(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
As festas de
fim de ano já tinham passado, e um novo ano se iniciava. Aquele seria realmente
um novo ano, já que nossas vidas todas mudariam, assim como nossa turma se
separaria. O clima era de tristeza e euforia. Nos vestibulares apenas o Hugo e
o Neuza passaram, sendo que o Hugo faria programação numa faculdade particular
a uns 140 quilômetros da nossa cidade e o Neuza tinha passado em comunicação
numa estadual bem mais longe. O Mário faria cursinho em outra cidade também,
mas continuaria a morar com os pais e viajaria todos os dias num ônibus da
prefeitura toda noite. Eu iria para a cidade onde meu irmão estudava em outro
estado e o André para a capital do estado com o irmão dele. O Jonatan
continuaria com sua jornada diária de trabalhar com o pai e faculdade à noite e
o Helinho e o Antônio ainda estavam no colegial.
_ Vai ficar
corrido para nos ver. – Disse o Mário. – Mesmo morando aqui ainda, pra passar
em medicina vou ter que estudar muito. Mal vou sair.
_ Nem de fim de
semana? – Perguntou o Jonatan.
_ Às vezes só.
Mas nem sempre. Tenho que estudar muito.
_ E vocês virão
sempre pra cá, né? – Perguntou o Antônio para o Neuza, o Hugo, o André e eu.
_ Eu sim, pois
não é tão longe. Pelo menos a cada quinze dias eu venho. – Disse o Hugo.
_ Não sei não.
Tá um pouco longe para eu vir sempre. Quem sabe uma vez por mês e olhe lá. –
Foi a vez do Neuza falar.
_ Com base no
tanto que meu irmão vem pra cá, serão poucas vezes no ano. – Eu disse.
_ Dependo do
meu irmão também, mas ele vem com mais frequência. – Falou o André.
E ficamos um
tempo pensativos, bebendo e fumando nos fundos da casa da vó do Antônio.
O Primeiro a ir
embora foi o Hugo. Como a faculdade que faria era particular, suas aulas
começariam antes, saindo de nossa cidade num sábado de manhã para que os pais
pudessem comprar alguns móveis para ele morar numa república de um pessoal da
nossa cidade que já moravam lá. Conhecíamos esse pessoal só de vista, nem
sabendo se eram legais ou não.
Logo em seguida
foi a vez do André, que partiu para a capital com uma mochila nas costas e uma
mala de mão, uma vez que o Rodolfo já tinha arrumado uma cama para ele no
apartamento que dividia com mais um amigo. Ele estava empolgado com a vida na
cidade grande, mas percebíamos que estava triste por se ver longe dos amigos.
Depois fui eu,
partindo numa sexta de manhã para que meus pais pudessem passar o fim de semana
comigo e com o meu irmão e acertar as coisas no cursinho que eu faria. Sentia
um certo frio na barrida, e certamente sentiria falta da turma.
O Neuza foi o
último, pois a estadual começava quase um mês depois da particular e dos
cursinhos, e soubemos que ele foi meio em cima da hora, arrumando um lugar para
ficar apenas no primeiro dia de aula, conversando com um monte de gente que não
conhecia até encontrar uma república que aceitava calouros, ou bixos, como
diziam, e que os caras eram uns babacas que ficavam mandando ele fazer um monte
de coisas por ser bixo, como lavar banheiro, arrumar os quartos de todos e mais
um monte de outras coisas idiotas para humilhá-lo.
_ Já sabe que
se não estudar pra valer volta pra casa né? – Disse novamente minha mãe.
_ Eu sei, mãe.
Vou estudar pra valer.
_ Leo, manter
você e seu irmão em outra cidade não é fácil, mas fazemos isso pensando no
futuro de vocês. Espero que não nos decepcione. – Foi a vez do meu pai.
_ Tá bom, pai.
Prometo que não vou decepcionar.
Meu irmão me
olhava e fazia sinal com as mãos de que eu tinha me fodido, zoando sem que meus
pais vissem.
Eu realmente
estava disposto a estudar. Sabia que a única forma de não ter que fazer algo
como o Jonatan, de trabalhar durante o dia e estudar durante a noite morando
com meus pais ainda, era se passasse numa universidade estadual ou federal.
