sexta-feira, 28 de março de 2014

Aos Meus Amigos - 9 (Parte II)


O João nos acordou por volta das dez. A dor de cabeça era enorme, apesar de não estarmos enjoados. A primeira coisa que fiz foi olhar para o Marinho, que estava do mesmo jeito de quando chegamos.
_ Cara! Hoje é o dia do lual, hehehe. – Disse ele.
_ Mas antes temos o dia todo. É bom nos recuperarmos para o esquenta. – Falou o João.
Como na escola agrícola tinha ovo à vontade o Bernardo fez uma omelete para nós, com basicamente só ovo e cheiro verde, mas estava muito gostoso. O leite também era tirado direto da vaca. Todos estavam normais, só eu estava estranho.
_ Que foi Leo? – Perguntou o João.
_ Nada não. Só a ressaca. – Disfarcei, dando uma olhada no Marinho.
_ Se quiser podemos dar uma volta no campus. Vai tá bem vazio por ser sábado, mas é legal vocês conhecerem como é uma faculdade.
Aquilo me animou e começamos a nos arrumar. Nem o Bernardo e nem o Marinho foram, e o campus era bem ao lado da escola mesmo, de modo que o curso que o João fazia, apesar de ser colegial, pertencia à faculdade, que tinha curso de agronomia.
_ Aquele prédio lá são as salas de aula, e aquele maior é a biblioteca. – Nos mostrava o João. – Às vezes temos que ir estudar lá pra fazer uns trabalhos mais difíceis.
_ Que massa! – Me entusiasmei. – Meu irmão presta vestibular esse ano. Será que vai pra um lugar assim?
_ Sei irmão é CDF e quer essas coisas de computador, Leo. – Disse o Manezinho. – Certeza que a faculdade que ele quer não tem agronomia.
Ainda assim fiquei viajando na ideia de visita-lo numa faculdade daquele porte, mesmo que não nos déssemos tão bem.
_ Ali é o setor de veterinária. É a ala que mais tem mulher.
_ Vamos lá então! – Empolgou o André.
_ Não deve ter ninguém lá agora. Eu estou levando vocês para a cantina, mas se quiserem ir tudo bem.
Como nem teria garotas nem fomos.
Na cantina tinha pouca gente, mais um pessoal que morava nos alojamentos da própria faculdade. Nos sentamos e o João pegou uma garrafa média de refrigerante, que dividimos enquanto ele nos falava de lá.
_ Aqui é bem tranquilo, mas é bem legal. Geralmente não temos contato com o pessoal da faculdade, mas sempre que tem festa procuramos aproveitar. Claro que ninguém nem liga pra gente, e só o Bernardo pegou uma garota mais velha uma vez. E vocês precisam ver as festas. É muita farra. Como muita gente que estuda aqui mora longe de casa isso permite que eles aprontem um monte, e o povo da agronomia é maluco. Outro dia estavam rodando pelas ruas com uma caminhonete com uma piscina na carroceria, cheio de meninas dentro junto com uns caras, bebendo um monte. Tudo maluco. Mas uma coisa que você acaba vendo um monte aqui também são drogas. Maconha fumam como se fosse cigarro normal, e as vezes se vê uma galera cheirando cocaína também.
_ E o que você faz quando vê essas coisas? – Perguntei.
_ Leo, acaba sendo tão comum que a gente se acostuma. No começo me assustava, agora não. E se oferecerem é só recusar. São tudo gente boa. O Marinho mesmo fuma todo dia e é super gente fina.
Então ele sabia, pensei. E aquilo ficou na minha cabeça: quando o Sidnei e o Tomás deixaram de falar comigo foi por me pegarem fumando, e fiquei puto pela forma como me julgaram e julgavam a turma do André, e agora eu estava agindo do mesmo jeito. Realmente, o Marinho era gente boa. E se eu não soubesse que ele fumava maconha continuaria a achar isso. Acho que eu deveria desculpas a ele.
_ Bem, vamos voltar? Temos que comprar as coisas para o almoço e o esquenta.
_ Deixa eu adivinhar: - Disse o Manezinho. – O almoço vai ser macarronada.
