domingo, 24 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 25 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


Estávamos pegando o jeito com o futebol americano adaptado às nossas regras, mas ainda queríamos mais.
_ Se tivesse mais pessoas seria mais legal. – Comentou o Neuza durante um cigarro já durante a terceira noite de carnaval.
_ E se chamássemos o Ivan e seus amigos? – Sugeriu o Mário.
_ Melhor não. Eles podem acabar nos entregando. – Disse o André.
_ Mas o lança-perfume já acabou, e quanto à bebida o Ivan já fez sua estreia. – Falei.
O André ficou pensativo, e todos pareciam concordar.
_ Mas vai ficar número impar. Precisaríamos de mais um. – Apontou o Jonatan, já meio que concordando com a ideia.
_ E não teria como levar todos no carro do Jonatan. – Lembrou o Neuza.
_ Posso chamar meu irmão também. Ele já está com carta. – Falei.
_ Se for todo mundo vamos querer ir também. – Disse a Maria, já gostando da ideia.
Paramos para fazer os cálculos: se todos topassem ir estaríamos em doze. Como as coisas para o churrasco já estavam no sítio o carro do Jonatan poderia ir com cinco pessoas, o carro dos meus pais dirigido por meu irmão com mais cinco e a mobilete com mais dois. Daria certinho. Claro que a Maria e a Rosana não jogariam, mas os times já aumentariam de três para cinco em cada lado. Seria bem divertido. Decidimos chamar o Ivan e seus amigos, e depois conversaríamos com meu irmão. Tudo tinha que dar certo.

_ Que acha, Lorde?
Perguntei ao meu irmão depois de presenciarmos a alegria que o Ivan ficou com o convite, chamando os amigos dele que toparam na hora, desde que seus pais deixassem, claro. O Antônio tinha até uma bola oficial de futebol americano, o que deixaria muito mais interessante.
_ Humm! Pode ser legal. Vou chamar o Borges e o Fábio também. Eles devem topar.
_ Mas aí não cabe nos carros.
_ O Borges tá com uma mobilete. Não vai ter problema. E quanto de bebida vai ter?
_ Ontem e hoje levamos uma caixa de cerveja de lata por pessoa.
_ Ok. Vou falar com eles. Se toparem eu vou.
E assim armamos um grande jogo para a tarde do último dia de carnaval, o que parecia que seria incrível.

_ Como dividiremos os times? – Perguntei, depois de comermos e bebermos um bom tanto.
_ Que tal da forma clássica? – Sugeriu meu irmão.
A forma clássica era por par-ou-ímpar entre os dois mais velhos ou melhores no jogo, que se alternariam para escolher entre os participantes. Como não tinha ninguém melhor por ser um jogo novo para nós, meu irmão e o Jonatan que escolheriam.
_ Par!
_ Impar!
O Lourenço ganhou.
_ Quero o Borges.
_ André.
_ Vem Leo.
Caramba! Estava separado da minha turma. Achei que o Lourenço escolheria o Fábio e que o Jonatan me escolheria em seguida.
_ Mário.
_ O Fábio.
E assim seguiu, de modo que os times ficaram assim: Lourenço, Borges, eu, Fábio, Neuza e Antônio num time; e Jonatan, André, Mário, Hugo, Ivan e Hélio no outro. O Antônio estava meio deslocado por ter se separado dos seus amigos também, mas não teria jeito. Cada time foi para seu lado. O jogo iria começar.
_ E aí, Leo? Qual o esquema do pessoal do outro time? – Perguntou meu irmão.
_ Temos essa vantagem. Vocês conhecem o time todo deles, mas eles não conhecem o nosso. – Completou o Borges.
_ É verdade. Ali os mais rápidos são o André e o Hugo. Geralmente o Jonatan que recebe a bola inicial para lançar para um deles. O Mário prefere jogar na defesa, e provavelmente vai tentar parar você, Lourenço. O Ivan é meio mole de corpo, mas ligeiro. O Hélio que não sei.
_ Que fala do Hélio, Antônio? – Perguntou o Fábio.
_ Mas aulas de educação física ele não costuma ser bom não. É meio preguiçoso.
_ Certo. – Disse meu irmão. - Vamos fazer o seguinte então: Cada um marca aquele que conhece melhor. O Leo vai atrás do André, o Neuza do Hugo, o Antônio do Ivan. Deixa o Mário comigo e o Borges tenta marcar o Jonatan. Fábio, o Hélio é seu.
Todos a postos. Como nosso time começou a escolher os jogadores o time deles teria o inicio da bola. A Maria e a Rosana aguardavam empolgadas o inicio do jogo, tendo escolhido torcer para o nosso time, claro, pois era o dos seus primos.
O jogo começou: o Mario jogou a bola para o Jonatan que começou a recuar enquanto o André e o Hugo corriam pelas laterais. O Mário foi para cima do meu irmão para segurá-lo, o Ivan tentou me barrar e o Hélio marcava o Antônio. O Jonatan jogou a bola para o Hugo no momento em que o Borges voava sobre seu tórax, derrubando-o. O Neuza pulou em direção ao Hugo que jogou rapidamente a bola para o André, mas antes de chegar até ele interceptei e peguei no ar, uma vez que tinha me livrado da marcação do Ivan.
_ Porra, Hugo! – Gritou o André.
Comecei a correr na direção da nossa linha de gol, percebendo que o Mário tentava vir para cima de mim, mas meu irmão o barrou. Nisso o Hélio abandou a marcação que fazia no Antônio e veio em minha direção, e, antes que eu pudesse jogar a bola para o Fábio, que estava mais próximo da linha do gol, ele pulou para me segurar e me derrubou.
_ Boa Helinho! Boa Helinho! – Gritava o Ivan, comemorando.
Retomamos o jogo de onde eu havia sido derrubado. Tínhamos mais duas chances como aquela se não perdêssemos a bola, e estávamos próximos à linha de meio campo que havíamos combinado.
_ Qual o plano? – Perguntei.
_ Somos maiores que eles. E se aproveitássemos disso? – Sugeriu o Borges.
_ Como poderíamos fazer isso? – Perguntou meu irmão.
_ Lembro de um quadrinho em que todos os heróis se enfrentavam, de modo que a briga era difícil por procurarem anular os mais fortes. Mas foi justamente no mais fraco que conseguiram a vitória, pois ninguém esperava que ele levaria o medalhão mágico até o altar.
Ficamos pensativo. Naquela altura o Antônio era o mais novo de nós, o que concluímos ser o que menos se esperaria algo dele, e então armamos o plano...

