segunda-feira, 28 de julho de 2014

Aos Meus Amigos - 21 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html)


Os meses passaram rapidamente, sempre nas nossas farras: bar do Pescocinho, boate, passeios de bicicleta, bebedeiras, cigarros... O Cleber, depois do ocorrido, passou a ser chamado de Neuza por todos, ou Nê para os íntimos, o que o deixava bravo no inicio, mas se acostumou rapidamente:
_ Neuza? Vai sair hoje?
_ Vai tomar no cu!
_ Vai sair ou não?
_ Vou. Que horas nos encontramos?
E assim por diante.
Por causa de uma greve na universidade que meu irmão estudava as minhas aulas terminaram antes das dele, o que me permitiu fazer uma visita. Ficaria cinco dias lá e voltaria junto com ele. Meus pais me levaram até a cidade mais próxima onde tinha ônibus para lá e, quase seis horas depois, chegava à rodoviária onde ele me esperaria. Fazia tempo que não o via, cerca de quatro meses. Desci do ônibus e comecei a procura-lo. Nada.
“Cuzão”, pensei, e me encostei numa parede próxima e fiquei esperando. Quis acender um cigarro mas achei melhor não, já que ele poderia chegar a qualquer momento. Pouco tempo depois o vejo, mas quase sem acreditar que era ele: Seu cabelo estava bem maior, assim como sua barba, coisa de bons meses sem cortar. Provavelmente os quatro que não o via. Vestia um coturno cano alto e um casaco de couro enorme, praticamente um sobretudo, e uma camiseta preta de banda de rock. No rosto, um óculos escuro todo estiloso. Quase não o reconheci.
_ E aí babaca? – disse ele, erguendo a mão para me cumprimentar.
_ E aí? – E fiz a besteira de estender a mão.
Ele deu um grande tapa na minha mão de modo que ardeu muito.
_ Porra, Lou! Vai se foder!
_ Hahaha. Fracote! Vamos? Tô com um amigo esperando de carro pra te buscar.
Joguei a mochila nas costas e o segui, ainda esfregando a mão que doía. Ele andava mais rápido, ficando sempre à frente, de modo que tinha que apressar para acompanha-lo.
_ Tem cama pra mim na pensão?
_ Não vamos ficar na pensão. Arrumei uma república. Vou conversar com os pais nas férias e assim que voltar no começo do ano me mudo pra lá. Me deixaram ficar uns dias pra ir me acostumando. Tem até um quarto vazio de um cara que saiu há pouco tempo.
_ E se os pais não deixarem?
_ Não existe isso.
Fiquei quieto. Ele estava bem diferente.

A república era legal, apesar de bem bagunçada. Logo na chegada fomos recepcionados por um cachorro enorme mas bonzinho, o Fred, e nem saberia dizer a raça dele. Tinha merda pra todo lado da área da casa. Dentro, uma grande sala, cozinha, um banheiro central e três quartos, sendo um deles com banheiro também. O quarto principal ficava com o Fabrício, que era quem tinha o carro e o cachorro. Um sujeito magrelo e alto que fazia engenharia de alguma coisa. O outro quarto ficava com o Rodrigo, um cara grandão, tanto em altura como em gordura. Quando entramos estava em frente à TV.
_ Fala, Lorde. – Disse o Rodrigo ao meu irmão.
Achei estranho, pois quando entramos no carro do Fabrício na rodoviária ele havia chamado meu irmão da mesma forma.
_ E aí Rodrigo. Esse é meu irmão.
_ Opa! Beleza? – E me cumprimentou.
_ Beleza. Mas me fala uma coisa: tanto você como o Fabrício chamaram meu irmão de Lorde. Por quê?
_ Ele não te contou o apelido dele não? Todo mundo na faculdade chama ele de Lorde das Trevas.
_ Lorde das Trevas? Hahahahaha! – Não aguentei. – Por quê?
_ Olha o jeitão dele! – Respondeu o Fabrício. – E falar uma coisa: quando seu irmão bebe, vira o demônio em pessoa, hahahaha.
“Que massa!” Pensei. Acho que ia ser divertido aqueles dias.