_ Hehehe. Isso mesmo.
_ E para o esquenta? – Quis saber o André.
_ Acho que vamos de vodca com iogurte.
É. A noite prometia.
Chegando ao alojamento o Bernardo se propôs a ir ao mercado, já que tínhamos ido no dia anterior, e perguntou se alguém queria ir com ele.
_ Eu vou. – Disse o André.
Olhei para ele, estranhando, e ele fez um sinal com a mão de que iria fumar um cigarro, então decidi ir junto.
_ Não quer ir também Marinho? – Perguntei, meio que tentando me redimir comigo mesmo pelo que havia pensado sobre ele.
_ Não. Tô de boa, hehehe. – Respondeu, mostrando um cigarro de maconha que provavelmente fumaria logo. Dessa vez achei graça, e saímos.
_ O João disse que você já pegou uma das garotas da faculdade. – Puxei assunto.
_ Pois é. Tive sorte. Era uma gostosa.
_ E ficaram só no beijinho? – Se interessou o André.
_ Que nada. Essa mulherada da faculdade é tudo fogueteira.
_ Conta pra gente então.
_ Era uma festa junina do campus, e tava lotado. Fui com o João, o Marinho e mais três amigos do alojamento vizinho. A festa estava uma loucura, todo mundo bebendo e dançando e se divertindo, quando essa louca me puxou pelo braço pra dançar. As amigas dela ficaram rindo e ela perguntou que curso eu fazia. Nem pensei e respondi agronomia. Cara, nisso ela já me deu um beijão na boca e pediu que eu a levasse embora. Essa é a parte doida, pois a galera da agronomia tem muita grana na maioria das vezes, possuindo cada carrão. Então disse que aquela noite estava sem carro e dormiria no alojamento dos técnicos agrícolas com meu irmão, dá pra acreditar? E ela quis ver onde era. Então a levei para o nosso próprio alojamento e a comi na minha cama mesmo, hahahaha.
_ E ela não descobriu depois?
_ É. Ela se tocou quando viu minha carteirinha de estudante na escrivaninha, mas nem ficou brava. Deu risada, disse que eu era um mentiroso fofo e foi embora antes da festa no campus acabar. Foi bem massa.
Aquilo só deixou o André e eu mais loucos ainda. Quem sabe não teríamos uma sorte daquela à noite?
Compramos as coisas no mercado e na saída o André se arriscou:
_ Bernardo, se eu comprar um cigarro você jura que não fala nada pro João?
_ Tenho certeza que o João não ligaria, mas se é isso que você quer, ok.
Compramos um maço e fizemos o caminho de volta, conversando e fumando. Estávamos encantados com essa vida de morar fora para estudar, mas nem o André e nem eu sabíamos o que queríamos em termos de estudos.
_ Eu não pensava em fazer faculdade, mas vendo como é da hora tô repensando, viu? – Disse o André.
_ Eu quero fazer, mas não sei o que. Meus pais vivem me cobrando pra decidir logo. E pra piorar meu irmão já sabe o que quer desde que era criança. – Desabafei.
Quando estávamos chegando ao alojamento vimos o carro do tio Mané parado na frente, o que estranhamos, pois ele só deveria vir no dia seguinte depois do almoço.
_ Aquele é o carro do pai do João, não é? – Perguntou o Bernardo.
_ É sim. Que estranho. – Respondi.
_ Toma. Leva a sacola com as coisas para o macarrão. Vou esconder as bebidas e já vou.
O André e eu colocamos uma bala na boca para disfarçar o cheiro do cigarro e nos dirigimos ao alojamento. Ao entrarmos encontramos o João e o Manezinho chorando.
_ O que foi tio? O que aconteceu?
_ Vim buscar vocês, Leo. A vó Cotinha morreu...
Não conseguia ouvir mais nada. Vi a boca do tio Mané se mexer, tentando nos acalmar, mas não ouvia nada. Meio que no automático, arrumamos nossas coisas chorando e fomos embora. Nem nos despedimos do Marinho e do Bernardo.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Aos Meus Amigos - 8 (Parte II)

