domingo, 17 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 24 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


Mais um ano novo se passou. Como no ano anterior, nos divertimos muito, voltando só ao amanhecer. Dessa vez sim vi o nascer do sol, e nem nos preocupamos em ir atrás de mulherada, apenas beber e encontrar amigos e conhecidos. Meu irmão ficou um tempo conosco, mas sempre saia pra zoar com sua turma. Em certa altura avistei o Manezinho, com um pessoal nada amigável. Decidi falar com ele.
_ E aí, Manezinho? Quanto tempo?
_ Oh! Leo?
Ele parecia chapado, e não era de bebida.
_ Cara, como você tá? O pessoal disse que largou da namorada.
_ É. Tô de boa. Só curtindo.
_ Tá bem mesmo? Não parece muito não.
_ Leo, tô de boa, ok?
_ Tá certo. Não quer ir com a gente um pouco?
_ Não. Tô de boa.
Nem me despedi direito e fui saindo. Que droga. Tempo depois descobri que tinha engravidado uma menina. Pelo que minha mãe falou o tio Mané estava bem mal com as histórias todas, e o João trabalhava numa fazendo numa cidade bem distante, de modo que nem podia ajudar. Era triste isso.

Logo as aulas voltaram também. Meu último ano de colégio, e eu nem sabia o que queria fazer da vida, mas logo depois da volta às aulas chegou novamente o carnaval.
_ Não vai arrumar namorada de novo não, heim Leo? – Brincou o Hugo.
_ Tô fora. Nada de namorada, só farra.
Como no ano anterior arrumamos alguns tubos de lança-perfume, mas não muitos, pois o preço estava bem mais alto. E, como já tínhamos aprendido, nada de levar para o salão, então decidimos ir toda tarde ao sítio do pai do Jonatan para fazer churrasco, beber e usar o lança, claro, e isso tudo facilitava com a carta de motorista do Jonatan.
_ Mas não cabe todo mundo. Como vamos fazer? – Perguntou o Neuza.
_ Se o Jonatan deixar posso ir de mobilete. – Ofereceu o André.
_ Se você for por estrada de terra pra não pegar pista pode ser. – Disse o Jonatan.
Então estava tudo certo: nas tardes de carnaval faríamos churrascos nos sítio do Jonatan, regados de cervejas e lança-perfume.
_ E o Ivan? Vai também? – Perguntou o Mário.
_ Só no salão. Para os churrascos não. – Respondeu o André.
Aquilo mostrava como as coisas mudavam rapidamente. Demorou tanto para podermos ir sozinhos a um carnaval e os pais do Ivan o deixaram numa boa. Só não poderia ficar até o fim, de modo que seu pai o buscaria por volta das duas.

As noites foram bem legais: muita gente, canja na frente do clube, padaria depois do término e tudo mais. A Maria e a Rosana foram para o carnaval novamente, mas não rolou nada entre a Maria e o Mário, apenas se divertiam como bons amigos. O Ivan também se divertia muito, saindo completamente suado de tanto que pulava no meio do salão, se revezando entre ficar com a gente ou com seus amigos que também estreavam no carnaval. Assim como eu fiz no passado, de querer juntar a turma da escola à turma dos primos, o Ivan também queria juntar sua turma à nossa, e nos apresentou seus dois melhores amigos:
_ Tio André, Leo e pessoal, esses são o Antônio e o Hélio, meus amigos da escola.
_ Opa!
_ E aí?
_ Beleza?
E de imediato não demos muita bola, mas pareciam bons moleques.
Mas mais que as noites, foram nas tardes de churrasco e lança-perfume que realmente nos divertimos, de modo que meus pais nem reclamaram de não ficar com a Maria e a Rosana, uma vez que elas dormiam quase que o dia todo.
_ Quem vai no carro comigo? – Disse o Jonatan. - Alguém vai ter que ir com o André de mobilete, caso contrário não terá espaço para as coisas no carro.
As coisas eram as bebidas, carne e outras coisas que levávamos para passar a tarde toda.
_ Eu vou. – Disse o Neuza.
E assim saímos, indo todos juntos por estrada de terra para o caso de algo acontecer com a mobilete, como furar o pneu ou qualquer outra coisa. O sítio não era muito longe.
_ E se já mandarmos uma rodada aqui no carro mesmo? – Sugeriu o Hugo.
_ Nem fodendo. – Reclamou o Jonatan. – Eu estou dirigindo e não vou poder usar.
_ Então vamos só fingir que estamos cheirando o lança quando passarmos por eles. – Falei. – Eles vão ficar putos.
_ Boa ideia. – Respondeu o Mário.
O Jonatan então começou a acelerar para passa-los, e enquanto isso nos preparávamos. Conforme nos aproximávamos, o Jonatan já foi buzinando, e quando olharam enquanto passávamos por eles fingimos estar loucos mostrando o tubo.
_ Não vale!!! – Gritava o Neuza.
_ Pode encostar o carro, Jonatan! Também queremos! – Exigiu o André.
E a ideia pareceu boa para todos. Paramos o carro embaixo de uma árvore e demos uma rodada cada um, acendendo cigarros e abrindo latas de cerveja enquanto o efeito passava. Foi bem gostoso, e o restante do percurso até o sítio estávamos bem alegres, colando nossas bundas no vidro do carro para provocar o Neuza e o André toda vez que os passávamos.
_ Seus viados! – Gritavam.
_ Vou comer essa bundinha! Cuzões!

