sexta-feira, 21 de março de 2014

Aos Meus Amigos - 8 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


_ Mãe! Mãe! – Chamava eu pela casa, procurando-a ao chegar da escola.
_ Aqui Leo. – Ouvi sua voz vinda do quarto.
_ Mãe, você falou que daria a resposta hoje se eu poderia visitar o João... Você tá chorando mãe?
_ Tô preocupada com sua vó, Leo. Ela foi internada de novo. Não sei o que fazer.
Depois da primeira internação após o casamento da Rosália a vó Cotinha não tinha se recuperado totalmente, sendo internada mais três vezes ao longo do mês. Aquela era a quarta.
_ Mãe, vai dar tudo certo. A vó Cotinha é forte, você sabe disso.
_ Ela já tá bem velhinha Leo. Não sei se o vô Tonico aguentaria se algo acontecesse a ela... – E começou a chorar novamente.
_ Mãe... – E a abracei, procurando não chorar também só de imaginar não ter mais os dois.
O João havia reforçado a oferta de passarmos um fim de semana com ele. Apesar da internação da vó Cotinha minha mãe me deixou ir. O tio Mané levaria o Manezinho, o André e eu para passarmos um fim de semana lá e depois nos buscaria. Dessa forma, além de ver o filho, teria tempo junto com minha mãe e minhas tias de cuidar da vó Cotinha sem que sentíssemos a gravidade da situação. E assim fomos.
_ É bom não aprontarem nada de errado lá, heim? – Dizia o tio Mané enquanto nos levava. – Lembrem-se que se der merda o João corre o risco de ser expulso da escola.
Certamente isso era algo que não queríamos, mas sabíamos que as coisas no alojamento do João eram bem liberais segundo suas histórias, então não estávamos muito preocupados com as ameaças do tio Mané. A única coisa que nos desanimava era o fato de a escola ser somente para homens, o que tirava a chance de pegarmos alguma garota.
_ Molecada, já sabem né? Nada de aprontar e qualquer coisa liguem a cobrar do orelhão.
E assim nos despedimos do tio Mané, que voltaria só no domingo depois do almoço.
_ E agora João? – Perguntei, animado.
_ Por hoje ficaremos de boa mesmo. Vamos ao mercado comprar umas coisas e aí jogamos baralho ou algo assim. Mas amanhã tá marcado um lual, e aí sim a coisa pega. Vai ser no campus da faculdade e lá sim tem mulherada. E é bem aqui ao lado.
Ficamos muito animados. O fim de semana prometia.
Ficamos no mesmo quarto que o João, já que alguns dos companheiros de quarto dele haviam viajado para visitar a família. Eram quatro beliches e apenas dois dos caras da casa estavam lá: o Marinho e o Bernardo. O Marinho era bem desencanado. Negro com um cabelo bem avolumado e que falava umas coisas meio que sem sentido. O Bernardo era mais quieto, bem estilo cowboy mesmo: bota, fivela e chapéu na cabeça. Parecia gente boa.
_ Estamos indo ao mercado. Querem algo? – Perguntou o João aos dois.
_ Obrigado João. – Respondeu o Bernardo.
_ Cara, vou com vocês. – Se convidou o Marinho.
O mercado ficava a quarenta minutos de caminhada dali, já que a escola era um pouco afastada da cidade, o que estranhamos, já que nesse tempo atravessaríamos a cidade inteira onde morávamos.
_ Cara, vocês vão pirar aqui. – Disse o Marinho. – Seu primo ainda é certinho, mas tem muito maluco da hora. E o lual amanhã promete, hehehe.
O João não falava nada. Alias, ninguém falava nada, pois o Marinho não dava chance, falava sem parar. Chegamos ao mercado.
_ Qual vai ser, João? – Perguntou o Marinho.
_ Conhaque com refrigerante.
Nos olhamos, Manezinho, André e eu. Nunca tínhamos tomado conhaque.
_ Gosto muito. – Disse o Marinho.
_ Com quanto vocês podem ajudar? – Perguntou o João.
Tiramos nossos dinheiros da carteira e mostramos para ele.
_ Ok. Contando que amanhã precisaremos de grana também, vamos pegar só o suficiente para a bebida e a comida.
Cada um deu um pouco e ele comprou uma garrafa de conhaque, duas garrafas de dois litros de refrigerante, pois pães para cada e um punhado de mortadela.
_ Aqui é assim de fim de semana: ou compramos pão com alguma coisa ou fazemos macarronada.
Era tudo muito estranho e legal para nós.
Chegando ao alojamento o João perguntou o que queríamos: comer ou tomar banho. Decidimos comer, já que não tinha ninguém que nos obrigasse ao banho. Acabamos de comer e o Marinho já veio com o conhaque e uma garrafa de refrigerante.