_ Vinte sete! Sessenta e oito! Quarenta e dois! – Dizia números aleatórios que me vinham à cabeça. – Vai!
E joguei a bola ao Fábio. Nisso, todos, inclusive eu, nos fechamos quase que numa roda de costas para eles, que vieram em nossa direção, mas sem entender nada. Ao se aproximarem, nos viramos rapidamente para segurá-los, dando proteção ao Antônio e o Fábio, que corriam pelas laterais.
_ Vai Fábio! Corre! – Gritávamos.
E de modo instintivo, o André, o Hugo e o Jonatan foram em sua direção, livrando nossos jogadores para proteger melhor o Antônio, que era quem realmente estava com a bola. Ponto para nós.
_ Sacanagem!
Reclamavam eles uns com os outros, de modo que aquilo começou a incentivar mais as estratégias do que o confronto físico, e assim o jogo seguiu, mas a equipe deles acabou ganhando, com certo destaque do Hélio, que se mostrou bem versátil.
_ Helinho?! Se você fosse uma mulher eu daria pra você! – Soltou o Ivan.
Silêncio de todos.
_ QUÊ?!? – Falou o André.
_ Hahahahahahahahahaha!!!! – Foi a reação de todos.
_ IHHH! O Ivan é namoradinho do Helinho, hahahaha! – Gritou meu irmão.
_ “Ai, Helinho! Vamos no matinho para eu dar para você?” – Tirava sarro o Jonatan.

E assim terminava mais uma tarde no sítio do Jonatan, depois de muita correria, cerveja e cigarros. Novas pessoas integravam à turma, assim como um novo apelido surgia. O Ivan agora era o Helinho. E o Hélio, bem, ficaria sendo o Namoradinho do Ivan. Fazer o quê?

domingo, 17 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 24 (Parte II)

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Mais um ano novo se passou. Como no ano anterior, nos divertimos muito, voltando só ao amanhecer. Dessa vez sim vi o nascer do sol, e nem nos preocupamos em ir atrás de mulherada, apenas beber e encontrar amigos e conhecidos. Meu irmão ficou um tempo conosco, mas sempre saia pra zoar com sua turma. Em certa altura avistei o Manezinho, com um pessoal nada amigável. Decidi falar com ele.
_ E aí, Manezinho? Quanto tempo?
_ Oh! Leo?
Ele parecia chapado, e não era de bebida.
_ Cara, como você tá? O pessoal disse que largou da namorada.
_ É. Tô de boa. Só curtindo.
_ Tá bem mesmo? Não parece muito não.
_ Leo, tô de boa, ok?
_ Tá certo. Não quer ir com a gente um pouco?
_ Não. Tô de boa.
Nem me despedi direito e fui saindo. Que droga. Tempo depois descobri que tinha engravidado uma menina. Pelo que minha mãe falou o tio Mané estava bem mal com as histórias todas, e o João trabalhava numa fazendo numa cidade bem distante, de modo que nem podia ajudar. Era triste isso.