No primeiro dia não fizemos muitas coisas. Como estava em final de semestre, meu irmão tinha um monte de trabalhos pra entregar, e ficamos o dia todo na república. Aproveitei pra brincar com o Fred, dar umas voltas no bairro enquanto fumava um cigarro e assistir televisão. Uma coisa interessante foi ler algumas histórias em quadrinhos que o pessoal tinha por lá. Coisas bem diferentes que nem sabia que existiam. À noite, compraram pão e salsicha e fizeram cachorro quente. Nem saímos de casa.
_ E amanhã? Vai ser assim também? – Reclamei, esperando algo mais próximo ao que havia presenciado anos atrás com o João.
_ Tenho que ir pro campus amanhã. Se quiser ir, beleza. Mas ficarei o dia todo lá.
_ Tá. – Respondi, desanimado, e fui ler mais uma história em quadrinhos.

Logo cedo o Lou me acordou e fomos de ônibus para o campus. Nem tomamos café nem nada, pois ele disse que o faríamos na cantina da faculdade. Fui bem desanimado, mas isso foi mudando conforme nos aproximávamos do campus: ele era enorme, muito maior que o próximo à escola que o João estudava. Lembrei que o pessoal na pensão do Lou havia dito ter doze cursos. Aquilo começou a ficar mais interessante.
_ Babaca, eu tenho aula. Então vamos na cantina e de lá você se vira. Tenho intervalo as nove e quarenta e depois almoço ao meio-dia. Não vou ficar te procurando. Ou você aparece na cantina nesse horário ou almoço sem você, entendeu?
_ Maravilha. – Respondi mais animado, pois pelo jeito teria muita coisa pra fazer ali, assim como, pelo que eu percebia, muitas gatas.
Depois do chamado café universitário, que consistia em café com leite e pão com manteiga, meu irmão foi para a aula. O acompanhei só para saber onde era a sala e de lá fui conhecer o campus. Era realmente enorme, de modo que não sabia por onde começar. Então comecei a seguir o fluxo de pessoas, principalmente onde havia mais mulheres. Isso me levou à biblioteca, e, ao entrar, aquilo me impressionou muito: fileiras e mais fileiras de livros, com mesas enormes espalhados por ela onde os alunos ficavam estudando. O movimento era muito grande, e as pessoas REALMENTE estudavam, concentradas.
Aquilo me espantava por dois motivos: primeiro, na minha cidade nem biblioteca tinha, então a visão de um lugar com tantos livros realmente era incrível. Segundo, sempre ouvia dizer que faculdade era só farra e tudo mais, e imaginar que todas aquelas pessoas estavam ali, longe dos seus pais, e estudando pra valer, era um tanto fora da realidade para mim. Fiquei um bom tempo andando por entre as fileiras de livros e observando o movimento até ter vontade de sair.
Depois disso caminhei por entre vários blocos de salas de aula, e via a diferença de alunos em cada parte. Alguns blocos tinham alunos bem playboyzinhos, bem vestidos e com ar de metidos. Outros já apresentavam pessoas mais simples, com rodas de baralho e muita conversa sobre diversos assuntos. Já em outros blocos um pessoal bem maluco, com roupas mais soltas, cabelos estranhos, rodas de violão e descontração. Era possível ver grupos com cigarros de maconha, e impressionava a naturalidade com que fumavam e a falta de reação dos que por ali passavam e os viam. Realmente eram mundos dentro de um mesmo mundo: a universidade.
Passei pela cantina no horário que meu irmão havia dito ser o intervalo, e estava lotada. Tempo depois o avisto, o que era mais fácil pela forma como se vestia agora. Me dirigi a ele, que estava com um grupo de amigos, e assim que me viu foi me apresentando:
_ Galera, esse é meu irmão Leo. Leo, essa é a galera.
Cumprimentei a todos mas era impossível decorar os nomes. Todos pareciam bem normais, tendo algumas garotas entre eles. Me perguntaram coisas sobre meu irmão que não pareciam se tratar da mesmo pessoa que eu conhecera a vida inteira:
_ Como é ter um irmão tão maluco assim?
_ Cara, como você aguenta o Lorde? Ele não existe!
_ O Lorde se veste assim desde pequeno?
Percebia que meu irmão me olhava com certo ar de preocupação, e, percebendo, ajudei a manter sua reputação, respondendo coisas que todos esperavam. Logo voltaram para a aula.
_ Não esquece da hora do almoço, heim? Tenho aula à tarde também, se não estiver aqui almoço sem você.
_ Pode deixar.
_ E, Leo? Valeu.
Apenas sorri e voltei a passear pelo campus enquanto fumava um cigarro. Tinha muito o que ver ainda.