_ Porradinha? – Perguntou ele.
_ Acho que a molecada vai gostar mais. – Respondeu o João.
_ Opa! Porradinha? – Foi se aproximando o Bernardo ao ouvir a proposta do Marinho.
Que raios era aquilo de porradinha? Nunca tínhamos ouvido falar, mas estávamos empolgados. Enquanto o Marinho abria as garrafas o Bernardo foi buscar um copinho de pinga, só um. Achamos estranho.
_ Chega mais molecada. – Chamou o João. – Senta no chão mesmo, em volta da garrafa.
Sentamos em círculo e ficamos esperando.
_ Quem vai primeiro? – Quis saber o Bernardo, mais animado e menos quieto do que quando chegamos.
Nos olhamos e, antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, surpreendi a todos:
_ Eu!
O André deu um sorriso de aprovação, e então o Marinho colocou no copo segurado pelo Bernardo metade de conhaque e metade de refrigerante.
_ Fica preparado. Assim que te entregar o copo vira tudo de uma vez.
Ao falar isso o Bernardo colocou a mão sobre a boca do copo, tapando-a, e deu uma rápida batida na base do copo em sua perna, fazendo com que aquela mistura levantasse uma rápida espuma devido ao gás do refrigerante, estendendo instantaneamente o copo para mim.
_ Vira! Vira! Vira! – Gritavam o João, o Bernardo e o Marinho.
Quase sem pensar peguei o copo antes que a espuma se dispersasse e o virei, descendo gostoso pela garganta.
_ Que massa! Quero mais. – Me expressava, em êxtase.
_ Calma Leo. É uma vez de cada. Acabando a rodada começamos de novo.
E assim foi, todo mundo bebendo. Primeira rodada, segunda rodada, terceira rodada. A garrafa de conhaque descendo.
_ Mais uma! Mais uma!
_ Moçada! Isso é gostoso, mas bate de uma vez. Têm certeza que querem mais uma?
Olhamos um para o outro. Todo mundo com cara de um pouco alto.
_ Hahahahaha! Mais uma com certeza!
A decisão foi unânime.
Terminando a quinta rodada já estávamos todos bêbados, principalmente o Manezinho, o André e eu, que não estávamos acostumados àquilo.
_ João, vou dormir. – Anunciou o Manezinho.
_ Você nem tomou banho. – Deu uma de pai o João.
_ Amanhã eu tomo. – E saiu em direção ao quarto, ziguezagueando.
_ Leo? – Se aproximou o André. – Queria tanto um cigarro.
Aquilo era tudo que eu queria também naquela hora. Combinamos de não levar um maço pelo fato do João não saber que fumávamos, e não sabíamos qual seria sua reação se soubesse. Logo em seguida vimos o Marinho sair do quarto em direção à porta da frente com um isqueiro na mão. Olhamos um para o outro, com uma esperança nos olhos, e decidimos ir para fora também.
_ A gente só pede um trago. Se pedirmos para não falar nada para o João certeza que ele não fala. – Dizia o André.
_ Certeza. O Marinho é gente boa. – Concordava.
Saímos e começamos a procura-lo. Vimos que ele estava um tanto afastado, próximo a uma cerca, e fomos em sua direção.
_ Marinho você não arruma um cigarro pra gente também? – Já foi pedindo o André.
_ Só não fala nada pro João não. Ele não sabe que a gente fuma.
_ Hehehe, moçada. Eu só tenho um, e não sei se é dos que vocês estão querendo não. – Disse ele, mostrando seu cigarro.
Quando olhamos achamos estranho, pois não era um cigarro comum. Era um cigarro enrolado num guardanapo de papel aparentemente.
_ É maconha? – Ouvi o André dizer, estranhando.
_ Hehehe. É isso ai. Se quiserem dar uns tapas, sem problema.
Eu não acreditava naquilo. Maconha! E o cara com ela morava com o João. Aquilo me assustou e comecei a puxar o André. Ele procurou me acalmar, me segurando.
_ Putz! Valeu Marinho. A gente achou que era cigarro normal, mas valeu.
Então começamos a voltar pro bloco do alojamento. Eu estava bem assustado, o André não.
_ Você nunca tinha visto maconha, né Leo?
_ Eu não! Por quê? Você já?
_ Já. Uns amigos da escola fumam.
_ Mas você nunca fumou né?
_ Não. Eu não.
E entramos. O André foi dormir, mas eu quis tomar um banho. Não que eu quisesse de fato, mas para ver se me acalmava. Eu estava bem nervoso mesmo.
Depois do banho fui para o quarto e já estava todo mundo lá, inclusive o Marinho. Todos dormiam muito bem. Me deitei mas demorei bastante até conseguir dormir...

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