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_ Mãe! Mãe! – Chamava eu pela casa, procurando-a ao chegar da escola.
_ Aqui Leo. – Ouvi sua voz vinda do quarto.
_ Mãe, você falou que daria a resposta hoje se eu poderia visitar o João... Você tá chorando mãe?
_ Tô preocupada com sua vó, Leo. Ela foi internada de novo. Não sei o que fazer.
Depois da primeira internação após o casamento da Rosália a vó Cotinha não tinha se recuperado totalmente, sendo internada mais três vezes ao longo do mês. Aquela era a quarta.
_ Mãe, vai dar tudo certo. A vó Cotinha é forte, você sabe disso.
_ Ela já tá bem velhinha Leo. Não sei se o vô Tonico aguentaria se algo acontecesse a ela... – E começou a chorar novamente.
_ Mãe... – E a abracei, procurando não chorar também só de imaginar não ter mais os dois.
O João havia reforçado a oferta de passarmos um fim de semana com ele. Apesar da internação da vó Cotinha minha mãe me deixou ir. O tio Mané levaria o Manezinho, o André e eu para passarmos um fim de semana lá e depois nos buscaria. Dessa forma, além de ver o filho, teria tempo junto com minha mãe e minhas tias de cuidar da vó Cotinha sem que sentíssemos a gravidade da situação. E assim fomos.
_ É bom não aprontarem nada de errado lá, heim? – Dizia o tio Mané enquanto nos levava. – Lembrem-se que se der merda o João corre o risco de ser expulso da escola.
Certamente isso era algo que não queríamos, mas sabíamos que as coisas no alojamento do João eram bem liberais segundo suas histórias, então não estávamos muito preocupados com as ameaças do tio Mané. A única coisa que nos desanimava era o fato de a escola ser somente para homens, o que tirava a chance de pegarmos alguma garota.
_ Molecada, já sabem né? Nada de aprontar e qualquer coisa liguem a cobrar do orelhão.
E assim nos despedimos do tio Mané, que voltaria só no domingo depois do almoço.
_ E agora João? – Perguntei, animado.
_ Por hoje ficaremos de boa mesmo. Vamos ao mercado comprar umas coisas e aí jogamos baralho ou algo assim. Mas amanhã tá marcado um lual, e aí sim a coisa pega. Vai ser no campus da faculdade e lá sim tem mulherada. E é bem aqui ao lado.
Ficamos muito animados. O fim de semana prometia.
Ficamos no mesmo quarto que o João, já que alguns dos companheiros de quarto dele haviam viajado para visitar a família. Eram quatro beliches e apenas dois dos caras da casa estavam lá: o Marinho e o Bernardo. O Marinho era bem desencanado. Negro com um cabelo bem avolumado e que falava umas coisas meio que sem sentido. O Bernardo era mais quieto, bem estilo cowboy mesmo: bota, fivela e chapéu na cabeça. Parecia gente boa.
_ Estamos indo ao mercado. Querem algo? – Perguntou o João aos dois.
_ Obrigado João. – Respondeu o Bernardo.
_ Cara, vou com vocês. – Se convidou o Marinho.
O mercado ficava a quarenta minutos de caminhada dali, já que a escola era um pouco afastada da cidade, o que estranhamos, já que nesse tempo atravessaríamos a cidade inteira onde morávamos.
_ Cara, vocês vão pirar aqui. – Disse o Marinho. – Seu primo ainda é certinho, mas tem muito maluco da hora. E o lual amanhã promete, hehehe.
O João não falava nada. Alias, ninguém falava nada, pois o Marinho não dava chance, falava sem parar. Chegamos ao mercado.
_ Qual vai ser, João? – Perguntou o Marinho.
_ Conhaque com refrigerante.
Nos olhamos, Manezinho, André e eu. Nunca tínhamos tomado conhaque.
_ Gosto muito. – Disse o Marinho.
_ Com quanto vocês podem ajudar? – Perguntou o João.
Tiramos nossos dinheiros da carteira e mostramos para ele.
_ Ok. Contando que amanhã precisaremos de grana também, vamos pegar só o suficiente para a bebida e a comida.
Cada um deu um pouco e ele comprou uma garrafa de conhaque, duas garrafas de dois litros de refrigerante, pois pães para cada e um punhado de mortadela.
_ Aqui é assim de fim de semana: ou compramos pão com alguma coisa ou fazemos macarronada.
Era tudo muito estranho e legal para nós.
Chegando ao alojamento o João perguntou o que queríamos: comer ou tomar banho. Decidimos comer, já que não tinha ninguém que nos obrigasse ao banho. Acabamos de comer e o Marinho já veio com o conhaque e uma garrafa de refrigerante.
