(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
_ Administração
– Falei.
_ Tem certeza,
Leo? É isso que você quer? – Perguntou meu pai.
_ Acho que sim.
_ Você acha!
Leo, você está escolhendo um curso que lhe dará o rumo para uma vida inteira.
Não pode ficar num “acho que sim”! – Foi a vez da minha mãe falar.
_ Mas eu não
sei ao certo o que fazer. Deram umas palestras na escola e administração foi o
que achei um pouco mais legal. Não sei.
Sentia pânico
vindo dos meus pais. Não que eles não achassem que administração fosse um bom
curso, mas eles não viam tal perfil e disposição em mim. Eu mesmo não sabia ao
certo, tendo escolhido esse curso mais para me deixarem em paz.
_ Certo. –
Tentava se acalmar meu pai. – E você já viu onde vai prestar e tudo mais?
_ Meus amigos
vão prestar a estadual. Vou com eles.
_ E o que mais?
– Minha mãe perguntou.
_ Só ela, acho.
_ Você tem que
tentar em outros lugares, filho. Pra ter mais chance. Tem as federais também,
assim como outras estaduais.
_ Tá. Vou
pensar nisso certinho. Tô saindo. Tchau.
E assim se dava
mais uma fuga. Sentia que isso não acabaria nunca.
_ Então seus
pais não se convenceram, Leo?
Comentou o Hugo
depois que lhe disse da conversa com meus pais. O duro é que o Hugo já sabia o
que queria, só estava em dúvida de onde prestar.
_ Pois é. Tô
ferrado. Nem sei o que quero da vida.
_ Eu escolhi
programação por ser uma carreira do futuro. Qualquer lugar que você vai se usa
computador hoje em dia, e um primo meu tá fazendo isso e me mostrou um pouco.
Achei bem legal e decidi seguir também. Você precisa achar algo que você gosta.
_ É...
A não ser por
mim e pelo André, todos já sabiam o que fazer: o Mário queria medicina, o Neuza
comunicação, o Jonatan já fazia computação, o Helinho dizia que queria fazer
farmácia e o Antônio jornalismo. Pra piorar, o André já sabia o que queria para
o próximo ano, apesar de não saber o curso que faria. Ele iria para a capital
do estado morar com o Rodolfo, seu irmão, e fazer cursinho. Depois decidiria o
curso de fato. Só eu estava totalmente perdido.
_ Administração
não deve ser tão ruim assim... – Tentava me convencer da escolha.
Seguimos até a
casa do André. O bar do Pescocinho já estava ficando enjoativo, e cada vez mais
ia um bando de moleques folgados que falavam alto demais e mexiam com todo mundo.
O jogo de tiro do Antônio era legal, mas a disputa ficava só entre ele e o
André. Decidimos nos reunir para ver o que fazer naquela sexta. Os sábados não
eram problema, já que sempre íamos à boate, mas as sextas sempre se mostravam
um desafio.
_ Que vai rolar
hoje? – Perguntou o Neuza.
Fumávamos um
cigarro na calçada, já sem medo da tia Josefa que nunca saia do quarto quando o
tio Ernesto estava viajando. Bicávamos uma garrafa de conhaque com
refrigerante.
_ Dar um rolê
na praça? – Sugeriu o Mário.
_ Nem. Só tem molecada.
E umas meninas frescas de doer. – Disse o André.
O Jonatan
estava na faculdade, ou em algum barzinho, como era de costume fazer as sextas
na cidade onde estudava. Ficávamos com inveja só de imaginar.
_ Jogo de
tabuleiro? – Disse o Hugo.
_ Já enjoamos.
– Falou o Antônio, que nem tinha jogado tanto assim conosco mas já estava de
saco cheio também.
_ Quando éramos
crianças qualquer brincadeira de esconde-esconde já era uma alegria. Agora tudo
enche o saco. – Foi a vez do Helinho se expressar.
_ É isso! –
Soltei.
