(Não leu do inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )
_ Tô saindo,
mãe! Tchau pai! – Fui me despedindo.
_ Não volta
muito tarde e tenha juízo, heim! – Gritou minha mãe, da sala.
Sai como sempre
fazia aos sábados, como se fosse um sábado comum. A diferença era que nos
encontraríamos na praça para podermos ir para a cidade vizinha. Eu estava bem
nervoso por ir escondido, mas muito empolgado também.
Fui o último a
chegar, encontrando a turma fumando um cigarro encostados num banco.
_ Prontos? –
Perguntei.
_ Só faltava
você. – Respondeu o André.
E partimos.
Estávamos um
tanto apertados no carro do Jonatan, já que era um carro pequeno, e o barulho
do motor já longe de ser novo atrapalhava o som do radinho à pilha que o
Jonatan mantinha dentro do carro, já que não tinha um som próprio.
_ Não dá pra
ouvir nada nessa bosta! – Reclamava o André, no banco da frente.
_ Não reclama,
pois é o único que temos. – Rebatia o Jonatan.
_ Se quiserem
eu canto. – Disse o Hugo.
_ De jeito
nenhum! Prefiro o ronco do motor! – Anunciou o Neuza.
E assim seguimos
por cerca de quarenta minutos até chegar na cidade vizinha.
Passamos em
frente ao Top Rock. Lotado. Uma fila que se estendia pela calçada mostrava
várias gatinhas, e aquilo foi nos animando.
_ Onde vamos
parar? Não vejo vaga alguma. – Perguntou o André.
_ Tem uma rua
ali atrás que sempre tem vaga.
E assim o
Jonatan conduziu o carro para a tal rua, já com alguns carros mas ainda vazia.
_ Quer que tome
conta, parceiro?
Ouvimos uma voz
perguntar e olhamos. Um sujeito de uns trinta e poucos anos estava alí parado.
_ Essa rua é
meio perigosa. Quer que eu fique de olho no carro?
Aquilo era
inédito para a gente. Em nossa cidade não tinha nada daquilo.
_ Pode ser.
Quanto você quer? – Perguntou o Jonatan.
_ O que puder
pagar, patrão.
O Jonatan foi
tirar a carteira quando o André o interrompeu:
_ Pagamos na
hora de ir embora, ok?
_ Sem problema.
– E se afastou.
_ Será que não
é roubada? – Perguntei.
_ Vai se
acostumando que aqui é assim mesmo. – Disse o Jonatan.
_ Cara! Não sei
por que trouxe blusa. Tá muito quente. Vou deixar no carro. – Anunciou o Neuza.
_ Foi a mamãe
quem mandou por blusa? – Provocou o Hugo.
_ Vai tomar no
cu! – Foi a resposta recebida.
A fila andava
aos poucos, mas já ali começamos a beber. Alguns vendedores ambulantes com
caixas térmicas ofereciam cervejas a um preço um pouco mais alto, mas era o que
tínhamos para o momento.
_ Cara, tem
muita gata aqui! – Comentou o Hugo.
_ Será que nos
daremos bem? – Indagou o Neuza.
_ Vou me
preocupar em me divertir. Se rolar algo rolou. – Falei.
_ Seu viado. –
Brincou o Jonatan.
Entramos. O
preço da portaria não era muito barato, mas já estávamos ali e não recuaríamos.
Demos uma olhada geral: um palco pequeno ficava no canto esquerdo do salão, e o
bar no canto direito. Algumas mesas se espalhavam pelo espaço mas deixavam uma
área vazia em frente ao palco. Algumas pessoas arrumavam equipamentos para logo
iniciar o som, e procuramos um lugar para ficar, de modo que todas as mesas
estavam cheias e teríamos que ficar em pé. Escolhemos um local entre o palco e
o bar, fechando numa pequena roda.
_ Vamos para as
bebidas? – Sugeri.
_ Cervejas
mesmo? – Perguntou o Jonatan.
_ Claro! Por
que não? – Questionou o Hugo.
_ Aqui tem umas
bebidas diferentes. Se quiserem experimentar...
Achei
interessante.
