(Não leu do início? Então aproveite, em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
Assim como havia várias
sociedades secretas e clubes de reunião de pessoas importantes, resolvemos
montar um clube. Demos o nome de VTDI, sigla para Você Tá Dentro?, de modo que
o I era referente ao Interrogação, e tal nome se dava para a pergunta feita a
todos quando era proposto algum desafio ou aventura. As reuniões eram feitas na
casa do Tomas, e lá trocávamos segredos e decidíamos sobre o futuro da
humanidade. Óbvio que não tinha nada de político nisso, e sim questões ligadas
aos nossos próprios interesses.
A casa do Tomas tinha sido
escolhida por ter um sobrado no fundo, espaço com piscina, sala de estudos,
sala de música, computador, churrasqueira e tudo mais. Como os pais dele
trabalhavam o dia todo e na casa ficava apenas a avó e a empregada, ali era
nosso clube particular.
_ Esses vizinhos estão enchendo o
saco. – Disse o Tomas, enquanto estávamos na parte superior do sobrado,
apontando para um grupo de garotos que usavam uma escada para subir no muro e
nos espionar. – Devíamos dar um jeito neles.
_ O medo é o melhor remédio. –
Foi a resposta do Sidnei, não falando mais nada, até que o Hugo, não
aguentando, questiona:
_ Que quer dizer com isso,
Sidnei?
_ Que se dermos um susto neles,
não farão mais isso.
_ E como faremos isso? – Começou
a se interessar o Cleber. Que já havia discutido com um daqueles garotos num
jogo de bola no campinho da esquina.
_ Acho que sei. – respondi.
Em uma das vezes que dormi na
casa do meu primo André, o Silvinho nos mostrou como brincar com fogos de
artifício sem gastar nada: bastava colocar fogo em um pedaço de esponja de aço
e ficar rodando. As faíscas que saem são incríveis. Então sugeri que usássemos
aquilo para assustá-los, colocando alguns pedaços de esponja de aço presos à
bicicleta, colocar fogo e persegui-los, dizendo que se continuassem a nos
espionar, faríamos suas casas pegar fogo. Todos gostaram da ideia, menos o
Sidnei, que ainda ficou insatisfeito e queria mais.
_ Vamos usar umas bombas também.
A gente persegue eles com o fogo e, quando entrarem na casa, jogamos umas
bombas para assustá-los mais. Ai sim eles se convencerão.
_ Mas onde vamos arrumar as
bombas? Não podemos comprar. – Disse o Hugo.
_ Será que seu primo consegue,
Leo?
A pergunta do Sidnei foi como uma
piada para mim. O André estava numa escola com uma turma barra pesada, e coisas
assim eram muito fáceis para ele. Acenei positivamente, com um leve sorriso no
rosto.
O dia chegou, com tudo preparado.
Pegamos uma bicicleta velha que o pai do Cleber não usava mais e colocamos
faixas de esponja de aço presas a ela, na parte de trás. Como eu era o mais
ágil, fui o escolhido para executar a missão, enquanto os outros dariam o
suporte e as informações via sinais previamente combinados. Carregava comigo
uma sacola com várias bombas de baixa carga, mas suficientes para assustar. Era
o máximo de potência que um adulto conseguiria comprar, e não tinha sido um
adulto a fazê-lo, mas sim um dos amigos do André. Quando o Hugo deu o sinal com
o estouro de uma bexiga, o Cleber acendeu as faixas de esponja de aço e sai com
tudo de bicicleta, de modo que o sinal indicava que os moleques haviam saído de
casa.
Vummm... Passei com tudo próximo
a eles, com a cabeça coberta com um capuz e a bicicleta pegando fogo e soltando
faíscas de todo lado.
_ Que porra é essa? – Gritou um
dos moleques.
Dei a volta na quadra de baixo e segui
novamente na direção deles, riscando uma bomba na lixa da caixa de fósforos que
havíamos fixado no guidão, acendendo-o e jogando na calçada, próximo a eles.
Booommm!!!
_ Caraio! CORRE MOLECADA...
Os três moleques deram meia volta
e correram para a casa de um deles, entrando às pressas.
Parei em frente à casa e comecei
a riscar mais bombas e a atirar no quintal da casa. De repente percebo fogo
subindo: havia um monte de plantas secas no quintal, e elas começaram a pegar
fogo. Ao ver isso, sai correndo, desesperado.
Dei a volta no quarteirão,
parando próximo a uma construção abandonada, tirei o capuz, escondi a
bicicleta, e comecei a voltar, em direção à casa do Tomas. Antes de chegar na
esquina, vejo o Sidnei, o Cleber, o Hugo e o Tomas correndo ao meu encontro.
_ Deu certo! Deu certo! – Gritava
eufórico o Sidnei. – Olha lá! Olha lá!
Quando viro a esquina e olho para
a direção da casa onde joguei as bombas e vejo apenas uma fumaça subindo do
mato, os garotos chorando enquanto tentam explicar, e alguns adultos dando-lhes
a maior bronca. Percebo que na mão de um dos adultos está meu saquinho de
bombas. Não havia percebido que o tinha perdido, mas vejo que foi ótimo, pois,
pelo jeito dos adultos, pensavam que aquilo pertencia aos moleques. Se o plano
não saiu como pensamos, saiu melhor do que esperávamos, pois nunca mais aqueles
moleques nos espionaram.
(Continue a ler em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/12/aos-meus-amigos-13.html )