Indiretamente esse era o acordo. Se fosse para fazer uma particular faria perto
da nossa cidade e usaria o ônibus da prefeitura. Mas um grande problema
persistia: Que curso fazer? Meus pais apostavam que ao morar fora e longe deles
eu assumiria maior responsabilidade e amadureceria. Era uma aposta arriscada,
mas estavam dispostos a pagar para ver, e eu queria mesmo mostrar para eles que
conseguiria.
Algumas horas depois chegamos à
cidade do meu irmão. Fomos até sua república, onde o Fred, o cachorro, veio nos
recepcionar.
_ Ah, moleque! Adivinha quem vai
morar aqui com vocês? – Falava ao cachorro, que pulava e mordia meu braço com
sua enorme boca, brincando e me deixando todo babado.
Depois da primeira visita ao
Lourenço eu já tinha ido mais duas vezes, me familiarizando mais com a cidade e
com o pessoal da casa. O Fabrício não estava, percebendo isso de imediato ao
notar a ausência do carro, e o Rodrigo estava à frente da televisão, assistindo
desenhos animados.
_ Olha o morador novo chegando aí!
– Disse ele ao me ver.
_ E aí Rodrigão.
_ Vamos almoçar no shopping então?
– Chamou meu pai. – Depois já passamos no cursinho. Quer ir com a gente,
Rodrigo?
_ Opa, seu Francisco. Vou sim.
Tiramos minhas coisas e do meu
irmão do carro e fomos ao shopping. Eu estava um pouco fora do ar. Ainda não
tinha caído a ficha da minha situação de fato.
Depois de comer deixamos meu irmão
e o Rodrigo no shopping e fomos até o cursinho. Escolhemos um que era
considerado bom e não tão longe da república, de modo que eu pudesse ir de
bicicleta todos os dias. Logo que meu irmão se mudou da nossa cidade para lá
meus pais levaram sua bicicleta, mas ela nunca tinha sido usada, então eu faria
proveito dela.
Meus pais acertaram os detalhes de
matrícula, mensalidade e material e voltamos para o shopping. Minhas aulas
começariam na segunda, e vi nos materiais que teria duas disciplinas que nunca
tinha tido: Filosofia e Sociologia. Aquelas eram matérias que caiam nos
vestibulares daquele estado, diferente de onde morávamos, e me lembrei de ter
assistido uma palestra sobre um filósofo alemão da primeira vez que conheci o
campus em que meu irmão estudava.
_ A partir de segunda-feira é só
isso aí que importa, entendeu? – Dizia minha mãe em relação ao material que eu
folhava.
_ Eu sei, mãe! – Respondia, já de
saco cheio da cobrança.
Passamos um final de semana
tranquilo, saindo para passear pela cidade e shopping e comer em alguns
restaurantes tradicionais. Deixamos meus pais dormirem no quarto do meu irmão
que seria o meu também e dormimos em colchões na sala. No sábado sai com meu
irmão, o Fabrício e o Rodrigo, de modo que fomos a um barzinho universitário
com som ao vivo cheio de gatinhas. Aquilo me animou, pois agora eu moraria
naquela cidade cheia de barzinhos e gatas e festas e tudo mais muito maior que
a minha. Bebemos e fumamos, mas ninguém se deu bem com as garotas. Chegamos por
volta das quatro da manhã.
_ Vai se acostumando, Leo. O ritmo
é esse quase todos os dias da semana.
_ Hahahaha! Massa!!!
_ E vê se leva as garotas do
cursinho pras festinhas em casa também. – Falou o Rodrigo.
_ Certeza.
No domingo acordamos quase ao meio
dia, com uma bela ressaca, para almoçar com meus pais que iriam embora logo em
seguida. Na despedida minha mãe chorava ao me abraçar.
_ A casa vai ficar tão vazia
agora!
_ Fica calma, mãe. Vai dar tudo
certo.
_ Estuda bastante, ok?
_ Pode deixar, pai. Vou estudar
pra valer.
E foram embora. Só então percebi a
força das palavras da minha mãe. Realmente, agora seriam só os dois em casa.
Pela primeira vez. Pelo menos a Rosália estaria por perto, e o Neto levava
muita alegria para eles. Me apegava a essas ideias para evitar chorar também.
_ Então? – Disse o Fabrício.-
Vamos comprar umas cervejas?
A vontade de chorar passou na
hora...