Logo as aulas voltaram também. Meu último ano de colégio, e eu nem sabia o que queria fazer da vida, mas logo depois da volta às aulas chegou novamente o carnaval.
_ Não vai arrumar namorada de novo não, heim Leo? – Brincou o Hugo.
_ Tô fora. Nada de namorada, só farra.
Como no ano anterior arrumamos alguns tubos de lança-perfume, mas não muitos, pois o preço estava bem mais alto. E, como já tínhamos aprendido, nada de levar para o salão, então decidimos ir toda tarde ao sítio do pai do Jonatan para fazer churrasco, beber e usar o lança, claro, e isso tudo facilitava com a carta de motorista do Jonatan.
_ Mas não cabe todo mundo. Como vamos fazer? – Perguntou o Neuza.
_ Se o Jonatan deixar posso ir de mobilete. – Ofereceu o André.
_ Se você for por estrada de terra pra não pegar pista pode ser. – Disse o Jonatan.
Então estava tudo certo: nas tardes de carnaval faríamos churrascos nos sítio do Jonatan, regados de cervejas e lança-perfume.
_ E o Ivan? Vai também? – Perguntou o Mário.
_ Só no salão. Para os churrascos não. – Respondeu o André.
Aquilo mostrava como as coisas mudavam rapidamente. Demorou tanto para podermos ir sozinhos a um carnaval e os pais do Ivan o deixaram numa boa. Só não poderia ficar até o fim, de modo que seu pai o buscaria por volta das duas.

As noites foram bem legais: muita gente, canja na frente do clube, padaria depois do término e tudo mais. A Maria e a Rosana foram para o carnaval novamente, mas não rolou nada entre a Maria e o Mário, apenas se divertiam como bons amigos. O Ivan também se divertia muito, saindo completamente suado de tanto que pulava no meio do salão, se revezando entre ficar com a gente ou com seus amigos que também estreavam no carnaval. Assim como eu fiz no passado, de querer juntar a turma da escola à turma dos primos, o Ivan também queria juntar sua turma à nossa, e nos apresentou seus dois melhores amigos:
_ Tio André, Leo e pessoal, esses são o Antônio e o Hélio, meus amigos da escola.
_ Opa!
_ E aí?
_ Beleza?
E de imediato não demos muita bola, mas pareciam bons moleques.
Mas mais que as noites, foram nas tardes de churrasco e lança-perfume que realmente nos divertimos, de modo que meus pais nem reclamaram de não ficar com a Maria e a Rosana, uma vez que elas dormiam quase que o dia todo.
_ Quem vai no carro comigo? – Disse o Jonatan. - Alguém vai ter que ir com o André de mobilete, caso contrário não terá espaço para as coisas no carro.
As coisas eram as bebidas, carne e outras coisas que levávamos para passar a tarde toda.
_ Eu vou. – Disse o Neuza.
E assim saímos, indo todos juntos por estrada de terra para o caso de algo acontecer com a mobilete, como furar o pneu ou qualquer outra coisa. O sítio não era muito longe.
_ E se já mandarmos uma rodada aqui no carro mesmo? – Sugeriu o Hugo.
_ Nem fodendo. – Reclamou o Jonatan. – Eu estou dirigindo e não vou poder usar.
_ Então vamos só fingir que estamos cheirando o lança quando passarmos por eles. – Falei. – Eles vão ficar putos.
_ Boa ideia. – Respondeu o Mário.
O Jonatan então começou a acelerar para passa-los, e enquanto isso nos preparávamos. Conforme nos aproximávamos, o Jonatan já foi buzinando, e quando olharam enquanto passávamos por eles fingimos estar loucos mostrando o tubo.
_ Não vale!!! – Gritava o Neuza.
_ Pode encostar o carro, Jonatan! Também queremos! – Exigiu o André.
E a ideia pareceu boa para todos. Paramos o carro embaixo de uma árvore e demos uma rodada cada um, acendendo cigarros e abrindo latas de cerveja enquanto o efeito passava. Foi bem gostoso, e o restante do percurso até o sítio estávamos bem alegres, colando nossas bundas no vidro do carro para provocar o Neuza e o André toda vez que os passávamos.
_ Seus viados! – Gritavam.
_ Vou comer essa bundinha! Cuzões!