_ Porradinha? – Perguntou ele.
_ Acho que a molecada vai gostar mais. – Respondeu o João.
_ Opa! Porradinha? – Foi se aproximando o Bernardo ao ouvir a proposta do Marinho.
Que raios era aquilo de porradinha? Nunca tínhamos ouvido falar, mas estávamos empolgados. Enquanto o Marinho abria as garrafas o Bernardo foi buscar um copinho de pinga, só um. Achamos estranho.
_ Chega mais molecada. – Chamou o João. – Senta no chão mesmo, em volta da garrafa.
Sentamos em círculo e ficamos esperando.
_ Quem vai primeiro? – Quis saber o Bernardo, mais animado e menos quieto do que quando chegamos.
Nos olhamos e, antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, surpreendi a todos:
_ Eu!
O André deu um sorriso de aprovação, e então o Marinho colocou no copo segurado pelo Bernardo metade de conhaque e metade de refrigerante.
_ Fica preparado. Assim que te entregar o copo vira tudo de uma vez.
Ao falar isso o Bernardo colocou a mão sobre a boca do copo, tapando-a, e deu uma rápida batida na base do copo em sua perna, fazendo com que aquela mistura levantasse uma rápida espuma devido ao gás do refrigerante, estendendo instantaneamente o copo para mim.
_ Vira! Vira! Vira! – Gritavam o João, o Bernardo e o Marinho.
Quase sem pensar peguei o copo antes que a espuma se dispersasse e o virei, descendo gostoso pela garganta.
_ Que massa! Quero mais. – Me expressava, em êxtase.
_ Calma Leo. É uma vez de cada. Acabando a rodada começamos de novo.
E assim foi, todo mundo bebendo. Primeira rodada, segunda rodada, terceira rodada. A garrafa de conhaque descendo.
_ Mais uma! Mais uma!
_ Moçada! Isso é gostoso, mas bate de uma vez. Têm certeza que querem mais uma?
Olhamos um para o outro. Todo mundo com cara de um pouco alto.
_ Hahahahaha! Mais uma com certeza!
A decisão foi unânime.
Terminando a quinta rodada já estávamos todos bêbados, principalmente o Manezinho, o André e eu, que não estávamos acostumados àquilo.
_ João, vou dormir. – Anunciou o Manezinho.
_ Você nem tomou banho. – Deu uma de pai o João.
_ Amanhã eu tomo. – E saiu em direção ao quarto, ziguezagueando.
_ Leo? – Se aproximou o André. – Queria tanto um cigarro.
Aquilo era tudo que eu queria também naquela hora. Combinamos de não levar um maço pelo fato do João não saber que fumávamos, e não sabíamos qual seria sua reação se soubesse. Logo em seguida vimos o Marinho sair do quarto em direção à porta da frente com um isqueiro na mão. Olhamos um para o outro, com uma esperança nos olhos, e decidimos ir para fora também.
_ A gente só pede um trago. Se pedirmos para não falar nada para o João certeza que ele não fala. – Dizia o André.
_ Certeza. O Marinho é gente boa. – Concordava.
Saímos e começamos a procura-lo. Vimos que ele estava um tanto afastado, próximo a uma cerca, e fomos em sua direção.
_ Marinho você não arruma um cigarro pra gente também? – Já foi pedindo o André.
_ Só não fala nada pro João não. Ele não sabe que a gente fuma.
_ Hehehe, moçada. Eu só tenho um, e não sei se é dos que vocês estão querendo não. – Disse ele, mostrando seu cigarro.
Quando olhamos achamos estranho, pois não era um cigarro comum. Era um cigarro enrolado num guardanapo de papel aparentemente.
_ É maconha? – Ouvi o André dizer, estranhando.
_ Hehehe. É isso ai. Se quiserem dar uns tapas, sem problema.
Eu não acreditava naquilo. Maconha! E o cara com ela morava com o João. Aquilo me assustou e comecei a puxar o André. Ele procurou me acalmar, me segurando.
_ Putz! Valeu Marinho. A gente achou que era cigarro normal, mas valeu.
Então começamos a voltar pro bloco do alojamento. Eu estava bem assustado, o André não.
_ Você nunca tinha visto maconha, né Leo?
_ Eu não! Por quê? Você já?
_ Já. Uns amigos da escola fumam.
_ Mas você nunca fumou né?
_ Não. Eu não.
E entramos. O André foi dormir, mas eu quis tomar um banho. Não que eu quisesse de fato, mas para ver se me acalmava. Eu estava bem nervoso mesmo.
Depois do banho fui para o quarto e já estava todo mundo lá, inclusive o Marinho. Todos dormiam muito bem. Me deitei mas demorei bastante até conseguir dormir...

