(Não leu do inicio? Então aproveite. http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
Nossos pais haviam nascidos numa
fazenda próxima à nossa cidade, na qual o avô Tonico tinha sido administrador.
Era uma grande fazenda de café, onde havia uma colônia em que moravam os
trabalhadores. Certa vez, o tio Mané decidiu pegar a molecada e levar para
conhecer a fazenda, só que iriamos de bicicleta. A ideia era atravessar a
fazenda até chegar ao rio represado, o que daria, ida e volta, mais de quarenta
quilômetros. Claro que todos topamos.
Saímos bem cedinho num domingo da
casa da vó Cotinha. Além do tio Mané e de nós quatro, meu irmão também foi, o
que causou certo espanto em todos, pois o negócio dele era ficar na frente da
televisão ou com seu toca fitas ouvindo música. Levamos alguns pães com
mortadela e garrafas térmicas com água, e assim fomos.
Aproveitamos a maior parte de
cidade para evitar pegar muita pista, devido ao perigo dos caminhões. Quando
chegamos à pista, praticamente a atravessamos e andamos só um pouco por ela, já
caindo numa estrada de terra bem calma.
_ Agora o único perigo são os
areiões.- Disse o tio Mané.
Areião era quase sempre a certeza
de um tombo de bicicleta. Claro que estávamos acostumados a andar por eles em
nossas aventuras, mas meu irmão não muito. O grande segredo para não cair ao
passar pelo areião é não travar o guidão da bicicleta, seguindo o movimento
imposto pela areia ao pneu, mas isso se não for subida, porque se não fica tão
pesado para pedalar que tem que descer e empurrar mesmo.
Em uma descida com partes de
areião, o tio Mané avisou:
_ Tomem cuidado em alguns
trechos, se não é tombo certo.
_ Lourenço, não trava o guidão da
bicicleta não, se não você cai. – Disse o João.
_ Ah, tá! Pode deixar. –
Respondeu Lourenço, com certo sarcasmo.
O João e o Lourenço não se davam
muito bem, por alguma razão. Meu irmão era mais velho, mas sempre era o João
que se dava bem nas brigas, e eles viviam brigando.
Começou a descida e todos
passaram pelo primeiro areião, apesar do meu irmão apresentar certa
dificuldade.
_ Lourenço, o que te falei?
_ Não enche João!
No Segundo areião chegamos a dar
uma enroscada, tendo que diminuir bem para não cair. Meu irmão chegou a ter que
por o pé no chão.
_ Tá tudo bem, Lore? – Era como
eu chamava meu irmão, por ser um jeito mais fácil de falar quando ainda era bem
pequeno.
_ Tá. Só o João que fica enchendo
o saco.
No terceiro e maior areião não
deu outra: o Lourenço tomou um tombaço, batendo a barriga no guidão e ficando
no chão, chorando. Todo mundo parou para acudir, e o tio Mané, ajudando meu
irmão a se levantar, perguntou:
_ Lourenço, você não deixou o
guidão mole?
_ Não.
_ Por quê? Foi por isso que você
caiu.
_ Achei que o João estava zoando
comigo, e que cairia se deixasse ele mole.
_ Você tem que confiar mais nas
pessoas, Lourenço. Não é porque vocês vivem brigando que ele deseja seu mal.
Vamos. Limpa a areia, toma um pouco de água e vamos continuar.
E assim seguimos, deixando
Lourenço ir mais à frente junto com o tio Mané enquanto dávamos disfarçadas
risadas pelo tombo do meu irmão. Sorte ele não ter se machucado...
_ Foi naquela casa que eu e meus
irmãos nascemos. – Apontava o tio Mané para uma casa bem simples, feita
principalmente de barro e madeira. – O vô Tonico acordava todo dia bem cedinho
pra tirar leite da vaca enquanto a vó Cotinha preparava o café e o pão caseiro
assado na hora. Aí acordava a gente, preparava as marmitas, e íamos ajudar o vô
na plantação de café.
Era tudo muito simples. Parecia
que o tempo tinha parado por ali, apesar de não ter mais pés de café e tantos
trabalhadores. Quem se manteve por ali ficou por não ter para onde ir, vivendo
das poucas galinhas e hortas que mantinham ao redor da casa, mas o tamanho dos
terreiros para secar o café, agora abandonados, impressionava. Eram maiores que
quadras de basquete.
_ Vocês estão vendo aquele
predinho maior ali? Aquela era a venda da colônia. Uma vez confundiram sua avó
com uma assombração. Foi assim...
E o tio Mané contou a história:
Certa noite minha avó foi até a venda comprar algo, e havia um grupo de pessoas
reunidas, um pouco assustadas, comentando da nova assombração que rondava a
região.
_ É uma bola de fogo, flutuando.
De tempo em tempo ela se abaixa e rela no chão. Quando flutua de novo, sobe uma
língua de fogo da parte do chão onde ela tocou. – Comentou um dos colonos.
Nisso minha avó começou a dar
risada.