No sítio arrumamos tudo para o churrasco, colocando as bebidas na geladeira da casa sede e acendendo o fogo. Mais latas foram abertas e cigarros acesos. Carnes na grelha e novas rodadas de lança.
_ Cara! Isso é demais! – Berrava o Mário.
_ Bem que poderíamos fazer algo depois de comer, né? – Disse o André.
_ Tipo o que? – Perguntei.
_ Não tem nenhuma bola aí, tem Jonatan? – Perguntou o Neuza.
_ Acho que não, mas vou dar uma olhada.
Depois de um tempo, o Jonatan volta com uma bola muito velha de capotão, toda remendada com costuras manuais. Não daria nunca para jogarmos com aquilo.
_ Me dá aqui, deixa eu ver. – Pediu o Hugo. – Pra ficar dando chutes não dá, mas e se jogássemos futebol americano.
_ Tá ficando louco? – Disse o Mário. – Você sabe como joga?
_ As regras não, mas sei que tem que chegar a um determinado lugar com a bola na mão enquanto o outro time tem que impedir segurando o adversário.
Nos olhamos com certa alegria. Aquilo poderia ser bem divertido. E então dividimos os times: André, Hugo e eu de um lado. Jonatan, Neuza e Mário do outro.
_ Vamos fazer assim: - Disse o Hugo. - Passou daquela linha é gol de vocês e daquela outra é gol nosso. A bola começa do meio e a saída a gente imita do que vê em filmes. Se a bola cair no chão, para a jogada recomeçando do último lugar onde o jogador estava, podendo repetir três vezes até passar para a vez para o outro time. Se o outro time roubar a bola já pode correr para o lado do seu gol, seguindo a mesma lógica. Que acham?
Todos concordaram. Parecia mais ou menos como víamos em filmes mesmo.
Nos posicionamos, cada time do seu lado. A bola sairia com o time adversário, de modo que o Jonatan passaria a bola para o Mário por baixo das pernas para iniciar o jogo. Ao fazer isso o Hugo foi para cima do Jonatan para tentar impedi-lo de correr, eu fui para cima do Neuza e o André correu em direção ao Mário, que jogou rapidamente a bola para o Jonatan, fazendo com que o André mudasse sua direção para ir atrás da bola. Mal o Jonatan se esticou para pegar a bola o Hugo pulou junto, e o André voou para as pernas do Jonatan, derrubando-o de modo a trombar com tudo no Hugo, batendo a lateral do rosto no seu ombro.
_ Aiaiaiaiai! – Gritava o Jonatan.
_ Que foi? Não começa com frescura só porque perdeu a boa! – Já reclamou o André.
Quando o Jonatan levantou, a parte do rosto próxima ao olho estava com um calombo enorme.
_ Caramba! Alguém pega gelo! – Gritou o Hugo, de modo que o Mário o fez de prontidão.
Pausa para o gelo, cigarro e cerveja. Decidimos rever o tal jogo, aproveitando para uma rodada de lança.
_ Porra, os caras dos filmes usam proteção. Não vai dar certo isso. – Disse o Neuza.
_ Mas e se tomarmos alguns cuidados extras. – Falei. – O Jonatan só se arrebentou porque o André pulou nas pernas dele. E se combinarmos que só vale da cintura para cima, não podendo segurar pela cabeça, claro.
Todos ficaram pensativos, até que o próprio Jonatan disse:
_ Pode ser. O jogo parece legal apesar de me machucar. Mas se for assim pode dar certo.
E combinamos de tentar mais uma vez...

_ Cara! Foi bem legal o dia, heim? – Dizia o Mário numa das pausas do salão do carnaval, enquanto fumávamos e bebíamos.
_ Mas vocês estão todo ralados e machucados! – Chamava a atenção a Rosana.
_ Isso é só detalhe. O que importa é a diversão. – Defendi.
_ Vocês são loucos. – Concordava com a Rosana a Maria
_ Amanhã tem mais. – Anunciou o Neuza.
_ Posso ir com vocês? – Se convidou o Ivan.
Silêncio. Se o Ivan fosse poderia estragar o esquema do lança-perfume.
_ Melhor não, Ivan. Vai que você se machuca. Sua mãe me mata. – Disse o André.
Percebemos que ele ficou bem triste, se dirigindo aos seus amigos, mas teria muito para se divertir conosco ainda.
_ Mais bebidas? – Sugeri.
_ Com certeza. – Concordou o Hugo.

E nos dirigimos ao bar, não vendo a hora de mais uma tarde no sítio do Jonatan no dia seguinte.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 23 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )

Naquele final de ano o Ivan terminava a oitava série, e haveria sua festa de formatura. Quase que a família toda iria, e como ele estava grudando em nós aos fins de semana convidou a turma toda também, de modo que alguns teriam que comprar as entradas, e deixou bem claro ao André:
_ Tio, eu quero beber!
_ Pode deixar Ivan. A gente da um jeito de você beber sem sua mãe perceber.
Ele estava muito excitado com aquilo.
Outra coisa legal foi o Jonatan tirar carta, e com o dinheiro que juntou trabalhando com o pai acabou comprando uma mobilete. Não que fosse preciso carta para a mobilete, de modo que muita gente tinha uma sem ser maior de idade, mas para que o Jonatan pudesse ter a sua aquela era a exigência do seu pai. O bom da carta é que às vezes ele podia pegar o carro também, o que ampliou nosso leque de diversão.
_ Como vai ser na formatura? Já pensou em algo André? – Perguntei, em meio a uma partida de bilhar, pra variar.
_ Ainda não. Mas essa vai ser a estreia do Ivan.
_ Vai ter bebida liberada? – Quis saber o Neuza.
_ Não. Eles servirão comida de um buffet contratado com o dinheiro arrecadado pela turma ao longo do ano. Água e refrigerante vai ter, mas bebida alcoólica não. Teremos que comprar no bar mesmo.
_ O duro é que a bebida nesses bares de formaturas é uma facada. – Reclamou o Hugo.
_ E não pode levar? – Perguntou o Mário.
_ Geralmente em formaturas permitem aos familiares levarem garrafas de uísque ou vodca. – Lembrou o Jonatan.
_ É mesmo! Vai ser fácil então.
_ Sua irmã não vai achar ruim? – Questionei.
_ Se achar eu brigo com ela. Vamos rachar uma garrafa de uísque então.
Estava decidido.
_ Você vai de carro, Jonatan? Seria legal pra zoar depois. – Quis saber o Mário.
_ Se meu pai liberar sim, mas não sei. Pelo menos de mobilete eu vou.
_ Ai você passa em casa. – Já se convidou o André.
E continuamos nossa noite de bebidas, cigarros e bilhar.

