quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Aos Meus Amigos - 31 (Parte II)

(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


As festas de fim de ano já tinham passado, e um novo ano se iniciava. Aquele seria realmente um novo ano, já que nossas vidas todas mudariam, assim como nossa turma se separaria. O clima era de tristeza e euforia. Nos vestibulares apenas o Hugo e o Neuza passaram, sendo que o Hugo faria programação numa faculdade particular a uns 140 quilômetros da nossa cidade e o Neuza tinha passado em comunicação numa estadual bem mais longe. O Mário faria cursinho em outra cidade também, mas continuaria a morar com os pais e viajaria todos os dias num ônibus da prefeitura toda noite. Eu iria para a cidade onde meu irmão estudava em outro estado e o André para a capital do estado com o irmão dele. O Jonatan continuaria com sua jornada diária de trabalhar com o pai e faculdade à noite e o Helinho e o Antônio ainda estavam no colegial.
_ Vai ficar corrido para nos ver. – Disse o Mário. – Mesmo morando aqui ainda, pra passar em medicina vou ter que estudar muito. Mal vou sair.
_ Nem de fim de semana? – Perguntou o Jonatan.
_ Às vezes só. Mas nem sempre. Tenho que estudar muito.
_ E vocês virão sempre pra cá, né? – Perguntou o Antônio para o Neuza, o Hugo, o André e eu.
_ Eu sim, pois não é tão longe. Pelo menos a cada quinze dias eu venho. – Disse o Hugo.
_ Não sei não. Tá um pouco longe para eu vir sempre. Quem sabe uma vez por mês e olhe lá. – Foi a vez do Neuza falar.
_ Com base no tanto que meu irmão vem pra cá, serão poucas vezes no ano. – Eu disse.
_ Dependo do meu irmão também, mas ele vem com mais frequência. – Falou o André.
E ficamos um tempo pensativos, bebendo e fumando nos fundos da casa da vó do Antônio.
O Primeiro a ir embora foi o Hugo. Como a faculdade que faria era particular, suas aulas começariam antes, saindo de nossa cidade num sábado de manhã para que os pais pudessem comprar alguns móveis para ele morar numa república de um pessoal da nossa cidade que já moravam lá. Conhecíamos esse pessoal só de vista, nem sabendo se eram legais ou não.
Logo em seguida foi a vez do André, que partiu para a capital com uma mochila nas costas e uma mala de mão, uma vez que o Rodolfo já tinha arrumado uma cama para ele no apartamento que dividia com mais um amigo. Ele estava empolgado com a vida na cidade grande, mas percebíamos que estava triste por se ver longe dos amigos.
Depois fui eu, partindo numa sexta de manhã para que meus pais pudessem passar o fim de semana comigo e com o meu irmão e acertar as coisas no cursinho que eu faria. Sentia um certo frio na barrida, e certamente sentiria falta da turma.
O Neuza foi o último, pois a estadual começava quase um mês depois da particular e dos cursinhos, e soubemos que ele foi meio em cima da hora, arrumando um lugar para ficar apenas no primeiro dia de aula, conversando com um monte de gente que não conhecia até encontrar uma república que aceitava calouros, ou bixos, como diziam, e que os caras eram uns babacas que ficavam mandando ele fazer um monte de coisas por ser bixo, como lavar banheiro, arrumar os quartos de todos e mais um monte de outras coisas idiotas para humilhá-lo.