Depois de
algumas olhadas no cardápio eu estava com uma bebida bem azul na mão, com um
gosto forte de álcool ao mesmo tempo que um pouco doce. Descia fácil. O André
tomava algo como um conhaque, mas feito de maça. O Hugo bebia uma cuba libre, e
o Jonatan e o Neusa preferiram um uísque. A noite estava agitada, e a banda
fazia um belo som no palco. Comecei a me aproximar e a cantar junto.
_ Som massa,
né?
Gritaram no meu
ouvido. Olhei e um rapaz cabeludo com cara de chapado pulava conforme a música.
_ Massa! –
Respondi, sem dar muita trela.
_ Rock n’
Roll!!! – Gritava ele.
Nem dei bola.
Voltei com a turma.
_ Arrumou um
amigo lá? Hahahaha! – Brincou o André.
_ Cara maluco.
Nova música.
Senti me puxarem.
_ Vamo pirá,
mano!!!
Era o cara
novamente.
_ Dá um gole
aí!!!
E me estendeu
um copo, que, por impulso, segurei. Cheirava a pinga pura. Devolvi.
_ Só um gole,
mano! Vai lá brother!!!
Fingi beber. Às
minhas costas, a turma se divertia. Que aquele cara tinha visto em mim? Devolvi
o copo e ele virou todo o conteúdo, matando a pinga de uma vez.
_ Uh-huuuuu!!! Rock n’
Roll!!!
E pulava
trombando em mim. Tentava ignorar, mas ele ficava tentando conversar. Que
bosta!
_ Véio! Vou no
banheiro. – Gritei no ouvido dele.
_ Vai lá, Mano.
Tô te esperanto na frente do palco.
Saí. A molecada
se matava de rir. Me afastei como que indo ao banheiro, e ao ver que ele tinha
ido para a frente do palco, voltei com a turma.
_ Cara chato da
porra! – Falei.
_ Encanou com
você, Leo. Não vai te deixar em paz. – Disse o André.
_ O duro é que
é verdade.
_ Leo, vai no carro
e pega minha blusa, talvez disfarce um pouco. – Sugeriu o Neusa.
_ É uma boa.
_ Tem um boné
meu no porta malas também. Põe ele pra disfarçar mais. – Falou o Jonatan.
_ Vou fazer
isso. Empresta a chave?
Foi meio chato
convencer a mocinha da portaria a me deixar sair para voltar novamente, mas eu
consegui depois de deixar um documento com ela e insistir muito. Caminhei até a
esquina que virava para a rua onde o carro estava e fui localizando-o com os
olhos. Nem sinal do rapaz que olhava os carros. Me aproximei e, antes de abrir
a porta, percebi que o vidro da porta do motorista estava aberto.
_ O burro do
Jonatan esqueceu aberto. – Falei para mim mesmo.
Coloquei a
chave no carro para abri-lo e senti que o trinco não estava abaixado. Nisso me
veio um frio na barriga, pois eu mesmo tinha visto o Jonatan trancar o carro.
Abri a porta às pressas e olhei direto para o banco de trás, à procura da blusa
do Neusa. Nada.
_ Bosta! –
Gritei.
Voltei às
pressas para o bar. A moça da portaria devolveu meus documentos e disse algo
que não entendi, indo ao encontro da turma. No meio do caminho, meu amigo chato
me viu e veio falar algo, que ignorei completamente.
_ Cadê a blusa
Leo? – Perguntou o André ao me ver.
_ Jonatan, você
deixou o vidro do carro aberto?
_ Tenho certeza
que não. Por quê?
_ Forçaram o
vidro do carro e pegaram a blusa.
_ Que?!? Minha
mãe me mata! – Disse o Neuza.
Fomos todos
para o carro, saindo sem nem lembrar que não poderíamos mais entrar depois.
Chegando lá abrimos o carro e o averiguamos. Nada de blusa e o radinho à pinha
também tinha sumido.
_ Filho da
puta! – Gritou o Jonatan.
_ Cadê aquele
cara que ia olhar o carro? – Perguntou o Hugo.
_ Hugo, certeza
que foi ele. – Falou o André.
Do outro lado
da rua, o Neuza acendia um cigarro sentando na sarjeta.
_ Que vou falar
pra minha mãe?
A noite tinha
acabado pra gente. E nem eram duas da manhã.