_ É isso o que?
Perguntou o André.
_ Vamos brincar
de esconde-esconde. Quando éramos pequenos já era legal, e tínhamos todas as
limitações devido à idade. Mas agora, vai ser bem mais legal. Que acham?
Silêncio.
Estavam todos pensativos, e cada vez mais se via um sorriso crescente no canto
de cada lábio.
_ Pode ser
legal.
_ É! Também
acho.
_ Eu topo!
_ Eu também!
O André já se
levantou e pegou uma pedra do chão, anunciando de prontidão:
_ Rei da
pedrinha chiqueirinho livre!
_ Babaca! –
Alguém soltou.
E formamos uma
fila em frente a ele, como não fazíamos há muitos anos.
O André
colocava as mãos para trás e escolhia uma delas para colocar a pedrinha sem que
ninguém visse, deixando a outra livre. Logo depois estendia as duas para que o
primeiro da fila batesse em uma delas. Escolhida a mão da pedra era um possível
candidato ao pique. Mão sem pedra estaria livre.
_ Helinho
Livre.
_ Hugo não.
Espera do lado direito.
_ Neuza também
não. Lado direito.
_ Mário livre.
_ Leo livre.
_ Antônio lado
direito. Faz fila de novo Antônio, Hugo e Neuza.
Pouco depois,
Hugo era o escolhido, devendo contar até cem para que todos nos escondêssemos.
Parecíamos realmente crianças com a animação.
_ 1, 2, 3, 4,
5...
_ Você que
conhece as redondezas, onde tem lugar legal, Leo? – Perguntou o Antônio.
_ Se quiser me
siga.
O Neuza e o
Helinho correram para a casa velha do outro lado da rua, pulando o muro baixo e
se embrenhando no mato ao fundo. O Mário seguiu o André, que começou a subir em
uma árvore no meio do quarteirão, com copa bem larga, de modo que a sombra os
escondia bem. O Mário tinha certa dificuldade em subir, mas conseguiu. Fui com
o Antônio até a esquina, de modo a me encostar no muro assim que viramos.
_ Acho que aqui
é ruim, Leo. Tá muito longe do pique. Teríamos que ganhar na corrida qualquer
coisa.
_ Fica calmo.
Não sei como o André não veio pra cá também? Fazíamos esse plano direto quando
éramos crianças.
Subi no muro da
casa da esquina. Tudo apagado. Fazia muitos anos que ninguém morava ali. O
Antônio me seguiu. Pulamos no quintal e, de lá, seguimos para o próximo muro,
de uma casa com gente. Sussurrei ao Antônio:
_ Aqui que
temos que tomar cuidado, pois os moradores podem perceber a gente. Toma
cuidado.
Circulamos a
casa nos equilibrando por cima dos muros, dando a volta pelos fundos. Estávamos
preocupados de ter algum cachorro, mas nada. A próxima etapa era o fundo de uma
oficina, onde não havia ninguém e sabíamos que não tinha nenhum cachorro.
Quantas vezes não bombardeamos os portões daquela oficina chutando bola há anos
atrás? O passo seguinte já era o telhado da casa do André, onde nos dava uma
bela vista do pique e da posição do Hugo, permitindo descer em tempo para nos
salvar. Apesar de não sermos mais crianças com todo o pique e folego que elas têm,
agora tínhamos mais força e agilidade.
Durante todo o
percurso ouvimos os berros e as correrias da molecada. O Neuza já tinha sido
pego, mas o Helinho tinha corrido mais rápido que o Hugo e se salvado. O Mário
e o André ainda não haviam sido descobertos, mas o Hugo já desconfiava das
árvores, rodeando-as sem se afastar muito da região do pique.
_ Caralho! Uma
maria-fedida!
Ouvimos o
Mário, seguido de uma barulheira dele descendo às pressas da árvore.
_ Tá pego,
Mário! – Gritou o Hugo, batendo no pique.
