quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Aos Meus Amigos - 26 (Parte II)

(Ainda não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


O carnaval havia sido realmente divertido, mais pelo sítio do que pelo clube de fato. Agora o Ivan, ou melhor, Helinho, era oficialmente da turma, junto com o Antônio. Só o Hélio mesmo que se afastou, ficando de saco cheio das brincadeiras e zoações.
_ Que faremos no fim de semana? – Perguntei ao André, por telefone.
_ Então, Leo, estamos pensando em pegar uma balada fora da cidade.
_ Tá falando sério? Minha mãe não vai deixar. Onde querem ir?
_ O Jonatan disse que tem um barzinho muito legal onde ele tá fazendo faculdade. Como é pertinho daqui e o pai dele liberou o carro, vamos pra lá no sábado. Que acha?
_ Seria muito legal, mas depois te respondo certinho. Vou pensar melhor.
O Jonatan tinha começado a faculdade nessa cidade vizinha, só cinquenta quilômetros da nossa. Devido a pouca distância, havia um ônibus da prefeitura que levava os alunos todos os dias de modo que o Jonatan não precisava morar lá. Era cansativo para ele, trabalhar com o pai durante o dia e viajar a noite para estudar, mas foi a única forma que conseguiu para isso, já que não tinha faculdade na nossa cidade.
O barzinho que o André se referia era o Top Rock, que se localizava na avenida marginal da cidade e que estava dando o que falar devido às bandas de rock que se apresentavam. Comentei com a turma da escola.
_ Cara, esse barzinho parece demais. Mas minha mãe não vai deixar. – Disse o Mário.
_ Meu problema é esse também. – Falei.
_ Sei que minha mãe não vai ficar nem sabendo, então eu vou. – Soltou o Neuza.
_ Acho que vou fazer isso também. Se eu não falar nada dificilmente meus pais vão ficar sabendo. – Acrescentou o Hugo.
Aquilo deixou o Mário e eu pensativos. Nossos pais não eram tão desencanados assim. Minha mãe mesmo ainda tinha o costume de acordar sempre que eu chegava, assim como sempre perguntava onde estava e tudo mais. Mais de uma vez já perguntou quem estava no local para poder confirmar depois. Eu estava bem indeciso...

_ E aí Leo? Decidiu? – Perguntou o André no bar do Pescocinho.
_ Cara, tá foda. Se minha mãe souber ela me mata.
_ Eu não vou. – Disse o Mário. – Parece que meus pais estão adivinhando e até me perguntaram essa semana se eu não estava indo escondido pra cidades de fora.
_ Parece algo que minha mãe falaria, mas ainda não fez. E o Helinho e o Antônio? Falou com eles?
_ Só falei com o Helinho, mas já cortando deles irem. – Falou o André. - Pela idade nem podem entrar no bar. Ficou um pouco triste mas entendeu. Mas e aí? Estava esperando quem confirmaria primeiro de vocês dois, já que não cabe todo mundo. O Mário já disse que não vai, mas se você não for também o Jonatan falou de chamar o Silvinho.
_ Até amanhã te respondo. – Falei, preparando uma tacada. Já era quinta-feira, e iriamos no sábado.
_ Mas responde até a hora do almoço, caso contrário vou atrás do Silvinho.
“Merda!” – Pensei. E dei uma tacada péssima.

_ Você vai né Leo? – Perguntou o Hugo quando nos preparávamos para sair da escola.
_ Cara, ainda não sei.
_ Mas o André falou pra você confirmar até a hora do almoço, e é agora! – Disse o Neusa. – Vamos passar na casa dele e você confirma que vai.
_ Vou passar lá sim, mas acho que vou falar que não vou. Se minha mãe descobrir ela me mata. Isso sem contar o meu pai, que ia ficar bem decepcionado.
_ Acho que você tá certo, Leo. – Me apoiou o Mário.
Fomos todos na casa do André e o chamamos. Ele saiu já nos conduzindo para entrarmos no quintal da casa velha em frente à sua casa para uma sessão de cigarros escondidos.
_ E aí? Você vai né?
_ Vai nada André! Já tentamos convencer ele, mas nada. – Disse o Neusa.
Fiquei quieto.
_ Leo, eu entendo sua preocupação, mas acho que você devia ir. Tem grande chance dos seus pais não saberem, e mesmo que saibam você já é tem quase dezoito anos, eles não podem te segurar para sempre.
Fiquei quieto novamente. Que coisa! O André era quase um ano mais novo que eu, mas sempre era o que tinha as ideias mais legais e o que se arriscava mais, quase não tendo preocupações. Ao mesmo tempo que tinha medo de decepcionar meus pais também tinha medo de decepcioná-lo. Não sabia o que fazer. Continuei quieto.
_ Bem, vamos fazer assim. Não vou atrás do Silvinho coisa nenhuma. Se você quiser ir tem até amanhã pra decidir. Não vou forçar nada. Amanhã você responde.
_ Tá. Valeu André.
_ E hoje? Vamos fazer algo? – Perguntou o Mário. – Afinal, é sexta-feira, e amanhã não sairei com você.
_ Pescocinho de novo? – Sugeriu o Hugo.
_ Vai ser o jeito. – Disse o André.

No bar do Pescocinho tinha sido bem legal apesar de fazermos o de sempre: bilhar, fliperama, cervejas e cigarros. O Helinho e o Antônio também foram, e enquanto debatíamos o que fazer no sábado durante o dia o Antônio soltou:
_ Não querem ir na minha avó? Eu moro com ela e é bem tranquilo, tem até piscina.
_ Caramba! Com esse calor seria massa! – Expressou o Hugo.
_ O foda é ficar à tarde sem beber nem fumar. – Disse o Neuza.
_ Quanto à bebida minha vó é de boa. Só o cigarro que teria que ser escondido, mas acho que não teria problema.
_ Tá falando sério? – Perguntei.
_ Tô sim.
E todo mundo se animou.
Estávamos dentro da piscina com copos de plástico cheios de cerveja nas mãos, de modo que hora e outra íamos até uma parte atrás da casa fumar um cigarro. A vó do Antônio, Dona Dirce, era uma senhora bem animada e divertida, falando vários palavrões de vez em quando e interagindo o tempo todo conosco. Realmente ela não ligava por tomarmos cerveja lá, e até comprou mais pra gente, enchendo seu copo vez ou outra.
O Antônio nos contou que seus pais moravam na capital do estado, mas como era muito corrido e violento lá, preferiram enviá-lo para estudar no interior. Ele morava com a vó, viúva, fazia quatro anos, e havia se acostumado bem com a cidade, já que podia sair às ruas de bicicleta sem as mesmas preocupações da cidade grande. Cada vez mais nos aproximávamos dele.
_ Acho que já tá na hora de irmos. – Disse o Jonatan. – Daqui a pouco saímos.
_ Se você não for vamos fazer algo, Leo? – Perguntou o Ivan.
_ Seria legal, Ivan, mas eu vou com eles sim.
_ Verdade? – Se espantou o Hugo.
_ Vamos aproveitar né?

E saímos todos da piscina para nos arrumarmos para a noitada. O Ivan, o Antônio e o Mário ficaram meio tristes, mas ainda teríamos muito o que aprontar na nossa cidade. Já uma aventura com os amigos na cidade vizinha não era algo para todo fim de semana. A noite prometia.