Almoçar no bandejão foi bem legal e diferente, mas a tarde não foi tão legal assim, pois já não tinha tanta coisa diferente, de modo que acabei ficando na cantina boa parte do tempo até o fim da aula da tarde. Meu irmão se aproximou.
_ Vamos embora né? – Perguntei.
_ Daqui a pouco. Só vou falar com um amigo e já vamos.
O seguia por corredores e departamentos que não eram caminhos normais de alunos, e sim de funcionário e professores. Entramos numa pequena sala onde havia um senhor em frente a um computador. Achei estranho.
_ E aí Valdomiro! – Meu irmão cumprimentou.
_ Salve Lorde das Trevas!
E se cumprimentaram como bons amigos. Meu irmão nos apresentou rapidamente e começaram a conversar:
_ E o programa, tá em pé? – Perguntou meu irmão.
_ Certeza Lorde. Já separei um monte de coisas, dá uma olhada.
E começaram a olhar nomes no computador que de inicio não saquei, mas depois percebi se tratar de músicas de bandas de rock. A maioria eu não conhecia.
_ Posso levar meu irmão?
_ Sem problemas. Ele curte rock também?
Concordei com a cabeça, ainda sem entender do que se tratava.
_ Então até amanhã, na Fun House. – Disse meu irmão ao se despedir.
Esperei nos afastarmos um pouco até perguntar:
_ O que é a Fun House?
_ Você é burro mesmo, heim? Não ouviu o que conversamos?
_ Ouvi sim. Sei que falavam de bandas de rock, mas não entendi o que é isso. É alguma festa?
_ Não, burro. É um programa de rádio. O Valdomiro tem esse programa aqui na rádio universitária, e toda vez participo com ele.
_ Que massa!
_ Agora vamos pra casa que tô um caco, mas amanhã tem Fun House no fim de tarde e, depois, todos vamos para um boteco.

“Aí sim!”, pensei. Finalmente alguma diversão...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Aos Meus Amigos - 20 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