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sexta-feira, 14 de março de 2014

Aos Meus Amigos - 7 (Parte II)

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Depois de todos os preparativos, o casamento da Rosália chegou. Nitidamente estavam todos nervosos, mesmo meu irmão e eu.
_ Vamos receber visitas de fora e precisaremos da ajuda de vocês. – Dizia meu pai para mim e meu irmão.
A igreja escolhida não era a Matriz, e sim uma pequena igreja de bairro escolhida pela mãe do Roberto. Estava tudo muito simples, mas muito bonito. Em nossa casa ficariam o tio Osório com sua mulher, tia Débora, e um neto, o Humberto, que era da idade do meu irmão. Os dois não pareciam se dar muito bem, mas eu gostava bastante dele.
Uma coisa interessante foi o fato do casamento reunir a família do meu pai também, que moravam em outra cidade. Eram dois irmão: o tio Osmar, irmão mais novo, sendo meu pai o do meio, casado com a tia Telma, e possuíam um casal mais novos que meu irmão e eu, sendo a Amélia e o Alex; e a tia Ludmila, casada com o tio Álvaro, e tinham duas meninas mais velhas que nós, a Rosana e a Maria. Meus avós paternos também foram, claro, o vô Joaquim e a vó Ofélia.
_ Fala oi para seus avós e dê atenção para seus primos. Faz tempo que você não os vê. – Pediu meu pai.
_ Ok pai. Vem comigo Humberto?
_ Claro. Assim você me apresenta eles.
E fomos. Meu irmão nos acompanhou.
_ Oi tia...
Mal deu tempo de falar e a tia Telma já foi me apertando:
_ Leo! Como você cresceu! Lourenço! Já tá um moção! Amélia e Alex! Venham falar oi para seus primos...
E assim foi, fazendo o social e interagindo com meus primos. Meu irmão se enturmou mais com a Rosana e a Maria, enquanto eu e o Humberto ficamos papeando com a Amélia e o Alex. Pouco depois os outros primos foram chegando e as atenções foram se dividindo, mas o Humberto ficou comigo o tempo todo. Nos juntamos ao Manezinho, ao André e ao João, que fazia tempo que não o via.
_ E aí Leo? Quanto tempo. É o Humberto com você?
_ É sim. Lembra dele? Como estão as coisas?
_ Muito legal na escola agrícola. Vocês podiam passar um fim de semana lá. Ficariam no alojamento e tudo mais.
A conversa nos empolgou, e ficamos combinando de ir enquanto ele contava as aventuras de morar longe de casa.
Pouco depois foi anunciado que o casamento iria começar. Sentamos todos pertos e teve inicio a cerimônia, naquela velha ordem de sempre: entram os padrinhos, se posicionando no altar; o noivo, aguardando a noiva; o atraso da noiva, trazida pelo tio Mané no carro bonito do tio Osório e, finalmente, a entrada da noiva.
_ Você tá chorando Leo? – Se espantou o André.
_ Não enche! – Respondi, com os olhos cheios de lágrimas.

