho. Acho que aquele dia você tragou muita fumaça. – E me entregou o cigarro.
_ Que acha André? – Perguntei, olhando para ele enquanto fumava um cigarro.
_ Você é quem sabe. Eu gosto.
Levei o cigarro à boca e dei uma leve tragada. A fumaça ardeu um pouco a garganta, mas não cheguei a tossir. Senti uma leve tontura, relaxando o corpo. Achei gostoso, apesar do gosto ruim na boca.
_ É! Acho que estou pegando o jeito...

Naquela tarde havíamos combinado de andar de bicicleta. Como tinha chovido decidimos ir ao pasto atrás do estádio, pois a graça era seguirmos pelos trilhos deixados pelo gado e passarmos com tudo dentro das poças d’água, nos molhando todo. Além do André, do Vini e de mim, estavam também o Manezinho, o Silvinho e o Jonatan. Na minha bicicleta havia uma pequena bolsa presa ao quadro, então pegamos o maço de cigarro que havíamos comprado, enrolado num saquinho plástico e colocado dentro para não molhar.
_ Eu vou na frente. Me segue moçada! – Disse o André, que continuava com o costume de liderar as bagunças.
Pegamos uma trilha e a seguimos. O pneu de trás jogava barro tanto nas nossas costas como na cara do que estava atrás, então a sujeira era geral.
_ Tem uma poça ali. Acelera todo mundo!
E passávamos com tudo por dentro dela, voando água pra todo lado.
_ Hahahahaha! Essa foi boa. Não parem não!
Na próxima poça o André passou com tudo, mas o Jonatan, que estava atrás, acabou batendo o pneu da frente num buraco encoberto pela água e foi pro chão. Como estávamos bem próximos não deu outra: o Vini já bateu nele e caiu; eu, que estava atrás do Vini, tentei desviar, mas derrapou o pneu e também fui ao chão; o Manezinho brecou a tempo, mas o Silvinho o acertou por trás derrubando os dois. Enquanto nos levantávamos, rindo, o André tirava o maior sarro.
_ Acho que seguindo por essa direção tem um riozinho. – Disse o Silvinho, apontando com o dedo.
_ Então vamos lá! – Todos concordaram.
Avistamos o riozinho no final de uma descida, e o Manezinho já foi gritando:
_ O último que chegar é bicha!
E todo mundo foi pedalando o máximo que conseguia, entrando direto na água com bicicleta e tudo.
_ Pensa rápido! – Gritei jogando uma bola de lama nas costas do Jonatan, e a guerra começou, um jogando barro no outro ou pulando encima para afundar na água.
_ O bom que assim lava as bicicletas também. – Falei.
Nisso todo mundo parou e me olhou.
_ Que foi povo?
_ Sua bicicleta! Ergue sua bicicleta! – Gritava o Silvinho.
_ Por quê? O que aconteceu?
_ O cigarro Leo! O cigarro... – Disse desanimado o André.
Como poderíamos ter esquecido? Levantei rapidamente a bicicleta e abri a bolsa do quadro. O maço estava totalmente encharcado.
_ Que bosta! E agora? – Falou o Jonatan.
_ Me dá isso aqui. – Pediu o Vini, pegando o maço. – Manezinho, essa sua camiseta parece velha, né?
_ É sim, Vini. Como sabia que ia sujar peguei uma bem velha.
_ Tudo bem se ela estragar?
_ Acho que sim. Por quê?
_ Você vai ver. Me dá ela aqui.
O Vini pegou a camiseta e a estendeu na grama. Pegou os cigarros do maço, todos molhados, e começou a desmanchá-los, jogando o tabaco sobre a camiseta. Quando todos os cigarros já estavam desmanchados começou a enrolar a camiseta, torcendo o local do tabaco, escorrendo um caldo preto conforme torcia.
_ Assim a gente tira o excesso de água e deixa o fumo secar no sol. Leo, Jonatan, vão procurar algum jornal ou papel seco. Perto do estádio deve ter.
E assim o fizemos, obedecendo de imediato à ordem, loucos para ver se daria certo a experiência e fumarmos.
_ Essa mancha na minha camiseta não vai sair né Vini? – Perguntou o Manezinho.