Não foi difícil voltar à turma, apesar de demorar pra me atualizar sobre tudo o que tinham feito e aprontado. Soube que o Ivan estava colando no André nos fins de semana, mas a mãe dele ainda não o deixava sair à noite. Descobri que tanto o Hugo como o Mário tinham perdido a virgindade também, coisa que não haviam me contato pela minha distância, e que tinha sido numa das noitadas com as “amigas” do André e do Jonatan. O Cleber pelo jeito nada. Me contaram que o Manezinho tinha largado da namorada, mas que estava andando com uma turma um pouco mal encarada, encontrando-o vez ou outra. O Hugo desconfiava que ele estava usando algum tipo de droga. Fiquei preocupado.
Nossas bebedeiras cada vez estavam mais sem limites. Agora, além dos fins de semana, nos encontrávamos a partir das quartas-feiras no bar do Pescocinho. Claro que isso gerava reclamações da minha mãe, mas, afinal, ela sabia que aquela era a fase de aproveitar e não me proibia de nada.
_ É, galera. Acho que tá na hora de ir. – Disse o Mário por volta das dez da noite.
_ Mas já? – Reclamou o Cleber. – Vamos mais uma partida.
_ Acho que também vou. Tô caindo de sono. – Falou o Hugo.
_ Então vamos todos. – Sugeriu o André, que tinha começado a trabalhar de estagiário num banco e estava se acostumando à correria. – Amanhã a gente joga mais.
O Jonatan também concordou, já que estava cada vez mais ajudando o pai dele no sítio. E assim nos despedimos em frente ao bar.
_ Leo! – Disse o Cleber. – Só fuma mais um cigarro comigo então.
_ Ok. – Respondi, de modo que tinha voltado a fumar depois do fim do namoro.
Fumávamos enquanto caminhávamos por uma das ruas principais, onde continham alguns bares e restaurantes mais caros para beber. Apenas conversávamos distraidamente.
_ Cleber? Leonardo? – Ouvimos.
Ao olhar, vimos que era o Beto, um rapaz mais velho da nossa sala por ter repetido dois anos.
_ Onde vão? – Perguntou ele.
_ Estamos vazando já. – Respondeu o Cleber.
_ Chega aí. Vamos tomar uma.
Não sei bem porque aceitamos, mas nos sentamos com ele e dois caras mais velhos que conhecíamos só de vista. Cerveja vai, cerveja vem. Cigarros aos montes sendo acessos. O papo cheio de besteiras, até que o Carlão, um dos caras propõe:
_ E se formos na zona?
Silêncio na mesa. Olhei para o Cleber e ele pra mim.
_ Vai ser massa! – Disse o Beto. – Que acham?
_ Nem temos carro. – Respondi.
_ Vocês vão com a gente. Estamos em dois carros. – Disse o Oswaldo, outro dos amigos do Beto.
Nos olhamos novamente e abrimos um largo sorriso. Aquilo seria massa.
_ Só vamos tomar mais algumas que lá é caro, não dá pra beber. – Disse o Beto.
E, já um tanto embriagados, ficamos mais ainda.

_ Podem subir.
Disse o Oswaldo, apontando pra carroceria de uma pick-Up. E assim fizemos. O Cleber já estava muito louco. O Beto e o Carlão foram em outra pick-Up.
_ Cara, vai ser massa! – Falava o Cleber.
Pegamos um trecho de pista para chegar ao puteiro. O vento frio nos fazia encolher.
_ Filho da puta. Podia ter deixado a gente se apertar lá dentro. – Reclamei com o Cleber, que nada disse.
Chegamos. Uma espécie de sítio com uma casa grande porem velha. Tinha uma mesa de bilhar e um aparelho de som por ficha do lado de fora, mas poucas pessoas ali. Como éramos estranhos no ninho, fomos seguindo os outros três, que se dirigiram direto para dentro. Puxei o Beto:
_ Cara! Nunca viemos aqui. O que rola?
_ Leo, a não ser que queira gastar uma grana pra comer alguém, a graça é xavecar a mulherada fingindo que vai comer alguém. Assim elas se esfregam em você e passam a mão no seu pau por cima da calça. É besta, mas é massa.
Bem, vamos tentar.
Nos espalhamos pelo estabelecimento, de modo que os vários cômodos se tornavam salas onde as mulheres flertavam com os possíveis clientes. De tempo em tempo víamos um casal se dirigindo para algum quarto depois de longas conversas sobre preço e o que estava incluído nele. Percebi que o Carlão já estava alisando uma garota e o Oswaldo aos papos com outra. O Beto e o Cleber eu não sabia onde estavam.
_ Não vai tomar nada. Gatinho? – ouvi alguém dizer.
Era uma das mulheres. Estava com uma roupa bem justa que valorizava certas curvas, mas já se percebia que a idade a abandonava rapidamente.
_ Não, valeu. – E fiquei quieto, procurando o Cleber.
_ Você é bem novinho, né? Tem dezoito já?
Aquilo me gelou, pois era proibida a entrada de menores. Fiquei com medo de ser expulso.
_ Já sim. Só vim com um amigo. Com licença. – E saí.
Me dirigi ao salão de entrada, que era o maior, e comecei a procurar o Cleber, até que o vi: encostado numa das paredes, estava aos beijos com uma mulher. Detalhe: tal mulher já era uma senhora, com a idade bem passada. Não acreditava no que via. Comecei a procurar o Beto, e o vi dando altas risadas com os amigos. Fui até eles.
_ Beto, temos que tirar ele de lá.
_ Calma Leo. Observa só. Você vai morrer de rir.
E fiquei um tempo olhando: Eles se beijavam e, de tempo em tempo, a mulher se virava para dançar, de modo que ficava de costas  para o Cleber, esfregando a bunda no pau dele. Ele ficava abraçado a ela, que era bem gorda, e subia as mãos para tentar pegar nos peitos, mas ela não deixava e traziam suas mãos de volta ao seu quadril. A cena se repetia, e dávamos muitas risadas. Ele realmente estava fora de si.
_ O Carlão falou que essa é a Neuza. – Disse o Beto. – Ela é caixa do bar, mas pelo jeito arrumou alguém pra se divertir.
_ Acho que já chega, né? – Falei. – Vou tirar ele de lá para irmos embora. Afinal, temos aula amanhã cedo.
E assim o fiz.

