segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 23 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

Naquele final de ano o Ivan terminava a oitava série, e haveria sua festa de formatura. Quase que a família toda iria, e como ele estava grudando em nós aos fins de semana convidou a turma toda também, de modo que alguns teriam que comprar as entradas, e deixou bem claro ao André:
_ Tio, eu quero beber!
_ Pode deixar Ivan. A gente da um jeito de você beber sem sua mãe perceber.
Ele estava muito excitado com aquilo.
Outra coisa legal foi o Jonatan tirar carta, e com o dinheiro que juntou trabalhando com o pai acabou comprando uma mobilete. Não que fosse preciso carta para a mobilete, de modo que muita gente tinha uma sem ser maior de idade, mas para que o Jonatan pudesse ter a sua aquela era a exigência do seu pai. O bom da carta é que às vezes ele podia pegar o carro também, o que ampliou nosso leque de diversão.
_ Como vai ser na formatura? Já pensou em algo André? – Perguntei, em meio a uma partida de bilhar, pra variar.
_ Ainda não. Mas essa vai ser a estreia do Ivan.
_ Vai ter bebida liberada? – Quis saber o Neuza.
_ Não. Eles servirão comida de um buffet contratado com o dinheiro arrecadado pela turma ao longo do ano. Água e refrigerante vai ter, mas bebida alcoólica não. Teremos que comprar no bar mesmo.
_ O duro é que a bebida nesses bares de formaturas é uma facada. – Reclamou o Hugo.
_ E não pode levar? – Perguntou o Mário.
_ Geralmente em formaturas permitem aos familiares levarem garrafas de uísque ou vodca. – Lembrou o Jonatan.
_ É mesmo! Vai ser fácil então.
_ Sua irmã não vai achar ruim? – Questionei.
_ Se achar eu brigo com ela. Vamos rachar uma garrafa de uísque então.
Estava decidido.
_ Você vai de carro, Jonatan? Seria legal pra zoar depois. – Quis saber o Mário.
_ Se meu pai liberar sim, mas não sei. Pelo menos de mobilete eu vou.
_ Ai você passa em casa. – Já se convidou o André.
E continuamos nossa noite de bebidas, cigarros e bilhar.

A noite da formatura chegou. Fui com meus pais, meu irmão, a Rosália, o Roberto e o Neto, que já corria por todo lado, dando um bom trabalho de vez em quanto. A família toda estava reunida em duas mesas, e tinha mais uma só para a turma. Como era pedido no convite, todos teriam que ir de terno, o que nos deixava parecendo sérios. Ver meu irmão daquele jeito foi hilário:
_ Combina com você, Lorde. Devia andar sempre assim.
_ Vai se foder!
_ E o tio André? Vai demorar? – Perguntava o Ivan, ansioso.
_ Fica tranquilo, Ivan. Hoje a noite promete.
A turma foi chegando aos poucos: o Hugo e o Mário foram os primeiros, chegando juntos. O Cleber veio logo em seguida, procurando onde estávamos. E logo chegou o Jonatan e o André, que tinha ido de mobilete mesmo. O André carregava o uísque.
_ Não vai beber demais, ouviu Leo? – Já dizia minha mãe ao ver a garrava sendo colocada na mesa.
_ É só um pouco, mãe.
_ Posso entrar no racha com vocês? – Puxou meu irmão, falando ao meu ouvido.
_ Vou ver com o pessoal, mas acho que tudo bem.
Chamaram os formandos para a entrada de abertura. O Ivan saiu e abrimos a garrava. Ele olhava o tempo todo para nós.
_ Vamos deixar um copo preparado com uísque e refrigerante. – Disse o André. – Assim que ele voltar é só ele não dar bandeira que ninguém vai desconfiar.
E tomamos uma dose cada. Meu irmão junto. A garrafa já desceu significativamente, o que nos preocupou.
_ Alguém quer água ou refrigerante? – Perguntou o garçom.
_ Refrigerante, por favor. – Pedi, já como parte do plano.
_ Refrigerante?!? – Provocou o Rodolfo, irmão do André, da outra mesa.
Só fiz um sinal para ele e mostrei o copo de uísque. Ele ficou rindo. Não sabia de nada.
Os formandos entraram de acordo com o protocolo. A mesa com direção, coordenação e professores faz seu discurso e os diplomas foram entregues. A Inês, mãe do Ivan, e a tia Josefa choravam de emoção. E o Ivan sempre olhando para nós, e estendíamos nossos copos em homenagem a ele, que sorria. Minutos depois, se sentava na nossa mesa após ser parabenizado por toda família e amigos.
_ E agora, tio André?
_ Agora? É só beber seu refrigerante, hehehehe.
Ele pegou o copo sem entender, e o incentivamos a beber. Deu um gole, engasgando com o gosto da bebida. Todos rimos.
_ Nossa! Tá forte.
_ Deixa de ser bundão, Ivan. Estamos todos tomando puro. – Soltou o Lourenço.
Ele deu outro gole, fazendo uma careta.
_ Ivan, se continuar assim vai denunciar pra sua mãe. – Falou o Jonatan.
Ele deu outro gole, disfarçando um pouco, mas era evidente que estava achando forte.
_ Acho melhor misturar com mais refrigerante, se não ele não vai aguentar e vai denunciar. – Sugeriu o Hugo.
Não gostamos da ideia, mas o fizemos.
E a garrafa descia...