_ Já sabe que se não estudar pra valer volta pra casa né? – Disse novamente minha mãe.
_ Eu sei, mãe. Vou estudar pra valer.
_ Leo, manter você e seu irmão em outra cidade não é fácil, mas fazemos isso pensando no futuro de vocês. Espero que não nos decepcione. – Foi a vez do meu pai.
_ Tá bom, pai. Prometo que não vou decepcionar.
Meu irmão me olhava e fazia sinal com as mãos de que eu tinha me fodido, zoando sem que meus pais vissem.
Eu realmente estava disposto a estudar. Sabia que a única forma de não ter que fazer algo como o Jonatan, de trabalhar durante o dia e estudar durante a noite morando com meus pais ainda, era se passasse numa universidade estadual ou federal. Indiretamente esse era o acordo. Se fosse para fazer uma particular faria perto da nossa cidade e usaria o ônibus da prefeitura. Mas um grande problema persistia: Que curso fazer? Meus pais apostavam que ao morar fora e longe deles eu assumiria maior responsabilidade e amadureceria. Era uma aposta arriscada, mas estavam dispostos a pagar para ver, e eu queria mesmo mostrar para eles que conseguiria.
Algumas horas depois chegamos à cidade do meu irmão. Fomos até sua república, onde o Fred, o cachorro, veio nos recepcionar.
_ Ah, moleque! Adivinha quem vai morar aqui com vocês? – Falava ao cachorro, que pulava e mordia meu braço com sua enorme boca, brincando e me deixando todo babado.
Depois da primeira visita ao Lourenço eu já tinha ido mais duas vezes, me familiarizando mais com a cidade e com o pessoal da casa. O Fabrício não estava, percebendo isso de imediato ao notar a ausência do carro, e o Rodrigo estava à frente da televisão, assistindo desenhos animados.
_ Olha o morador novo chegando aí! – Disse ele ao me ver.
_ E aí Rodrigão.
_ Vamos almoçar no shopping então? – Chamou meu pai. – Depois já passamos no cursinho. Quer ir com a gente, Rodrigo?
_ Opa, seu Francisco. Vou sim.
Tiramos minhas coisas e do meu irmão do carro e fomos ao shopping. Eu estava um pouco fora do ar. Ainda não tinha caído a ficha da minha situação de fato.
Depois de comer deixamos meu irmão e o Rodrigo no shopping e fomos até o cursinho. Escolhemos um que era considerado bom e não tão longe da república, de modo que eu pudesse ir de bicicleta todos os dias. Logo que meu irmão se mudou da nossa cidade para lá meus pais levaram sua bicicleta, mas ela nunca tinha sido usada, então eu faria proveito dela.
Meus pais acertaram os detalhes de matrícula, mensalidade e material e voltamos para o shopping. Minhas aulas começariam na segunda, e vi nos materiais que teria duas disciplinas que nunca tinha tido: Filosofia e Sociologia. Aquelas eram matérias que caiam nos vestibulares daquele estado, diferente de onde morávamos, e me lembrei de ter assistido uma palestra sobre um filósofo alemão da primeira vez que conheci o campus em que meu irmão estudava.
_ A partir de segunda-feira é só isso aí que importa, entendeu? – Dizia minha mãe em relação ao material que eu folhava.
_ Eu sei, mãe! – Respondia, já de saco cheio da cobrança.

Passamos um final de semana tranquilo, saindo para passear pela cidade e shopping e comer em alguns restaurantes tradicionais. Deixamos meus pais dormirem no quarto do meu irmão que seria o meu também e dormimos em colchões na sala. No sábado sai com meu irmão, o Fabrício e o Rodrigo, de modo que fomos a um barzinho universitário com som ao vivo cheio de gatinhas. Aquilo me animou, pois agora eu moraria naquela cidade cheia de barzinhos e gatas e festas e tudo mais muito maior que a minha. Bebemos e fumamos, mas ninguém se deu bem com as garotas. Chegamos por volta das quatro da manhã.
_ Vai se acostumando, Leo. O ritmo é esse quase todos os dias da semana.
_ Hahahaha! Massa!!!
_ E vê se leva as garotas do cursinho pras festinhas em casa também. – Falou o Rodrigo.
_ Certeza.
No domingo acordamos quase ao meio dia, com uma bela ressaca, para almoçar com meus pais que iriam embora logo em seguida. Na despedida minha mãe chorava ao me abraçar.
_ A casa vai ficar tão vazia agora!
_ Fica calma, mãe. Vai dar tudo certo.
_ Estuda bastante, ok?
_ Pode deixar, pai. Vou estudar pra valer.
E foram embora. Só então percebi a força das palavras da minha mãe. Realmente, agora seriam só os dois em casa. Pela primeira vez. Pelo menos a Rosália estaria por perto, e o Neto levava muita alegria para eles. Me apegava a essas ideias para evitar chorar também.
_ Então? – Disse o Fabrício.- Vamos comprar umas cervejas?

A vontade de chorar passou na hora...