Acordei com uma baita ressaca. Apesar de não proibir que eu saísse de meio de semana, uma coisa que minha mãe não aceitava de forma alguma era perder aula por causa disso. Me arrumei, mal tomei café da manhã e fui para a escola de bicicleta, chegando a poucos minutos do sinal. O Cleber não estava lá, mas o Beto sim. Cheguei e o Mário e o Hugo vieram até mim:
_ É verdade a história do Beto? – Perguntou o Mário.
Concordei com a cabeça.
_ Cara, o Cleber tá fodido! Vai ser zoado a vida inteira. – Acrescentou o Hugo.
_ O Cleber acabou de guardar a bicicleta! – Avisou o Beto. – Temos que zoar...
O professor de geometria entrou logo em seguida. Contamos rapidamente a ele a história e dissemos que queríamos zoar, e ele, muito gente boa, nos ajudou.

Assim que o Cleber entrou estranhou o silencio da turma olhando para ele. Ficou sem dizer nada até que uma das meninas lhe disse:
_ Olha pra lousa, Cleber.
E ao fazê-lo, se deparou com um lindo coração geometricamente desenhado com os seguintes dizeres dentro dele: Cleber, 16 anos, e Neuza, 6?, se amam.

Foi só risada.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Aos Meus Amigos - 19 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