No sítio arrumamos tudo para o churrasco, colocando as bebidas na geladeira da casa sede e acendendo o fogo. Mais latas foram abertas e cigarros acesos. Carnes na grelha e novas rodadas de lança.
_ Cara! Isso é demais! – Berrava o Mário.
_ Bem que poderíamos fazer algo depois de comer, né? – Disse o André.
_ Tipo o que? – Perguntei.
_ Não tem nenhuma bola aí, tem Jonatan? – Perguntou o Neuza.
_ Acho que não, mas vou dar uma olhada.
Depois de um tempo, o Jonatan volta com uma bola muito velha de capotão, toda remendada com costuras manuais. Não daria nunca para jogarmos com aquilo.
_ Me dá aqui, deixa eu ver. – Pediu o Hugo. – Pra ficar dando chutes não dá, mas e se jogássemos futebol americano.
_ Tá ficando louco? – Disse o Mário. – Você sabe como joga?
_ As regras não, mas sei que tem que chegar a um determinado lugar com a bola na mão enquanto o outro time tem que impedir segurando o adversário.
Nos olhamos com certa alegria. Aquilo poderia ser bem divertido. E então dividimos os times: André, Hugo e eu de um lado. Jonatan, Neuza e Mário do outro.
_ Vamos fazer assim: - Disse o Hugo. - Passou daquela linha é gol de vocês e daquela outra é gol nosso. A bola começa do meio e a saída a gente imita do que vê em filmes. Se a bola cair no chão, para a jogada recomeçando do último lugar onde o jogador estava, podendo repetir três vezes até passar para a vez para o outro time. Se o outro time roubar a bola já pode correr para o lado do seu gol, seguindo a mesma lógica. Que acham?
Todos concordaram. Parecia mais ou menos como víamos em filmes mesmo.
Nos posicionamos, cada time do seu lado. A bola sairia com o time adversário, de modo que o Jonatan passaria a bola para o Mário por baixo das pernas para iniciar o jogo. Ao fazer isso o Hugo foi para cima do Jonatan para tentar impedi-lo de correr, eu fui para cima do Neuza e o André correu em direção ao Mário, que jogou rapidamente a bola para o Jonatan, fazendo com que o André mudasse sua direção para ir atrás da bola. Mal o Jonatan se esticou para pegar a bola o Hugo pulou junto, e o André voou para as pernas do Jonatan, derrubando-o de modo a trombar com tudo no Hugo, batendo a lateral do rosto no seu ombro.
_ Aiaiaiaiai! – Gritava o Jonatan.
_ Que foi? Não começa com frescura só porque perdeu a boa! – Já reclamou o André.
Quando o Jonatan levantou, a parte do rosto próxima ao olho estava com um calombo enorme.
_ Caramba! Alguém pega gelo! – Gritou o Hugo, de modo que o Mário o fez de prontidão.
Pausa para o gelo, cigarro e cerveja. Decidimos rever o tal jogo, aproveitando para uma rodada de lança.
_ Porra, os caras dos filmes usam proteção. Não vai dar certo isso. – Disse o Neuza.
_ Mas e se tomarmos alguns cuidados extras. – Falei. – O Jonatan só se arrebentou porque o André pulou nas pernas dele. E se combinarmos que só vale da cintura para cima, não podendo segurar pela cabeça, claro.
Todos ficaram pensativos, até que o próprio Jonatan disse:
_ Pode ser. O jogo parece legal apesar de me machucar. Mas se for assim pode dar certo.
E combinamos de tentar mais uma vez...

_ Cara! Foi bem legal o dia, heim? – Dizia o Mário numa das pausas do salão do carnaval, enquanto fumávamos e bebíamos.
_ Mas vocês estão todo ralados e machucados! – Chamava a atenção a Rosana.
_ Isso é só detalhe. O que importa é a diversão. – Defendi.
_ Vocês são loucos. – Concordava com a Rosana a Maria
_ Amanhã tem mais. – Anunciou o Neuza.
_ Posso ir com vocês? – Se convidou o Ivan.
Silêncio. Se o Ivan fosse poderia estragar o esquema do lança-perfume.
_ Melhor não, Ivan. Vai que você se machuca. Sua mãe me mata. – Disse o André.
Percebemos que ele ficou bem triste, se dirigindo aos seus amigos, mas teria muito para se divertir conosco ainda.
_ Mais bebidas? – Sugeri.
_ Com certeza. – Concordou o Hugo.

E nos dirigimos ao bar, não vendo a hora de mais uma tarde no sítio do Jonatan no dia seguinte.

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