A noite da formatura chegou. Fui com meus pais, meu irmão, a Rosália, o Roberto e o Neto, que já corria por todo lado, dando um bom trabalho de vez em quanto. A família toda estava reunida em duas mesas, e tinha mais uma só para a turma. Como era pedido no convite, todos teriam que ir de terno, o que nos deixava parecendo sérios. Ver meu irmão daquele jeito foi hilário:
_ Combina com você, Lorde. Devia andar sempre assim.
_ Vai se foder!
_ E o tio André? Vai demorar? – Perguntava o Ivan, ansioso.
_ Fica tranquilo, Ivan. Hoje a noite promete.
A turma foi chegando aos poucos: o Hugo e o Mário foram os primeiros, chegando juntos. O Cleber veio logo em seguida, procurando onde estávamos. E logo chegou o Jonatan e o André, que tinha ido de mobilete mesmo. O André carregava o uísque.
_ Não vai beber demais, ouviu Leo? – Já dizia minha mãe ao ver a garrava sendo colocada na mesa.
_ É só um pouco, mãe.
_ Posso entrar no racha com vocês? – Puxou meu irmão, falando ao meu ouvido.
_ Vou ver com o pessoal, mas acho que tudo bem.
Chamaram os formandos para a entrada de abertura. O Ivan saiu e abrimos a garrava. Ele olhava o tempo todo para nós.
_ Vamos deixar um copo preparado com uísque e refrigerante. – Disse o André. – Assim que ele voltar é só ele não dar bandeira que ninguém vai desconfiar.
E tomamos uma dose cada. Meu irmão junto. A garrafa já desceu significativamente, o que nos preocupou.
_ Alguém quer água ou refrigerante? – Perguntou o garçom.
_ Refrigerante, por favor. – Pedi, já como parte do plano.
_ Refrigerante?!? – Provocou o Rodolfo, irmão do André, da outra mesa.
Só fiz um sinal para ele e mostrei o copo de uísque. Ele ficou rindo. Não sabia de nada.
Os formandos entraram de acordo com o protocolo. A mesa com direção, coordenação e professores faz seu discurso e os diplomas foram entregues. A Inês, mãe do Ivan, e a tia Josefa choravam de emoção. E o Ivan sempre olhando para nós, e estendíamos nossos copos em homenagem a ele, que sorria. Minutos depois, se sentava na nossa mesa após ser parabenizado por toda família e amigos.
_ E agora, tio André?
_ Agora? É só beber seu refrigerante, hehehehe.
Ele pegou o copo sem entender, e o incentivamos a beber. Deu um gole, engasgando com o gosto da bebida. Todos rimos.
_ Nossa! Tá forte.
_ Deixa de ser bundão, Ivan. Estamos todos tomando puro. – Soltou o Lourenço.
Ele deu outro gole, fazendo uma careta.
_ Ivan, se continuar assim vai denunciar pra sua mãe. – Falou o Jonatan.
Ele deu outro gole, disfarçando um pouco, mas era evidente que estava achando forte.
_ Acho melhor misturar com mais refrigerante, se não ele não vai aguentar e vai denunciar. – Sugeriu o Hugo.
Não gostamos da ideia, mas o fizemos.
E a garrafa descia...

_ Cara, já tô bem louco. – Disse o Neuza enquanto dávamos uma volta para um cigarro lá fora.
_ Certeza. Eu também. – Concordei.
_ Seus fracotes! – Disse meu irmão, que se juntou a nós para o cigarro, mas já claramente alterado também.
_ O duro é que a garrafa tá acabando. – Lembrou o André.
_ Vamos ter que comprar mais. – Sugeriu meu irmão.
Nisso, ele tirou da carteira uma nota um tanto alta.
_ Aqui tá minha parte da garrafa, e um pouco mais pra ajudar. Quanto vocês têm?
Tiramos nossas carteiras e olhamos. Somava uma quantia até que significativa devido a nota do meu irmão.
_ O pessoal lá dentro deve ter um pouco mais. – Falou o Jonatan.
_ Vamos passar no bar e perguntar o preço da dose. – Disse o André, já saindo.
Ao chegar no bar encontramos o Rodolfo, comprando justamente uísque.
_ Acabou o estoque? Hahahaha! – Disse ele.
_ É. Quanto tá a dose, Rodolfo? – Perguntei.
_ Quanto você faz para eles, Galego? – Perguntou o Rodolfo para o cara do bar.
_ São seus parente?
_ Esse é meu irmão e esses dois são primos. O restante é amigo.
_ Bem, sendo assim, pela amizade que temos, faço dois por um. E caprichado.
Aquilo nos animou muito. Voltamos para o salão contar para o Mário, o Hugo e o Ivan. Todos ficaram muito felizes, principalmente o Ivan, que já estava de fogo e tínhamos que a toda hora pedir para que disfarçasse a bebedeira.