O tempo passou. Cinco meses para ser mais exato. Nesse tempo algumas coisas aconteceram: perdi a virgindade; o vô Tonico faleceu; e me afastei dos amigos.
Perder a virgindade foi massa, mas não entrarei em detalhes. Quanto ao vô Tonico foi bem triste: choramos muito, reunimos família e amigos, mas todos sabiam que depois da morte da vó Cotinha cada vez mais ele definhava, de modo que aquilo representava um real descanso para ele. Quanto aos amigos, bem, precisava reatá-los, uma vez que meu namoro havia chagado ao fim e ter me afastado se mostrava um grande erro.
A Isabela era mesmo legal, mas aquela ideia de gostar dos meus amigos, bem, não era isso exatamente.
_ O pessoal vai ao bar do Pescocinho. Que acha de uma partida de bilhar ou fliperama?
_ Pode ser Leo, mas eu estava pensando de você passar aqui em casa, a gente assiste um filme juntinhos e tudo mais. Que acha? Meus pais nem estarão aqui.
_ Hummm! Pode ser. Vou ligar pro pessoal desmarcando.
Ou:
_ Vamos pra boate?
_ Vamos. Mas você vai ficar só comigo, né?
_ Claro amor.
E assim seguia:
_ Vamos beber, Leo?
_ Não bebe não, Amor...
_ Valeu galera. Tô de boa hoje.
E o pessoal parou de me ligar e eu de ligar para eles. Encontrava o Mário, o Cleber e o Hugo na escola e lá ficava sabendo das novidades e farras deles, mas o André e o Jonatan eu mal os via.
_ Se der vou com vocês na cachoeira fim de semana.
_ Vamos fingir que acreditamos Leo. Você vai é ficar com a sua namorada.
_ Não é bem assim!
_ Que nada. Falou tanto do Manezinho e tá fazendo igualzinho.
E ouvir isso só ia me afastando mais deles.
Todos os dias eu ia à casa da Isabela, e lá ficávamos até por volta das dez, quando tinha que voltar pra casa e evitar broncas da minha mãe. Fins de semana era ela que ficava em casa, onde costumávamos sair com meus pais para almoçar no clube ou em algum restaurante sábado à noite. Do mais, filmes e TV. Sempre juntos. E isso foi cansando...
_ Leo, minha irmã vai fazer quinze anos e vai ter uma puta festa. – Disse o Mário. – Meus pais deixaram eu chamar os amigos. Você vai, né?
_ Vou falar com a Bela, Mário.
_ Cara, pode levar ela, mas se você não for não fala mais comigo. E vai ter uísque à vontade. Os moleques estão todos malucos com isso.
_ Tá. Pode deixar que eu vou.
A Isabela não gostou muito da ideia. A irmã do Mário estava uma gata e ela morria de ciúmes dela, mas insisti muito para irmos.
_ Ok, eu vou. Mas se você beber na festa eu vou embora e te largo lá.
Apenas concordei, só pensando no uísque à vontade.
O dia da festa chegou. Ao entrar no salão do clube alugado para a festa logo vi a turma toda numa grande mesa.
_ Leo? Aqui ó! Tem um lugar aqui pra vocês. – Gritava o Hugo.
Nos dirigimos pra lá. A Isabela com cara de poucos amigos. Cumprimentamos todos e nos sentamos.
_ Tó, Leo. Uísque na faixa. Já enchi seu copo. – Me empurrou o copo o Cleber.
A Isabela me beliscou.
_ Valeu Cleber. Vou ficar no refrigerante mesmo.
Todos olharam sem acreditar, mas nada disseram.
Conversavam entre eles, e, muito às vezes, puxavam algum assunto me envolvendo, no qual eu ou dava pequenas e sem grassas risadas ou apenas fazia pequenos comentários. De resto, ficava grudado à Isabela, que parecia ter prazer em me vez daquele jeito.
_ Vou ao banheiro. – Disse a Isabela. – Me espera na porta?
_ Claro.
E nos levantamos, dizendo a todos que voltaríamos logo. Já alegres com as várias doses de uísque, nem deram muita bola.
_ Me espera aqui. – Disse a Isabela, me dando um beijo e entrando no banheiro.
Logo em seguida, senti me tocarem o ombro.
_ Pelo jeito não dá pra falar só com você a não ser assim, heim? – Disse o Jonatan, e a turma toda estava junto.
_ Leo, você tá muito bundão. – Falo o André.
Ameacei responder quando fui interrompido pelo Cleber:
_ Cara, você vai só ouvir. Daqui a pouco sua namorada sai dali e você vai voltar a ser um cachorrinho. Então só escuta.
_ É cara. – Disse o Mário. – Você mudou totalmente. Que aconteceu com o Leo de sempre? Essa menina te transformou.
_ Não tem nada a ver... – Arrisquei falar algo, mas não foi suficiente.
_ Nada ver? – Agora era o Hugo. – Leo, legal você parar de fumar, mas não beber nem uma dose de uísque? Aí já é demais! Certeza que você tá louco pra beber, e é ela que não tá deixando.
Fiquei em silêncio.
_ Vamos voltar, moçada. Logo a namoradinha dele sai do banheiro.
E depois dessa fala do André, todos se afastaram. Fiquei ali, arrasado. A Isabela saiu do banheiro.
_ Que foi?
_ Nada. Vamos voltar pra mesa?
_ Vamos. Mas não vamos demorar muito né?
_ Não. Pode ter certeza...
E voltamos à mesa, sabendo exatamente o que deveria fazer: nos sentamos, peguei um copo e pedi para colocarem uísque. A Isabela me puxava o braço:
_ O que você pensa que tá fazendo?
Percebia os moleques dando pequenas risadas. Brindei com eles e dei um longo e delicioso gole, de modo que ela me puxou mais forte:
_ Eu quero ir embora. Agora!
_ Tá bom. Só vou tomar mais uma dose.
E enchi novamente o copo. Ela se levantou na hora e foi saindo. Me levantei, virei meu copo, e me dirigi aos meus amigos:
_ Daqui no máximo uma hora eu volto.
Abriram um largo sorriso e brindaram entre eles.
Alcancei a Isabela na calçada, furiosa. A bebida realmente subiu, ainda mais que fazia tempo que eu não bebia.
Ela gritava e agitava os braços, nervosa. Eu procurava me manter calmo. Quando ela se cansou de gritar e exigiu uma resposta, lhe dei a resposta:
_ Eu quero terminar.