Mais barulho da
mesma árvore. O André segurava o riso, mas não dava pra saber que era ele.
_ Quem tá aí? –
Gritava o Hugo.
Confiante de
que pegaria mais alguém, o Hugo se afastou do pique em direção à árvore. Foi
nossa deixa.
_ Vem, Antônio!
É agora!
Descemos
rapidamente do telhado pelo muro, sem qualquer dificuldade. Eu já tinha feito
aquilo milhões de vezes, e o Antônio acompanhou bem.
_ Leonardo
salvo!
_ Antônio
Salvo!
O Hugo se
virou, com ar de irritação. Foi a vez do André se aproveitar da distração:
Estando preparado para uma eventual corrida, o André havia se posicionado numa
das pontas da árvore, e, numa manobra muito parecida com a que fazíamos na
mangueira do terreno do circo, se pendurou num galho e caiu mais à frente do
Hugo, partindo em disparada.
A disputa
procedia, com gritos da molecada, mas não teve jeito para o Hugo e o André se
salvou.
_ Hahahaha! Se
fodeu! – Gritava o André.
_ Quem se fodeu
foram o Mário e o Neuza. Não eu. – Se defendia o Hugo.
_ É verdade.
Tirem par ou impar para vez quem bate cara. – Falei.
_ Tio? A rua
aqui é mão única, né? – Perguntou o Helinho.
_ É, por quê?
_ Tem um burro
subindo a rua na contra mão e com o farol apagado.
Ficamos olhando
o carro sem noção, até que, a poucos metros de nós, duas luzes fortes se acendem
junto com os faróis, também fortes. Barulho de sirene. Era a Polícia.
_ Mãos na
cabeça e encostados no muro, molecada! AGORA!
_ Calma aí... –
Tentou argumentar o Antônio.
_ AGORA,
PORRA!!!
Obedecemos.
Dois policiais
desceram do carro, um com uma arma e uma lanterna apontadas para a gente e o
outro vindo em nossa direção para revistar. O Neuza tentou olhar para um deles
e já foi tomando um empurrão com as mãos do policial para que voltasse a cabeça
para a parede. Ninguém se arriscou falar nada.
_ Tudo limpo. –
Informou o guarda da revista.
Vizinhos
começaram a apontar suas cabeças por muros e janelas. A tia Josefa saiu às
pressas.
_ O que está
acontecendo aqui?!? – Dizia, desesperada, ao ver seu filho e neto de encontro à
parede.
_ Perturbação
da ordem e possibilidade de furto, senhora. Já enquadramos os suspeitos.
_ Mas são meu
filho, meu neto e os amigos deles! Meu sobrinho está aí também!
Os policiais se
sentiram perdidos.
_ Recebemos
telefonemas de barulhos e correrias na rua. Um dos vizinhos disse que andavam
por sobre os muros e telhados das casas.
Começamos a nos
virar devagar. Foi o Helinho quem se arriscou:
_ Estávamos
brincando de esconde-esconde.
_
Esconde-esconde? Nessa idade? – Se espantou um policial.
_ É. Não tinha
nada pra fazer achamos que seria divertido. – Completei.
Os policiais
relaxaram um pouco. Os vizinhos foram perdendo o interesse pela situação.
_ Jovens,
entendo que nossa cidade não tem muito a oferecer, mas vocês têm que entender também
que assustaram os vizinhos com os barulhos e a correria. Não é todo dia que
pessoas na idade de vocês fazem isso. Procurem outra coisa para fazer.
Concordamos com
a cabeça e eles foram embora. A tia Josefa também pediu mais cuidado e entrou.
Acendemos cigarros.
_ Tentamos
brincar de modo inocente e não deu. – Disse o Mário.
_ O jeito é
beber mesmo. – Acrescentou o Hugo.
_ Vamos para o
Pescocinho então. – Convocou o André.
E assim
seguimos para mais uma sexta regada a cerveja, cigarro, fliperama e bilhar.
Fazer o que?
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