_ Não. Por isso perguntei se podia estragar. – E colocou o fumo para secar depois de torcer bastante e tirar muita água.
Tempo depois o Jonatan e eu voltamos com umas folhas de jornal que encontramos numa caçamba de lixo. O Vini e o Silvinho começaram a separar o fumo e enrolar nas folhas, fazendo cigarros improvisados.
_ Ok. Mas e para acendermos? – Observou o André.
Mais uma vez travamos, sem saber o que fazer.
_ Acho que sei. Tem um amigo meu que mora aqui perto. Posso ir lá e pedir um fósforo.
_ Que amigo Leo? – Perguntou o André.
_ O Tomás.
_ E o que você vai falar pra ele? – Quis saber o Manezinho.
_ Posso falar que é pra soltar bomba, sei lá.
_ Então vai Leo. A gente te espera atrás do estádio.
E fui em direção à casa do Tomás, imaginando o que falar, pois ele sabia que a turma do André fumava e poderia desconfiar. Chegando lá comecei a chama-lo.
_ Tomás! Tomás!
A vó dele sai.
_ Oi Leo. O Tomás tá no quarto dele. Entra.
_ Não. Obrigado vó. Só quero falar com ele rapidinho. Pode chama-lo?
Pouco depois vem o Tomás.
_ Ô Leo. Entra um pouco.
_ Não Tomás, é rapidinho. Estamos soltando umas bombas e queria saber se pode me emprestar uma caixa de fósforo. O nosso molhou.
_ Com quem você tá soltando bomba?
_ Com meus primos.
_ Posso ir com você?
_ Bem... – Fiquei procurando uma desculpa. - ...pode, mas o Vitor tá lá também, e sei que vocês não se dão bem. – Menti, referindo-me a um menino que morava perto da casa dele e que viviam brigando.
_ O Vitor? Mas o que ele faz lá?
_ Ele nos viu soltando bomba e parou por lá.
_ Tá. Espera aí que vou pegar o fósforo.
Peguei o fósforo e mal me despedi do Tomás, voltando rapidinho com a turma, que esperavam ansiosos atrás do estádio, que não era longe. Acendemos um dos cigarros improvisados e fomos passando um para o outro. Só o Manezinho não fumava, mas aceitava de boa. Às vezes eu dava uma ou outra tossida, mas estava gostando.
_ Vem vindo alguém de bike. – Disse o Manezinho. – Acho que é seu amigo, Leo.
Quando olhei vi que era o Tomás, e ele estava junto com o Sidnei.
_ Caralho! – Reclamei. – Qualquer coisa eu não estava fumando, heim!
Eles se aproximaram um pouco ressabiados.
_ Ué! Cadê as bombas, Leo? – Perguntou o Tomás.
_ Não acenderam e jogamos fora. Estavam molhadas. – Respondi. Os outros só olhavam.
_ Aí vocês decidiram fumar? – Disse o Sidnei. – Você tá se perdendo, Leo. Não é mais o mesmo.
Baixei a cabeça, quieto, mas o Silvinho tomou as dores.
_ Vão se foder, seus playboyzinhos. Ele faz o que quiser. Mas se quiserem encher o saco é só falar... – E foi indo na direção deles, mas eu o segurei pelo braço.
_ Deixa Silvinho. Deixa quieto...
_ Bem, Leo, você vai ter que fazer uma escolha. – Falou o Tomás. – Se quiser continuar nosso amigo para com essas coisas de cigarro e bebida. Você sabe que isso é errado.
Mais uma vez baixei a cabeça e fiquei quieto.
_ Vamos embora Tomás. Acho que a escolha foi feita... – E saíram os dois.
_ Babacas! – Gritou o Jonatan.
Passei o resto do domingo quieto, mal sorrindo e totalmente desatento. No dia seguinte, na escola, nem o Tomás e nem o Sidnei falaram comigo. O Cleber e o Hugo já estavam sabendo, mas não se afastaram totalmente. Depois daquilo, percebi que havia acabado de perder dois bons amigos. Era uma nova fase que se iniciava, e nela estariam presentes bebidas e cigarro...

(Fim da Parte I)

(Primeiro capítulo da Parte II em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2014/01/aos-meus-amigos-1-parte-ii.html )

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