E assim iniciou uma longa conversa por altas horas da noite. Ao final, estava solteiro novamente, mas já sem pique de voltar para a festa. No dia seguinte começaria minha nova missão: Reatar a amizade com a turma. Pra valer.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Aos Meus Amigos - 18 (Parte II)

( Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

_ O que vão fazer hoje à tarde, Leo? – Perguntava o Mário por telefone. Gelei.
_ Não sei ainda. Vou ligar pro André. – Menti.
_ Tô passando aí então. Qualquer coisa já vamos juntos pra algum lugar.
Droga! E agora? O pessoal provavelmente já estava indo para a casa do Jonatan. Arrisquei ligar lá.
_ Jonatan? O Mário tá vindo aqui em casa pra fazermos algo. Que faço?
_ Vixi! Não sei não.
_ Será que ele ficaria muito surpreso se souber do lança?
_ Vou ver com o André, mas qualquer coisa trás ele se não conseguir despistá-lo.
_ Ok.
O Mário chegou logo, e fui tentando medir a febre para o caso de contarmos para ele do lança-perfume:
_ Vamos na casa o Jonatan?
_ Fazer o que lá?
_ O pessoal tá indo lá. Vamos jogar videogame na casa do tio dele que tá vazia.
_ Massa!
Começamos a pedalar.
_ Mário, você viu alguém com lança-perfume no carnaval?
_ Tinha uma turma no salão que acho que estava usando, mas não tenho certeza.
_ Já teve vontade de experimentar?
_ Não sei. Meu pai disse que antigamente era normal no carnaval, mas hoje é proibido. Não tenho nem ideia como é.
_ E se eu te disser que é muito louco?
_ Você experimentou?
_ O Jonatan arrumou um tubo e experimentamos ontem. Tentamos te ligar mas você tava dormindo.
_ Caramba! – E ficou quieto.
Chegamos na casa do Jonatan. O pessoal esperava no portão, sem saber como reagir.
_ E aí povo? – Tentei quebrar o gelo. Cumprimentaram sem graça.
_ E aí Mário, tá namorando? – Perguntou o Hugo, ajudando na quebra do gelo.
_ Acho que não. Só curtindo. Diz aí, Hugo, é massa mesmo?
O Hugo ficou surpreso, um pouco perdido.
_ O que?
O Mário olhou para os lados se certificando que ninguém estava perto, e então soltou:
_ O lança-perfume. É massa mesmo?
Silêncio de todos.
_ Contei pra ele, pessoal. – Falei.
Silêncio novamente.
_ Você quer experimentar? – Perguntou o André.
_ Não sei. Vou ver vocês usarem antes, dependendo como for experimento.
Ficamos mais aliviados. Pegamos a chave da casa do tio do Jonatan e pra lá fomos.

_ Nossa!!! Que massa!!! – Foi a reação do Mário. E pensar que o tempo todo escondíamos dele. – Vocês vão levar pro salão?
_ Não. Descobrimos que não dá muito certo. – Falou o Hugo. E contamos tudo para ele.
_ Seus cuzões! Por isso estavam estranhos no primeiro dia. Mas me dá mais um pouco que perdoo vocês. E claro que não vou dar um centavo, hahahaha.
E assim passamos mais uma tarde de videogame e lança-perfume. O último tubo. E também era a última noite de carnaval.