_ Cara, já tô bem louco. – Disse o Neuza enquanto dávamos uma volta para um cigarro lá fora.
_ Certeza. Eu também. – Concordei.
_ Seus fracotes! – Disse meu irmão, que se juntou a nós para o cigarro, mas já claramente alterado também.
_ O duro é que a garrafa tá acabando. – Lembrou o André.
_ Vamos ter que comprar mais. – Sugeriu meu irmão.
Nisso, ele tirou da carteira uma nota um tanto alta.
_ Aqui tá minha parte da garrafa, e um pouco mais pra ajudar. Quanto vocês têm?
Tiramos nossas carteiras e olhamos. Somava uma quantia até que significativa devido a nota do meu irmão.
_ O pessoal lá dentro deve ter um pouco mais. – Falou o Jonatan.
_ Vamos passar no bar e perguntar o preço da dose. – Disse o André, já saindo.
Ao chegar no bar encontramos o Rodolfo, comprando justamente uísque.
_ Acabou o estoque? Hahahaha! – Disse ele.
_ É. Quanto tá a dose, Rodolfo? – Perguntei.
_ Quanto você faz para eles, Galego? – Perguntou o Rodolfo para o cara do bar.
_ São seus parente?
_ Esse é meu irmão e esses dois são primos. O restante é amigo.
_ Bem, sendo assim, pela amizade que temos, faço dois por um. E caprichado.
Aquilo nos animou muito. Voltamos para o salão contar para o Mário, o Hugo e o Ivan. Todos ficaram muito felizes, principalmente o Ivan, que já estava de fogo e tínhamos que a toda hora pedir para que disfarçasse a bebedeira.

_ Vamos embora, Ivan? Já está tarde. – Era a Inês chamando-o.
_ Ah, mãe! Deixa eu ficar com o tio André e o Leo?
_ Não sei não. Você é muito novo.
_ Eu cuido dele, Inês. Deixa, vai? – Disse meu irmão. Não acreditávamos naquilo.
_ Bem, se o Lourenço te acompanhar até a casa da sua vó tudo bem. Afinal, ele é mais velho. Mas não é para irem embora muito tarde, entenderam?
Todos concordaram com a cabeça, já bem altos mas disfarçando.
Aquilo representou a glória. Todos os adultos foram embora. Ficamos apenas nós com o Ivan e as doses de uísque em dobro. Minha mãe tinha dado um sermão básico antes de ir mas já estávamos acostumado àquilo. Finalmente poderíamos nos soltar.
_ Então vamos a uma nova rodada!!!
E todos nos dirigimos ao bar encher os copos. O Ivan misturando com refrigerante e ainda disfarçando, uma vez que na festa ainda tinha muitos pais de seus colegas de classe.
Ao voltar para o salão com os copos cheios o Hugo me cutuca:
_ Leo, olha embaixo daquela mesa!
Quando olho para a mesa apontada por ele vejo uma garrafa de uísque, levemente escondida e sem ninguém nela. Aquilo nos atiçou, e puxei o Ivan.
_ Quem tava sentado nessa mesa?
O Ivan se aproxima e lê o nome impresso num papel na mesa.
_ É da Laura, a menina mais rica da sala. O pai dela é médico.
_ Onde eles estão agora?
_ Dançando no salão. – Diz ao olhar ao redor. – E a Laura tá naquele grupo de meninas.
Olhei para o Hugo que olhava para a garrafa que olhava para nós. Num impulso, o Hugo soltou:
_ Chama o pessoal e me encontra lá fora.
Se agachou, pegou a garrafa e saiu rapidamente. Fui avisar a turma.

_ Onde está indo, Leo? – Perguntou o Jonatan, vendo eu me afastar já muito bêbado.
Nesse momento estávamos na praça em frente ao salão, onde tínhamos ido fumar um cigarro. Meu irmão dormia numa das mesas do clube, chapado depois de mostrar para a gente como se virava um copo de uísque, fazendo isso três vezes seguida. O Mário já tinha ido embora sem conseguir manter uma linha reta. O Hugo reclamava que estava passando mal enquanto o Neuza vomitava numa árvore. O Ivan mal conseguia falar, enquanto o André e o Jonatan fumavam sentados num dos bancos da praça, zonzos.
_ Vou cagar. – Respondi.
Me dirigi a um dos vaso do jardim e baixei as calças. Aquilo despertou o Ivan.
_ O que o Leo vai fazer? – Disse, enrolando a língua.
O Jonatan e o André olharam, assustando.
_ Que tá fazendo, Leo? – Gritou o Jonatan.
_ Vou cagar.
O André só dava risada, e o Hugo correu em minha direção.
_ Leo! Você vai cagar no vaso de planta?
_ Vou cagar. – Era tudo o que eu dizia.
_ Me ajuda a tirar ele daqui. – Pediu o Hugo, e o Jonatan e o Neuza o ajudaram.
_ Cara, depois dessa eu vou embora. – Anunciou o Neuza.
_ Você tá bem, Leo? – Perguntou o André.
Concordei com a cabeça enquanto arrumava as calças.
_ É. Acho melhor irmos todos. – Concluiu o Jonatan.
Acordamos meu irmão e fomos embora, trançando as pernas.
No dia seguinte ficamos sabendo de vários ocorridos: o Ivan, sabe-se lá se de bêbado ou se de sonâmbulo, saiu três vezes na rua de cueca, de modo que a tia Josefa teve que ir busca-lo nas três vezes, perguntando o que estava acontecendo enquanto ele falava coisas desconexas; o Neuza se perdeu no caminha para casa, chegando quase ao amanhecer; o Jonatan e o André caíram de mobilete e tinham ralado o joelho e os braços; o Hugo vomitou na cozinha ao entrar e ver um frango descongelando sobre a pia; e o Mário tinha dado o maior trabalho na casa dele, de modo que o seu pai precisou dar banho nele, e quando perguntava o que ele tinha feita pra ficar daquele jeito ele respondia:
_ Bebi conhaque com churrasco.

Nem tinha churrasco na festa. Muito menos conhaque.

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