(Não leu desde o inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
_ Mas já vai sair, Leo? Nem vai
ficar um pouco com a gente? – Reclamava minha mãe.
Eu havia chegado a pouco mais de
uma hora. Malas desfeitas, ligações realizadas, encontro na casa da vó do
Antônio marcado. A turma toda já estava na cidade, de modo que eu tinha sido o
último a chegar. Meu irmão já tinha saído para encontrar o Borges, também sob
protestos da minha mãe, mas ela não esperava que eu fizesse o mesmo.
_ Deixa ele, querida. Tá com
saudade dos amigos. – Disse meu pai, sentado numa poltrona que haviam comprado
para que pudesse ficar mais confortável enquanto recuperava de sua doença.
Ele estava mais magro e um tanto
pálido. Claro que fiquei preocupado e conversei um tempo com ele, mas insistia
em dizer que não era nada de mais e que estava bem. Acreditei, afinal, era meu
pai.
_ Amanhã passamos o dia juntos.
Pode deixar. Tchau!
E saí às pressas na minha velha
bicicleta. Não via a hora de encontrar os amigos.
_ Que isso, Leo? Deixando o cabelo
crescer também? – Disse o Jonatan, estranhando meu novo visual. – Vai ficar
igual seu irmão daqui a pouco, hahahaha.
_ Vai se foder, Jonatan! – Disse,
dando um forte abraço nele.
_ Olha o que está te esperando! –
Se aproximou o Antônio com um copo de cerveja.
_ Aí sim! Hahahaha.
Virei o copo e foi a vez de abraça-lo.
Dessa forma fui cumprimentando um
a um, de modo que fazíamos comentários sobre o que havia mudado em cada um de
nós nesses poucos meses que não nos vimos: O Jonatan estava mais gordo e havia
parado de fumar, o que estranhamos, mas ele dizia que estava ficando sem fôlego
para qualquer coisa, indo ao médico que o aconselhou deixar o vício. Disse que
não estava fácil ficar sem o cigarro mas que estava disposto a parar mesmo; o
André, ao contrário, tinha emagrecido e estava um tanto pálido, dizendo que a
correria na cidade grande era uma bosta e que pensava muito em voltar. Ficou
fazendo comparações das diferenças de cada lugar, salientando sempre a questão
do tempo, pois na capital, pra ir da casa do irmão até o cursinho, demorava
quase duas horas; o Hugo parecia um nerd, com uma camiseta de faculdade com
computadores desenhados e a frase: Eu faço programas. Tinha começado a namorar
uma garota de lá e, como ela fumava, ele também tinha começado; o Neuza estava
barbudo e começara a usar óculos. Disse que estava legal a faculdade, apesar
dos caras com quem morava serem uns babacas e que pensava em morar sozinho; o
Mário, o Hélinho e o Antônio que não tinham mudado nada, talvez pelo fato de
continuarem a morar em suas casas. Parecia que todos se ajeitavam de alguma
forma.
_ E decidiu que curso fazer, Leo? –
Perguntou o Hugo, tragando um cigarro.
_ Mais ou menos. – Respondi, ainda
estranhando vendo-o fumar.
_ Como assim mais ou menos? – Foi
a vez do Helinho perguntar.
_ Tô gostando muito de uma matéria
do cursinho, e estou pensando em fazer faculdade dela.
_ Que matéria? – Agora foi o
Antônio.
_ Filosofia.
Silêncio. Pareciam não acreditar.
_ Quê?!? – Quebrou o silêncio o
Neuza.
_ O que é que tem?
_ Leo, na minha faculdade tem
curso de filosofia, e os caras são todos loucos. Ficam fumando maconha o dia
inteiro e viajando na maionese. – Explicou seu espanto o Neuza.
_ Na faculdade do meu irmão também
tem filosofia. Fui a uma ou outra palestra do curso, e tenho achado bem legal.
Os alunos são meio porra loucas mesmo, mas o curso é da hora. E você André? Já
pensou em algo? – Tentei me tirar do centro das atenções.
_ Acho que sim. Tô pensando em
fazer odonto.
_ É uma área legal. – Falou o
Mário.
_ Vi que quero ir pra área da
saúde. Até pensei em enfermagem, mas acho que odonto vai ser mais legal.
_ E vai voltar pra cá mesmo? –
Quis saber o Jonatan.
_ Vou sim. Terminando o semestre
já volto. Isso está decidido.
E continuamos com os papos,
cervejas e cigarros. A vó do Antônio não estava lá, o que nos deixou mais à
vontade. A noite planejávamos matar a saudade da boate. Era realmente muito bom
reencontrar os amigos.