A cerimônia foi muito bonita, deixando bastante gente emocionada. Minha mãe não parava de chorar, e percebia que meu pai só não chorava porque estava se segurando. Sentados juntos, meus primos e eu aproveitávamos para localizar umas gatinhas entre os convidados na igreja, e tinha algumas, conhecidas ou não.
_ Gostosa aquela ali de amarelo. É parente do Roberto? – Perguntou o João.
_ Deve ser. Nunca a vi. – Respondi. – Tem aquela perto da porta lateral também. Bem gata.
_ Aquela é a Michele? Neta da tia Matilde? – Reparou o Manezinho.
_ É sim. Lembra que falei que tá um espetáculo? Depois a gente vai falar com ela.
_ Ô Leo? Será que a gente consegue umas bebidas escondidas na festa? – Era a preocupação do André.
Na festa ficamos todos juntos em duas mesas: eu, André, Manezinho, João, Humberto, Michele, Milena, Cássia, Amélia, Alex, Rosana, Maria e meu irmão. A festa era num salão comunitário que pertencia à igreja, com decoração mínima e servindo churrasco e bebidas: cerveja, refrigerante e água. Sob o olhar de vários membros da família enchíamos nossos copos com refrigerante, mas matutando para conseguir alguma cerveja escondida, sem encontrar soluções.
_ E se você fosse lá, Humberto? Quase ninguém te conhece mesmo? – Sugeriu o André.
_ Desculpe moçada, mas eu não bebo. E se meu vô me pega numa dessa ele não me leva mais pra lugar nenhum.
_ Droga!
_ O Alfredo não pegaria pra gente, né? – Cheguei a sugerir.
_ Conhecendo o tio Alfredo, de jeito nenhum. – Já avisou a Michele, que se empolgava com a ideia de beber com a gente.
_ André! E seu irmão? – Indagou o João, que já havia nos contado de cachaçadas memoráveis no alojamento em que morava.
Todos nós olhamos para o Rodolfo: mais velho, solteiro, bon vivant. Vivia indo para baladas em outras cidades e sempre chegava chapado segundo o André. Decidimos arriscar.
O Rodolfo estava sentado com uns amigos solteiros do Roberto, e todos bebiam empolgados, enchendo a mesa de garrafas.
_ Faz tempo que não o vejo. – Disse o João. – Então vou lá cumprimenta-lo só pra medir a febre.
_ Vai com ele Humberto. Mesmo que você não beba, por ser mais velho talvez ajude. – Sugeri, e ele topou.
Os dois foram, enquanto observávamos curiosos, e nos surpreendemos logo de cara: mal o Humberto e o João chegaram o Rodolfo os cumprimentou, cheirou seus copos fazendo uma careta, jogou fora o conteúdo e encheu de cerveja. O João dava umas olhadas pra gente, animado, enquanto o Humberto olhava para o copo sem saber o que fazer. Os dois se sentaram com ele um pouco e vimos o João cochichar algo. O Rodolfo deu risada, um pouco irônica, e chamou o João para acompanha-lo. Nisso o Humberto voltou para nossa mesa.
_ Tó! Vê o que fazem com isso. – Disse, entregando o copo. – Se meu vô me pega com isso tô ferrado.
_ E aí? O que aconteceu? Conta pra gente! – Queríamos saber.
_ Não ouvi direito o que conversaram, mas o Rodolfo deu uma risada, disse que somos tontos e chamou o João para a cozinha.
Procuramos os dois e nada, até que pouco depois vimos o João saindo da cozinha com uma garrafa de refrigerante e vindo pra nossa mesa com um grande sorriso.
_ Olha o que eu trouxe!
_ Grande coisa! Refrigerante tão servindo na mesa. – Retrucou o André.
_ Então bebe desse “refrigerante” que você vai ver...
Me levantei e peguei a garrafa. Virei meu copo de refrigerante e o enchi com o conteúdo da garrafa, percebendo se tratar de cerveja. Ficamos todos felizes.
_ Seu irmão é foda André. – Contou o João. – Ele me levou até a caixa térmica de bebidas na cozinha. Cerveja e refrigerante estão na mesma caixa, e o gelo faz com que os rótulos se soltem. Como as garrafas são iguais ele só trocou os rótulos. Pronto! Agora, sempre que quisermos “refrigerante” é só buscarmos direto na cozinha.
Aquilo foi o êxtase para nós. Até meu irmão deu umas bicadas na cerveja depois daquilo, juntamente com a Rosana e a Maria, que às vezes davam pequenas goladas. O Humberto não quis se arriscar.
_ Se vocês contarem pra alguém vão se ver com a gente, viu? – Era a ameaça da Michele para a Cássia e a Milena.
Claro que também pedimos sigilo para a Amélia e o Alex.

