(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
O ano corria
rápido, e era o último de escola. Logo chegariam os vestibulares e eu ainda não
tinha ideia do que realmente queria, só sabia que era na área de humanas. Meus
pais já se preocupavam com isso:
_ Você tem que
escolher algo, Leo! – Dizia meu pai.
_ Não é
possível que não tenha nenhum curso que você se identifique! – Falava minha
mãe.
Minhas notas
nunca tinham sido lá grande coisa e vivia ficando de recuperação de uma matéria
ou outra. Sabia da importância da faculdade, mas não conseguia me decidir. E
ficava quieto, só me desviando da discussão cada vez que tocavam nesse assunto.
Percebia o olhar de preocupação nos olhos dos meus pais.
_ Tá! Vou
pensar melhor nisso. Vou sair com meus amigos e depois falo o que decidi.
E fugia mais
uma vez...
O Antônio tinha
ganhado um vídeo game novo e nos chamado para jogar. A turma toda estava lá: Jonatan,
que tinha faltado da faculdade naquela sexta-feira, André, Mário, Hugo, Neuza, Helinho
e eu. A novidade era um jogo de tiro em que se usava uma pistola para mirar na
tela e atirar ao invés de usar o controle convencional. Fazíamos pequenas
competições um contra o outro eliminando os piores até chegar a um vencedor.
Estava muito divertido.
_ Antônio, vou
jantar com a roda de amigas e só volto mais tarde. Tem pizza e refrigerante na
geladeira. Divirtam-se, mas tenham juízo. – E assim saia a Dona Dirce, nos
deixando sozinhos.
_ Que massa.
Vamos comprar bebidas. – Falei.
_ E tem pizza
mesmo? – Perguntou o Neuza.
_ Tem sim. Dá
pra todo mundo. E esperem aqui.
O Antônio saiu
e voltou logo em seguida, com um sorriso no rosto:
_ Não
precisaremos comprar bebida hoje.
Em sua mão uma
garrafa de vodca importada. Não acreditávamos naquilo.
_ Onde você
arrumou isso? – Queria saber o Jonatan.
_ Minha vó
ganhou faz tempo de uma amiga dela. Acho que dá pra gente, não?
_ Opa se dá.
Mas sua vó não vai sentir falta? – Foi a vez do André indagar.
_ Pode ficar
tranquilo que eu pedi pra ela. Falou que se a gente não beber ninguém vai beber
mesmo.
_ Sua vó é foda
Antônio! – Vibrou o Hugo.
O Helinho
ajudou o Antônio a trazer os copos, todos pequenos, como havia pedido o André,
dizendo que tinha tido uma ideia. Vindo dele, sabíamos que a diversão seria
garantida.
_ Cada um toma
uma dose pura, virando. Aí começamos a competição no jogo de tiro. Vai ser
massa mirar bêbado. Conforme perde tem que virar outra dose. O que acham?
_ Vixi! Isso
não vai prestar, mas tô dentro. – Anunciei.
E todos toparam
na primeira...
_ Hahahahaha!!!
Acertou o pato e perdeu dez mil pontos. Que burro! – Aloprava o Hugo enquanto o
Neuza jogava.
_ Bosta!!!
_ Vai ter que
virar novamente, Neuza. – Estendia o copo o Helinho.
_ Nooooossa!!!
Já tô bem louco!!! – Disse o Neuza depois de virar.
Já tinha ido
meia garrafa. O Mário, o Neuza e eu éramos os mais chapados por sermos ruins no
tal do jogo. Os campeões até agora eram o Antônio e o André, que acabavam
bebendo mais por vontade própria do que por perderem. A disputa tava dura.
_ Quero ver me
passar agora, Antônio. Acertei a estrela menor.
_ Seu viciado!
Se eu conseguir o tiro duplo você tá ferrado.
E lá estava o
Antônio virando um copo. O Helinho já dormia no sofá, chapado. Saímos para um
cigarro nos fundos.
_ Hoje tá
massa. Foi bom sair um pouco do bar do Pescocinho. – Disse o Jonatan.
_ Foi mesmo. E
ainda bem que a vó do Antônio é de boa. – Falou o Hugo.
_ E se é. E
esse jogo é massa, mas ninguém ganha de mim. – Cantou vitória o André.
_ Teu cu. Você
tá só três pontos na minha frente. Nessa rodada te passo. – Se defendeu o
Antônio.
_ Cara, eu já
tô bem chapado. – Falei.
Ouvimos barulho
de carro chegando. Era a vó do Antônio.
_ Escondam os
cigarros, galera! – Pediu com certo desespero o Antônio, que apesar de não
fumar de fato hora ou outra pedia uma tragada a alguém.
Chegando na
sala a molecada escondia os copos e a garrafa de vodca.
_ Boa noite!