_ Vamos embora, Ivan? Já está tarde. – Era a Inês chamando-o.
_ Ah, mãe! Deixa eu ficar com o tio André e o Leo?
_ Não sei não. Você é muito novo.
_ Eu cuido dele, Inês. Deixa, vai? – Disse meu irmão. Não acreditávamos naquilo.
_ Bem, se o Lourenço te acompanhar até a casa da sua vó tudo bem. Afinal, ele é mais velho. Mas não é para irem embora muito tarde, entenderam?
Todos concordaram com a cabeça, já bem altos mas disfarçando.
Aquilo representou a glória. Todos os adultos foram embora. Ficamos apenas nós com o Ivan e as doses de uísque em dobro. Minha mãe tinha dado um sermão básico antes de ir mas já estávamos acostumado àquilo. Finalmente poderíamos nos soltar.
_ Então vamos a uma nova rodada!!!
E todos nos dirigimos ao bar encher os copos. O Ivan misturando com refrigerante e ainda disfarçando, uma vez que na festa ainda tinha muitos pais de seus colegas de classe.
Ao voltar para o salão com os copos cheios o Hugo me cutuca:
_ Leo, olha embaixo daquela mesa!
Quando olho para a mesa apontada por ele vejo uma garrafa de uísque, levemente escondida e sem ninguém nela. Aquilo nos atiçou, e puxei o Ivan.
_ Quem tava sentado nessa mesa?
O Ivan se aproxima e lê o nome impresso num papel na mesa.
_ É da Laura, a menina mais rica da sala. O pai dela é médico.
_ Onde eles estão agora?
_ Dançando no salão. – Diz ao olhar ao redor. – E a Laura tá naquele grupo de meninas.
Olhei para o Hugo que olhava para a garrafa que olhava para nós. Num impulso, o Hugo soltou:
_ Chama o pessoal e me encontra lá fora.
Se agachou, pegou a garrafa e saiu rapidamente. Fui avisar a turma.

_ Onde está indo, Leo? – Perguntou o Jonatan, vendo eu me afastar já muito bêbado.
Nesse momento estávamos na praça em frente ao salão, onde tínhamos ido fumar um cigarro. Meu irmão dormia numa das mesas do clube, chapado depois de mostrar para a gente como se virava um copo de uísque, fazendo isso três vezes seguida. O Mário já tinha ido embora sem conseguir manter uma linha reta. O Hugo reclamava que estava passando mal enquanto o Neuza vomitava numa árvore. O Ivan mal conseguia falar, enquanto o André e o Jonatan fumavam sentados num dos bancos da praça, zonzos.
_ Vou cagar. – Respondi.
Me dirigi a um dos vaso do jardim e baixei as calças. Aquilo despertou o Ivan.
_ O que o Leo vai fazer? – Disse, enrolando a língua.
O Jonatan e o André olharam, assustando.
_ Que tá fazendo, Leo? – Gritou o Jonatan.
_ Vou cagar.
O André só dava risada, e o Hugo correu em minha direção.
_ Leo! Você vai cagar no vaso de planta?
_ Vou cagar. – Era tudo o que eu dizia.
_ Me ajuda a tirar ele daqui. – Pediu o Hugo, e o Jonatan e o Neuza o ajudaram.
_ Cara, depois dessa eu vou embora. – Anunciou o Neuza.
_ Você tá bem, Leo? – Perguntou o André.
Concordei com a cabeça enquanto arrumava as calças.
_ É. Acho melhor irmos todos. – Concluiu o Jonatan.
Acordamos meu irmão e fomos embora, trançando as pernas.
No dia seguinte ficamos sabendo de vários ocorridos: o Ivan, sabe-se lá se de bêbado ou se de sonâmbulo, saiu três vezes na rua de cueca, de modo que a tia Josefa teve que ir busca-lo nas três vezes, perguntando o que estava acontecendo enquanto ele falava coisas desconexas; o Neuza se perdeu no caminha para casa, chegando quase ao amanhecer; o Jonatan e o André caíram de mobilete e tinham ralado o joelho e os braços; o Hugo vomitou na cozinha ao entrar e ver um frango descongelando sobre a pia; e o Mário tinha dado o maior trabalho na casa dele, de modo que o seu pai precisou dar banho nele, e quando perguntava o que ele tinha feita pra ficar daquele jeito ele respondia:
_ Bebi conhaque com churrasco.