_ Leo! – Disse o Mário. - Sua prima e eu conversamos bastante e vimos que, por causa da distância e tal, nem rola namorar.
E entramos no clube.
_ Maravilha cara. E você tá bem?
O Mário tava com uma cara de chapado. Depois do lança-perfume na casa do tio do Jonatan fomos para o bar do Pescocinho e enchemos a cara. Ainda bem que meus pais não estavam em casa durante o momento do banho e saída para o carnaval, pois eu também estava bem torto.
_ Tô ótimo, hahahaha! – E me abraçou.
No salão bebíamos e nos divertíamos. A Maria parecia não ligar para a bebedeira do Mário, já que era carnaval, e bebeu bastante também. Ao longe eu procurava a garota da noite anterior.
_ Nada ainda, Leo? – Perguntava a Maria, percebendo meus olhares.
_ Hehehe! Nada. Me ajuda se a ver, ok?
E assim foi indo, bebendo, dançando e às vezes saindo para fumar. O André beijava uma menina, o Mário a Maria.
_ E nós? Nada? – Se revoltava o Hugo.
_ Tenho a impressão que vou me dar bem. – Disse.
_ Quero ver. – Falou o Cleber.
E então a vi: Linda, com vestido branco e um chifre de diabinho no arquinho de cabelo. A seguia com os olhos o tempo todo.
“Como não a vi antes?” Me perguntava.
Ela me viu, e deu um sorriso.
_ Esperem aqui. – Disse à turma.
Nunca tinha feito isso, mas parece que no dia anterior algo havia mudado em mim. Fui em direção a ela, e a toquei no ombro.
_ É um anjinho ou um diabinho? – Perguntei.
_ O que você prefere?
_ Depende... – E a puxei para perto de mim.
Nos beijamos...

_ Leo? Vamos à padaria? – Perguntava o Hugo.
_ Que acha? – Perguntei a ela, que se chamava Isabela.
_ Ótimo. Minhas amigas também vão pra lá.
Descemos todos juntos, meus amigos, eu e a Isabela. Não sabíamos se suas amigas estariam lá, mas a ideia é que estariam.
_ Se não estiverem lá te levo pra casa. – Disse um tanto encantado.
A Isabela estudava numa outra escola, um ano a menos que eu, e não tinha o costume de sair até aquele carnaval, por isso nunca a havia visto.
_ Parece que está mais cheio hoje! – Disse ela.
Realmente, estava bem cheio. Talvez por ser a última noite, mas eu não estava nem aí para o movimento. Pela primeira vez estava realmente gostando de alguém. Meu medo era se ela sentia o mesmo. Como saber?
_ Tá namorando!!!
Ouvi meu irmão gritar do outro lado da rua. Dei um sorriso sem graça.
_ Meu irmão. Dá bola não.
Ela sorriu graciosamente.
Naquela altura o André já não estava mais ali, e o Jonatan tentava algo também, mas parecia que não teria sucesso. O Hugo e o Cleber nada. Ficavam com a cara de bêbado olhando para toda garota que passava por eles.
_ Seus amigos são umas figuras. – Disse ela.
Achei massa, pois era tudo que eu queria: uma garota que gostasse dos meus amigos.
_ Vamos pegar os lanches e sentar com eles? – Sugeri.
_ Claro. – Respondeu ela prontamente.
Naquela noite nem peguei cerveja, como sempre fazia. Comemos os lanches, coloquei um chiclete na boca ao invés de um cigarro e fiquei ali, nos beijos. O Cleber até ofereceu o cigarro.
_ Valeu, Cleber. Tenho outros interesses agora.
_ Você quem sabe. – Disse ele.
_ Acho gostoso que você não fume. – Falou carinhosamente ela.
_ Se você prometer ficar comigo não fumo mais. – Disse sem pensar.
Ela ficou me olhando, um pouco sem graça. Eu então percebi o sentido daquelas palavras. Ela então soltou o que faltava:
_ Se isso for um pedido, eu digo sim.

E nos beijamos. Naquele momento tinha começado o meu primeiro namoro...