O restante da festa foi maravilhoso. Procuramos nos controlar para não dar na cara que estávamos bebendo, sempre revezando as garrafas com uma de refrigerante mesmo. Durante a passagem dos noivos pelas mesas dos convidados rimos muito com a farra que o Roberto fez com o vô Tonico e a vó Cotinha. Ele gostava muito dos dois, e o Roberto sabia ser divertido. 
No final nos despedimos de alguns primos que iriam embora para outra cidade e combinamos com os outros de fazer algo no domingo. Dessa forma a Michele, a Milena e a Cássia forma embora, o Humberto, o André, o João, o Manezinho, meu irmão e eu iriamos almoçar na vó Cotinha mas depois passaríamos na casa do vô Joaquim para ir tomar sorvete com a Amélia, o Alex, a Rosana e a Maria antes deles irem embora. Foi um fim de semana muito gostoso, e foi o comentário entre a gente por toda semana. Mas a alegria acabou logo, pois na quinta-feira a vó Cotinha foi internada. Sua diabete estava muito alta.

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quinta-feira, 6 de março de 2014

Aos Meus Amigos - 6 (Parte II)

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O fim de semana tinha sido muito bacana. Além da cachoeira o Hugo também foi na boate com a gente e se enturmou mais ainda, contando empolgado para a turma da escola, o que os animou para uma próxima vez. Isso era tudo o que eu queria: juntar as duas turmas. Não disse nada para os meus pais da descoberta do Vini, mas de certa forma eles sabiam, pois não me viram mais com ele ou falar dele, e acho que isso já era o suficiente para não tocarem mais no assunto. Depois do episódio passamos a ter uma chave cada, de modo a eliminar a tal chave no fundo.
Claro que eu ainda veria o Vini, e foi naquela mesma semana, enquanto andava pelo centro. O avistei do outro lado da rua e a primeira intenção que tive foi de ignorá-lo, mas resolvi olhar para ele, ver sua reação, e assim o fiz. Fiquei encarando-o, esperando. Ele me olhava, e depois olhava para o chão, sem saber o que fazer, até que fez um joia com o dedão, balançou a cabeça negativamente para si mesmo e saiu andando. Não havia mais dúvidas que tinha sido ele, e depois disso ele sumiu dos lugares que costumávamos ir, avistando-o apenas de vez em quando, em lugares isolados. E mais uma amizade chegava ao fim.

_ Vocês passam no meu primo comigo? – Perguntei à turma ao sairmos da escola. – É rapidinho.
_ Claro Leo. – Disse de imediato o Hugo.
_ Vocês vão combinar algo para o fim de semana? – Quis saber o Cleber.
_ É isso mesmo. – Respondi.
_ Opa! Vamos sim. Quem sabe da para eu ir. Vamos Mário?
_ Pode ser...
Pegamos nossas bicicletas e fomos, chegando quase que ao mesmo tempo que o André.
_ Qual o plano para o fim de semana André? – Foi perguntando o Hugo, já se mostrando bem amigo dele.
_ Durante o dia ainda não sabemos, mas pra noite estamos combinando um bilhar antes da boate.
_ Bilhar? – Se surpreendeu o Mário, que sempre jogava no clube e gostava bastante.
_ É. O Jonatan foi com o Silvinho jogar no bar do Pescocinho e disse que é bem massa lá. Que acham?
Para mim estava ótimo, e se o Mário ficava em dúvida em relação a sair com a gente acho que naquela hora o havíamos fisgado. O Hugo e o Cleber que estavam mais relutantes por não estarem acostumados a bares e coisas assim.
_ Tá dentro Hugo? – Perguntei.
_ Não sei...
_ Bem, vocês me falam depois. Até mais moçada. – Despediu-se e entrou o André.
Enquanto pedalávamos até onde nossos caminhos se dividiam fomos conversando.
_ Nunca fui a bares, Leo. Acho que não é legal. – Estava preocupado o Hugo.
_ Eu também não. – Disse o Cleber.
_ Que isso gente! Não tem nada de mais. Sempre vou com eles pra jogar fliperama ou comprar cigarro. E é pra jogar bilhar.
_ Cara! É isso que tá me animando. Nunca joguei com outras pessoas fora do clube. Acho que vou, Leo. – Disse o Mário.
_ Então gente! Vamos os quatro. Assim ninguém fica isolado se tiver chato.
E acabaram concordando, mas com certa dúvida ainda.