Nem tinha churrasco na festa. Muito menos conhaque.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Aos Meus Amigos - 22 (Parte II)

O programa do Valdomiro seria só no final da tarde, de modo que passei mais um dia à toa perambulando no campus. Aproveitei para fuçar em alguns livros na biblioteca e circular pela área de anfiteatros, onde ocorriam alguns eventos. Cheguei até a assistir uma palestra sobre um filósofo alemão da qual não entendi direito, mas, o que entendi, achei bem legal.
_ Vamos? – Chamou meu irmão ao sair da última aula.
_ Opa!
E nos dirigimos para um dos prédios da universidade onde ficava a rádio. Achei bem legal isso, ter uma rádio da própria universidade.
Pela primeira vez entrei num estúdio de rádio: uma sala toda forrada com espumas para não deixar o som entrar ou sair e vidros a prova de som que separavam os ambientes. Dentro, o Valdomiro, meu irmão, eu e mais dois caras com roupas parecidas com as do meu irmão. Atrás do vidro o técnico de som, que se comunicava com o Valdomiro por um microfone enquanto rolava música, de modo que uma luz indicava quando estávamos no ar.
No início da transmissão o Valdomiro fez a abertura de sempre e apresentou os convidados do dia, dizendo até meu nome ao vivo. Fiquei me sentindo muito importante, quase não acreditando. Durante as músicas em sequência todos se juntavam do lado de fora para fumar, e me surpreendeu quando o Lourenço tirou um maço de cigarros do bolso do casaco e acendeu um.
_ Se você falar pros pais eu te mato.
_ Fica tranquilo! – Respondi, tirando meu maço de cigarros e acendendo um também.
Ele pareceu surpreso, mas também aliviado.
Ali ouvi muita música incrível. Meu irmão sempre gostou de rock, coisa que eu até achava legal, mas nunca tinha dado muita bola, até aquele dia. Bandas que nunca tinha ouvido falar, grupos com sons fantásticos, toques de guitarras e solos de bateria... sai de lá com uma certeza: o rock não era um gosto, e sim uma necessidade. Aquilo tinha realmente transformado meu gosto musical. Para sempre.

_ VAI LORDE! VIRA MAIS UM! – Gritavam todos na mesa do bar, e meu irmão virava grandes canecas de cerveja de uma vez, deixando escorrer fios da bebida por sua barba. Ao término, batia com tudo a caneca na mesa.
_ Já sabe que se quebrar a caneca ou a mesa vai ter que pagar, né Lorde? – Dizia o Zé, dono do bar.
Estávamos no Zé do Rock, barzinho onde sempre se encontravam depois dos programas. O Zé, como toda a turma, era apaixonado por rock, então deixava vinis de grandes bandas tocando ao fundo enquanto a galera se deliciava com suas cervejas na caneca. Meu irmão já estava muito bêbado. Eu também, mas ele mais devido aos pedidos para que virasse suas canecas.
_ Seu irmão é muito maluco. – Dizia uma garota que estava com a turma. Era uma gatinha.
_ Mais uma rodada, Zé!
E a noite prosseguia, até várias horas. Nem me lembro como chegamos na república. E se foi mais um dia. O terceiro.

_ Lourenço? Lourenço?
Batia na porta do seu quarto por volta da uma da tarde. Nenhuma resposta.
_ Geralmente ele dorme até umas cinco quando chega daquele jeito. – Disse o Fabrício.
_ Até as cinco? – Me espantei. – Mas ele não tem aula?
_ Cara, seu irmão não acorda por nada. Nem adianta insistir.
Fui pra fora, desanimado. O Fred veio até mim esperando um carinho. Acendi um cigarro e fiquei por ali.
_ Leo, nós vamos comer algo no shopping. Quer ir? – Disse o Rodrigo.
_ Opa, vamos sim.
Pelo menos faria algo. Deixei um bilhete e fui com eles.
Passear no shopping foi legal, mas tinha sido mais um dia perdido. Quando meu irmão acordou estava tão mal que não quis fazer nada. Droga...