_ Que é isso, dona Cotinha. Tô
falando séria. A senhora não acredita em mim?
_ Acredito sim, seu Albino. Só
que isso não é assombração nenhuma. Sou eu. É que como em volta de casa tem
muita formiga, toda noite saio com o lampião procurando pelos buracos delas
para colocar querosene e por fogo. Aí vendo daqui, parece uma bola de fogo que
rela no chão e faz as línguas de fogo. Só isso.
Depois daquele dia, disse o tio
Mané, as pessoas passaram a acreditar menos em crendices e procurar explicações
melhores sobre as coisas. São grandes as lições que aprendemos com os mais
velhos.
Pedalamos muito. Já estávamos
cansados e com fome, mas queríamos muito chegar ao rio antes de fazermos uma
parada. Não sei que horas era, mas já passava do meio dia quando o avistamos.
_ Olha lá! Chegamos! – Gritou
empolgado o André.
Jogamos nossas bicicletas no chão
e fomos arrancando as roupas para entrar no rio só de cueca, enquanto o tio
Mané tirava os lanches da mochila para podermos comer.
Fizemos guerra de barro,
brincamos de briga de galo, competimos quem ficava mais tempo debaixo da água,
mas quando pensávamos que passaríamos a tarde ali brincando, o tio Mané gritou:
_ Vem, molecada. Vamos comer que
temos que voltar.
_ Mas já, tio? Acabamos de chegar...
– Choraminguei.
_ Pois é, Leo. Vocês viram o
tempo que demorou para chegarmos. Se ficarmos muito, teremos que pegar a
estrada de noite, o que é perigoso. E aqui tem muito mato, podendo vir lobos e
outros bichos perigosos.
Ficamos todos tristes, claro, mas
não queríamos imaginar alguma onça, lobo ou cobra aparecendo por ali. Saímos da
água, quietos, e fomos comer.
_ Que tombão o Lourenço levou,
hahahaha. – Provocou o João.
_ Hahahahaha. – Todos rimos,
menos o Lourenço e o tio Mané, claro.
_ Para de provocar, João. –
Aconselhou tio Mané. – Não quero briga. Só vou dar uma mijada e já volto.
Limpem toda sujeira. Não quero nenhum papel por aí.
Assim que o tio Mané saiu, o João
voltou a provocar:
_ E ficou chorando que nem
menininha.
Os olhos do Lourenço se encheram
de lágrimas, e ele começou a ficar vermelho de raiva. Nunca tinha visto meu
irmão daquele jeito.
_ Para, João, se não...
_ Se não o que? Você sabe que não
pode comigo.
_ Para, João. Deixa meu irmão em
paz. O seu pai também falou pra você parar.
_ Mas é verdade. Ele sabe que não
pode comigo. – E se aproximou do Lourenço, desafiando.
Meu irmão sempre foi de ficar
quieto e sair de perto quando o João mexia com ele, mas naquele dia parecia que
algo tinha mudado. Lourenço se levantou para encarar o João, que estranhou e
hesitou um pouco.
_ Que foi? Vai querer brigar
comigo? – Falou o João, mas não mais tão confiante. Manezinho, André e eu
também estávamos surpresos, assistindo sem conseguir acreditar.
_ Eu posso bater em você. – Disse
Lourenço, bem baixinho.
_ O que você disse? – Perguntou
João, sem acreditar no que tinha ouvido.
_ Eu posso bater em você! –
Repetiu Lourenço, já mais alto e com os olhos vermelhos pelo choro e raiva.
Nisso o João começou a recuar, e
Lourenço foi para cima. João tentou dar um soco no Lourenço, mas errou, e nisso
Lourenço deu um soco no nariz do João, que começou a chorar quando percebeu o
sangue que descia.
_ Que tá acontecendo aqui? – Era o
tio Mané.
_ O Lourenço bateu no João, pai.
_ Mas foi o João que começou,
tio. – Defendi meu irmão, e o André ficou do meu lado.
Tio Mané tirou um lenço de pano
do bolso e colocou sobre o nariz do filho.
_ Deita um pouco e coloca a
cabeça para trás. Manezinho, pega a garrafa de água para o pai.
Manezinho trouxe a água, e o tio
Mané derramava de pouco em pouco sobre a testa do João.
_ Já vai passar João. Não foi
nada.
_ E o Lourenço, pai, o que o
senhor vai fazer?
_ Nada filho. Você mereceu e sabe
disso. E já está na hora de vocês pararem de brigar.
(Continue a ler em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/10/aos-meus-amigos-7.html )
Má será que vc pode referenciar quem é quem??? To ficando perdida......preciso de uma legenda!!!!! Bjss Marcia !
ResponderExcluirOi querida, que legal que está acompanhando as histórias. No entanto a ideia é utilizar experiências reais para criar as histórias, sem que sejam biográficas. Assim se tem liberdade para tal. Embora muitos personagens pareçam pessoas reais, não quero que sejam vistas como tal, então sem legendas, ok? Beijos e continue a ler as aventuras de Leonardo Félix
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