Chegou o fim de semana. Na sexta dormi na casa do André e saímos para dar umas voltas, encontrando os moleques da escola na praça. Como não tinha nada certo para o sábado a tarde cada um marcou algo diferente.
_ Vou jogar bola. – Disse o Cleber.
_ Acho que vou pro clube. – Falou o Mário.
_ Posso ir com vocês na sua casa André? – Pediu o Hugo.
Mas para a noite estava tudo combinado: bilhar no bar do Pescocinho.
No sábado depois do almoço na vó Cotinha o Manezinho e eu seguimos para a casa do André junto com ele. Encontramos o Hugo e ficamos lá de bobeira, subindo no telhado, jogando bola na rua e brincando em construção, até que a tarde nos despedimos para um banho e o preparo para a noite.
Era por volta das oito e quinze quando nos encontramos na praça: André, Manezinho e Jonatan chegaram juntos, e eu cheguei com o Mário, o Hugo e o Cleber. Apresentei aqueles que não se conheciam e seguimos para o bar.
O bar do Pescocinho era um verdadeiro boteco bem simples. Um balcão comprido com banquinhos, poucas mesas de quatro lugares, três fliperamas à frente do balcão e três mesas de bilhar ao fundo. O Pescocinho era um sujeito engraçado: um senhorzinho de pouco mais de um metro e sessenta de altura, magro com uma barriguinha saliente, cabelos brancos e um pescoço diminuto que mal dava para ver. Pelo jeito o apelido vinha de longa data, pois todos o chamavam assim e ele não parecia se importar. O bar estava praticamente vazio a não ser por um grupo de moleques no fliperama, dois clientes aparentemente antigos no balcão e um eterno freguês, o Boina, como o chamavam, que era um sujeito de bigode e bem magro usando uma boina e sentado ao lado de um barrilzinho de pinga que o víamos utilizar para encher seu copo toda vez que o Pescocinho virava as costas. Dávamos muita risada com aquilo. O Pescocinho não estava nem aí por sermos menores de idade.
_ Seis fichas pra começar, Pescocinho. – Pediu o Jonatan.
_ E o que vão beber?
Nos olhamos, mas o Jonatan não nos deu a chance de chegarmos a uma decisão.
_ Cerveja.
Percebi que o Mário, o Cleber e o Hugo ficaram um pouco incomodados.
_ Cerveja Jonatan? Tá louco? – Disse o André. – Além de caro tem que beber mais pra dar um grau.
_ Relaxa André. Ajudei meu pai no sítio essa semana e ele me deu uma boa grana. Hoje eu pago.
O Pescocinho chegou com três garrafas e sete copos. Encheu os sete, apesar de um esboço de resistência por parte do Hugo, que não conseguiu concluí-lo.
_ Vamos brindar moçada! – Disse o Jonatan, erguendo seu copo.
Pegamos nossos copos, menos o Hugo, o Cleber e o Mário.
_ Vamos moçada! – Insistiu o Manezinho.
_ A gente não bebe. – Finalmente falou o Mário.
_ Larga mão! Só esse copo, vai? – Praticamente ordenou o Jonatan.
Com clara expressão de dúvida eles pegaram os copos.
_ É isso aí molecada. A nois!
E brindamos. Jonatan, André, Manezinho e eu viramos os copos. Os outros três deram um pequeno gole e fizeram uma careta.
_ Querem ver uma coisa que aprendi com um amigo do Silvinho? – Disse o Jonatan, enchendo novamente o copo.
Ficamos olhando ele arreganhar os lábios, encaixar a boca do copo inteira na sua boca e erguer a cabeça com tudo, fazendo com que a cerveja descesse como que num galão de água por sua garganta.
_ Que massa! Quero tentar. – Gritei.

E começamos a beber, jogar bilhar e nos divertir. Pouco depois os três tímidos já tinham se soltado e se divertiam também, dando altas risadas enquanto jogávamos bilhar e bebíamos. Eles ficaram bêbados rapidamente, mas não ao ponto de darem trabalho. Quase que como um devaneio, sem ter total consciência da realidade, saímos de lá e fomos para a boate, nos divertindo muito. E tudo foi tão massa que até o Hugo beijou uma menina. As amizades das turmas estavam seladas.

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