Parece que estão meio bêbados? Não adianta esconder os copos que eu estou
vendo, viu? – Falou a Dona Dirce.
Ninguém ousou
falar nada, cabendo ao Antônio romper o silêncio:
_ Eles são
muito fracos, vó. Não tão aguentando uma garrafa de vodca.
_ Seus frouxos.
Na minha época de adolescente eu derrubaria cada um de vocês na bebida. Estou
indo para o quarto, Antônio. Só não façam muito barulho.
_ Ok vó.
Não
acreditávamos naquilo. Se fosse em casa, além de mandar todo mundo embora no
ato, certamente uma cena como essa me renderia ao menos uma semana de castigo.
_ Vamos para
mais uma rodada então! – Chamou o André, e todos se animaram mais ainda.
_ Valeu
Antônio. Amanhã a gente se vê. – Me despedia.
Àquela altura o
André já tinha ido embora pra levar o sobrinho bêbado que dormia no sofá. O
Cleber e o Mário também já tinham ido e restava apenas o Hugo, o Jonatan e eu.
_ Aquela pizza
foi massa, mas eu ainda encarava um lanche. – Disse o Hugo.
_ Tô dentro.
Vai ajudar a sarar um pouco a bebedeira antes de ir para casa. – Falei.
_ Na
barraquinha da praça mesmo? Vou indo de mobilete e encontro vocês lá.
_ Dá uma carona
aí, Jonatan?
_ Vai andando
com o Hugo, Leo. Tá aqui perto.
_ Babaca.
E acendi um
cigarro e fui com o Hugo rumo à praça, que ficava a pouco mais de cinco
quadras.
_ A noite foi
massa.
_ E se foi. O
Antônio e a vó dele são da hora.
_ Esse jogo é
legal, mas não peguei o jeito.
_ Nem eu.
Nossa! Bebi pra caramba. Vodca pura é foda, hahahahaha!
Chegamos ao
lanche e os pedimos, acendendo mais um cigarro enquanto esperávamos. Começamos
a perceber que estávamos mais bêbados do que imaginávamos.
_ Vou levar meu
lanche pra comer em casa. – Disse o Hugo, se levantando pra pedir pra embrulhar
seu lanche.
_ Vai comer
aqui. Jonatan? – Perguntei.
_ Acho que sim.
O Hugo pegou
seu lanche, se despediu e foi embora. Jonatan e eu comíamos nossos lanches, com
certa voracidade. Minutos depois, novos cigarros pós lanche.
_ Bem, é isso
Leo. Já vou indo.
_ Me dá uma
carona até em casa?
_ Puta, Leo.
Sua casa é lá encima. A minha é do outro lado. Tô bem cansado.
_É rapidinho.
_ Fica pra
próxima. Tô caindo de sono. Juro que na próxima te levo.
O Jonatan
levantou e foi para a mobilete. A ligou e começou a sair. Nisso me levantei e
comecei a correr atrás da mobilete dele.
_ Espera aí! É
só uma carona!
O Jonatan,
ainda pegando embalo, olhou para trás e me viu se aproximando.
_ Que tá
fazendo, Leo!!!
E pulei na
traseira da mobilete em movimento, me sentando atrás do Jonatan.
_ PORRA, LEO!!!
O Jonatan
perdeu o equilíbrio com a tranco da minha sentada e começou a tentar manter a
direção movendo o guidão, mas inutilmente. O pneu da frente batei na sarjeta e
fomos os dois para o chão, mal vendo o movimento da queda.
_ Caralho,
Jonatan! Não sabe dirigir não?
_ PORRA, LEO!!!
PORRA, LEO!!! PORRA LEO!!! – Não parava de gritar o Jonatan.
Quando olhei,
ele estava com a mão na boca, e ao tirá-la, sangue escorria próximo ao nariz.
_ Olha o que
você fez!!!
Olhava para ele
e para a mobilete, com o pneu da frente e lanterna arruinados, e voltei meus
olhos para ele.
_ Porra, Leo! –
Disse, com a voz mais calma mas um desespero maior. – Quebrou meu dente!
E abriu a boca
mostrando o dente da frente faltando um pedaço. Não sabia o que fazer.
_ Calma,
Jonatan. Eu pago os concertos. – Foi tudo o que consegui dizer.
O ajudei a
levar a mobilete para casa e depois segui para minha, já sem qualquer sinal de
bebedeira e a altas horas da madrugada. Ao abrir a porta de casa, minha mãe me
esperava.
_ Já tá um
pouco tarde para uma sexta-feira, não tá não?
Olhei para ela
e meus olhos se encheram de lágrimas.
_ Que
aconteceu, filho?
_ Fiz cagada,
mãe. Fiz cagada.
E lhe contei o
ocorrido, rendendo uma bela bronca e o fim de semana de castigo...
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