_ Leo! Leo! – Chamava minha mãe. –
Acorda filho! Temos que ir almoçar na casa da Rosália. Já está tudo pronto.
_ Tá...
E comecei a levantar, com uma
baita dor de cabeça de ressaca. Mal lembrava como havia chegado em casa. Fazia
tempo que não bebia daquele jeito. Mas tinha sido massa sair com a molecada.
_ Nossa, Leo! Como você tá
diferente! – Disse a Rosália, me abraçando.
_ Vai falar que você também está
gostando das mesmas músicas que seu irmão? – Perguntou o Roberto.
_ Rock é vida. – Respondi,
abraçando-o.
_ Esse mundo tá perdido... –
Brincou ele.
Meu irmão só deu um pequeno
sorriso, gostando das minhas palavras.
_ Cadê o Neto?
_ Filho! Vem cá! Seus tios
chegaram!
E veio aquele moleque encapetado
correndo. Estava enorme. Peguei-o no colo e comecei a jogar para cima, ao som
de suas gargalhadas. Estava com quatro anos já.
_ Agora é minha vez! – Já foi
pegando-o o Lourenço.
Aperta o moleque daqui; faz
cocegas dali; tentativas vãs de fuga e...
_ Buáááááá!!! Quero sair!!!
_ Ah! Seu chorão.
E corre o Neto para os braços da
sua mãe.
Almoço servido. Todos à mesa. O
Roberto abriu uma garrafa de cerveja e colocou um copo para mim. Minha mãe só
olhou mas nada disse. Gostei daquilo.
_ Não vai beber, pai? – Perguntei,
estranhando o copo com refrigerante à sua frente.
_ Seu pai tá tomando remédios,
Leo. Não pode beber. – Disse minha mãe.
Meu pai só ficou quieto. Percebi
que estava triste. Cerveja sempre foi algo que ele gostou muito. Então comecei
a reparar que ele estava mais quieto que de costume. Aquilo me preocupou.
Depois do almoço passamos na casa
de alguns parentes que há tempos não via: Vô Joaquim e vó Ofélia, que estavam
velhinhos mas bem ainda; Tia Matilde, que morava com um namorado, seu Viana,
numa casinha pequena; Tio Mané, que estava bem, embora um tanto sozinho, uma vez
que o João morava longe e o Manezinho tinha se amigado com uma garota que não
era a mãe de seu filho; Por fim, pedi que deixassem a tia Josefa por último,
pois de lá já me encontraria com o André para nos juntarmos à turma. O Helinho
também estava lá.
Nos encontramos, pra variar, na
casa da vó do Antônio, e de lá decidimos ir ao bar do Pescocinho jogar bilhar.
O Neuza ficou dizendo que daria uma surra em todos, uma vez que tinha uma mesa
na faculdade e que estava jogando muito. Eu, ao contrário, não tinha jogado
desde que fui morar com meu irmão. Chegando lá, estranhamos o local: o bar
tinha sido reformado, tendo novo balcão, novas mesas e cadeiras, sem os
fliperamas e apenas uma mesa de bilhar, maior e com pano vermelho. O Pescocinho
não estava atrás do balcão, e sim um rapaz bem mais novo.
_ O Pescocinho não está? –
Perguntou o Hugo.
_ Pescocinho? – Disse o cara. –
Ah! O antigo dono? Se aposentou. A família o encontrou desmaiado no bar um dia
desses de tanto beber e decidiram que ele deveria vender o bar. Ai eu o comprei
e dei um trato. Ficou bem melhor, não acham?
Ficamos um tempo quietos.
_ E quanto tá a ficha do bilhar? –
Quis saber o André.
_ Não é ficha não. Vocês pagam por
hora. E essa mesa é show.
E nos disse o valor.
Ficamos um tempo quietos
novamente.
_ E então? Quantas horas vão
jogar?
Sem nem precisar perguntar para os
outros, o Mário já deu a resposta que queríamos:
_ Nenhuma não. Muito caro. Valeu.
E saímos, ficando perdidos de onde
ir.
_ Vocês não sabiam do Pescocinho? –
Perguntei ao Helinho e o Antônio.
_ Não. A gente não veio mais aqui.
Sem vocês não é a mesma coisa. – Respondeu o Helinho.
_ Bem, vamos ter que achar outro
boteco...
E saímos andando, meio que sem
rumo, até voltarmos para a casa da vó do Antônio.
Só ficar longe alguns meses e
muita coisa havia mudado. Pelo menos estava com os amigos. E ainda tinha aquela
noite e o sábado todo junto deles. O jeito era aproveitar.