Último dia. Na manhã seguinte voltaríamos para nossa cidade. Aquele dia eu queria aproveitar.
_ Vamos fazer algo hoje, né? Ontem foi uma bosta. – Reclamei.
_ Vai ter uma festa da faculdade. Acho que você vai gostar.
_ É bom mesmo.
Fiquei na casa enquanto ele foi para a universidade. Li quadrinhos e assisti televisão. Quando chegou já fui apressando:
_ Que horas é a festa? Meu último dia aqui, quero aproveitar.
_ Vou tomar um banho, comemos algo e vamos.
Realmente foi assim.
A festa era numa grande quadra de esportes. Um palco por onde se revezavam bandas e muita gente de todo tipo. Fomos com o pessoal da república.
_ Leo, só toma cuidado. Como é uma festa aberta tem gente de todo tipo, e não só universitários. – Disse meu irmão.
_ Fica tranquilo. – Respondi.
Caminhávamos juntos, mas de tempo em tempo alguém saia para algo, como falar com alguém, ir ao banheiro ou comprar alguma coisa. Latas de cerveja eram esvaziadas no processo, assim como cigarros e mais cigarros agora que não tinha mais o medo do meu irmão ficar sabendo.
_ Essa banda é massa. Vamos lá na frente.
E ficávamos curtindo os sons, na maioria rock, até que outra banda menos interessante subisse ao palco. E voltávamos a caminhar, paquerando e vendo o povo esquisito e chapado que se espalhava pela festa. Eu já estava bem torto.
_ Vou mijar. – Anunciei.
_ Ok, mas cuidado.
_ Tá, tá, tá! – E sai.
Fui até o banheiro onde uma fila esperava sua vez. O banheiro estava um nojo, com o chão todo molhado e papel higiênico por todo lado. Fiquei esperando enquanto matava minha lata de cerveja.
Depois da mijada comecei a andar meio sem rumo, vendo o movimento, e um grupo de garotas dançava um pop em frente ao palco. Já embriagado, me aproximei e comecei a dançar, sozinho. Aos poucos a roda foi se abrindo e fui me enfiando nela.
_ Massa esse som, né? – Disse uma das meninas. Não era muito bonita, mas àquela altura estava ótimo.
Parei para ouvir direito a música e a reconheci. Era de uma banda cujo vocalista havia se matado com um tiro na cabeça há pouco tempo. Eu não gostava muito, mas era febre entre bastante gente.
_ É legal. – Respondi.
_ Nós somos super fãs dessa banda. O vocalista era muito foda. Pena que se matou.
Aí me veio uma piada que achei que seria genial na hora, e a soltei:
_ Sabe por que ele deu um tipo na própria cabeça?
_ Hã? Não, por que?
_ Porque resolveu ouvir sua música enquanto estava são, achou uma bosta e se matou, hahahahaha!
_ Idiota! Vamos meninas, esse cara é um cretino. – E saíram.
Droga! Achei que aquilo seria engraçado.
Acendi um cigarro e peguei mais uma cerveja, e pouco depois outra banda subiu ao palco. Nem lembrava de procurar meu irmão. A banda começou e era um punk rock bem pesado, coisa violenta mesmo. Nunca tinha ouvido algo parecido. Aos poucos foram se juntando grupos em frente ao palco que pulavam e se trombavam uns aos outros. Achei aquilo muito massa. Matei a cerveja e resolvi me juntar àquela loucura. Todos pareciam muito animados. Comecei a imitá-los, chacoalhando os braços como que dando cotoveladas e pequenos chutes no ar. Sempre recebia e dava esbarrões, e era muito divertido, estava pirando.
_ O que você pensa que está fazendo??? – Senti meu irmão me puxando.
_ Tô curtindo, ué!
_ Vem cá. Agora!
E me puxou para fora da roda de punk.
_ Você tá ficando louco! Esses caras vão te arrebentar! – Ele dizia, assustado.
_ Que nada, é super legal. Vou voltar lá.
_ Leo, não vai não! Eles vão te machucar.
_ Deixa de ser bundão, Lou. Os caras são gente boa. – E fui saindo, voltando para frente do palco.
_ Depois não diga que não avisei.
Nem dei bola.
Comecei a dançar novamente, dando esbarrões e trombadas. Tudo ok, até que iniciaram outra música, mais pesada ainda.
_ ÚHUUUUU!!! AÍ SIM!!! – alguns gritaram, e a coisa começou a ficar mais violento.
Trombavam uns nos outros de modo que a toda hora alguém ia para o chão, tendo dificuldades de levantar. Fiquei preocupado, mas não parei. Comecei a me afastar do meio, ficando mais às laterais. Cada vez mais o centro ficava vazio, restando apenas uns caras bem malucos lá, que pareciam que iam se matar. Em certo momento, um desses caras vem pra minha direção, sem controle, levanta um dos pés e o desce com tudo na parte de cima da minha coxa. Cara! Doeu pra caramba. Resolvi sair da roda.
_ Machucou? – Perguntou meu irmão.
O Rodrigo e o Fabrício davam muita risada.
_ Não. Cansei só.
_ Cansou? Sei?
_ Vou pegar uma cerveja...

Ao acordar não me lembrava direito como havia chegado na república, de novo, mas minha coxa doía, e bastante.
_ Vai logo, Leo. Arruma suas coisas que o Fabrício vai nos levar pra rodoviária.
Fui o caminho inteiro quieto, com uma puta ressaca enquanto eles tiravam sarro de mim. Não tinha forças nem pra responder.

Nos despedimos do Fabrício, agradeci com as poucas palavras que consegui e entramos no ônibus. Fui desmaiado quase que o caminho todo.