sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Aos Meus Amigos - 27 (Parte II)

(Não leu do inicio? Então aproveite em http://blagoiaba.blogspot.com.br/2013/09/aos-meus-amigos-introducao.html )


_ Tô saindo, mãe! Tchau pai! – Fui me despedindo.
_ Não volta muito tarde e tenha juízo, heim! – Gritou minha mãe, da sala.
Sai como sempre fazia aos sábados, como se fosse um sábado comum. A diferença era que nos encontraríamos na praça para podermos ir para a cidade vizinha. Eu estava bem nervoso por ir escondido, mas muito empolgado também.
Fui o último a chegar, encontrando a turma fumando um cigarro encostados num banco.
_ Prontos? – Perguntei.
_ Só faltava você. – Respondeu o André.
E partimos.
Estávamos um tanto apertados no carro do Jonatan, já que era um carro pequeno, e o barulho do motor já longe de ser novo atrapalhava o som do radinho à pilha que o Jonatan mantinha dentro do carro, já que não tinha um som próprio.
_ Não dá pra ouvir nada nessa bosta! – Reclamava o André, no banco da frente.
_ Não reclama, pois é o único que temos. – Rebatia o Jonatan.
_ Se quiserem eu canto. – Disse o Hugo.
_ De jeito nenhum! Prefiro o ronco do motor! – Anunciou o Neuza.
E assim seguimos por cerca de quarenta minutos até chegar na cidade vizinha.
Passamos em frente ao Top Rock. Lotado. Uma fila que se estendia pela calçada mostrava várias gatinhas, e aquilo foi nos animando.
_ Onde vamos parar? Não vejo vaga alguma. – Perguntou o André.
_ Tem uma rua ali atrás que sempre tem vaga.
E assim o Jonatan conduziu o carro para a tal rua, já com alguns carros mas ainda vazia.
_ Quer que tome conta, parceiro?
Ouvimos uma voz perguntar e olhamos. Um sujeito de uns trinta e poucos anos estava alí parado.
_ Essa rua é meio perigosa. Quer que eu fique de olho no carro?
Aquilo era inédito para a gente. Em nossa cidade não tinha nada daquilo.
_ Pode ser. Quanto você quer? – Perguntou o Jonatan.
_ O que puder pagar, patrão.
O Jonatan foi tirar a carteira quando o André o interrompeu:
_ Pagamos na hora de ir embora, ok?
_ Sem problema. – E se afastou.
_ Será que não é roubada? – Perguntei.
_ Vai se acostumando que aqui é assim mesmo. – Disse o Jonatan.
_ Cara! Não sei por que trouxe blusa. Tá muito quente. Vou deixar no carro. – Anunciou o Neuza.
_ Foi a mamãe quem mandou por blusa? – Provocou o Hugo.
_ Vai tomar no cu! – Foi a resposta recebida.

A fila andava aos poucos, mas já ali começamos a beber. Alguns vendedores ambulantes com caixas térmicas ofereciam cervejas a um preço um pouco mais alto, mas era o que tínhamos para o momento.
_ Cara, tem muita gata aqui! – Comentou o Hugo.
_ Será que nos daremos bem? – Indagou o Neuza.
_ Vou me preocupar em me divertir. Se rolar algo rolou. – Falei.
_ Seu viado. – Brincou o Jonatan.
Entramos. O preço da portaria não era muito barato, mas já estávamos ali e não recuaríamos. Demos uma olhada geral: um palco pequeno ficava no canto esquerdo do salão, e o bar no canto direito. Algumas mesas se espalhavam pelo espaço mas deixavam uma área vazia em frente ao palco. Algumas pessoas arrumavam equipamentos para logo iniciar o som, e procuramos um lugar para ficar, de modo que todas as mesas estavam cheias e teríamos que ficar em pé. Escolhemos um local entre o palco e o bar, fechando numa pequena roda.
_ Vamos para as bebidas? – Sugeri.
_ Cervejas mesmo? – Perguntou o Jonatan.
_ Claro! Por que não? – Questionou o Hugo.
_ Aqui tem umas bebidas diferentes. Se quiserem experimentar...
Achei interessante.
Depois de algumas olhadas no cardápio eu estava com uma bebida bem azul na mão, com um gosto forte de álcool ao mesmo tempo que um pouco doce. Descia fácil. O André tomava algo como um conhaque, mas feito de maça. O Hugo bebia uma cuba libre, e o Jonatan e o Neusa preferiram um uísque. A noite estava agitada, e a banda fazia um belo som no palco. Comecei a me aproximar e a cantar junto.
_ Som massa, né?
Gritaram no meu ouvido. Olhei e um rapaz cabeludo com cara de chapado pulava conforme a música.
_ Massa! – Respondi, sem dar muita trela.
_ Rock n’ Roll!!! – Gritava ele.
Nem dei bola. Voltei com a turma.
_ Arrumou um amigo lá? Hahahaha! – Brincou o André.
_ Cara maluco.
Nova música. Senti me puxarem.
_ Vamo pirá, mano!!!
Era o cara novamente.
_ Dá um gole aí!!!
E me estendeu um copo, que, por impulso, segurei. Cheirava a pinga pura. Devolvi.
_ Só um gole, mano! Vai lá brother!!!
Fingi beber. Às minhas costas, a turma se divertia. Que aquele cara tinha visto em mim? Devolvi o copo e ele virou todo o conteúdo, matando a pinga de uma vez.
_ Uh-huuuuu!!! Rock n’ Roll!!!
E pulava trombando em mim. Tentava ignorar, mas ele ficava tentando conversar. Que bosta!
_ Véio! Vou no banheiro. – Gritei no ouvido dele.
_ Vai lá, Mano. Tô te esperanto na frente do palco.
Saí. A molecada se matava de rir. Me afastei como que indo ao banheiro, e ao ver que ele tinha ido para a frente do palco, voltei com a turma.
_ Cara chato da porra! – Falei.
_ Encanou com você, Leo. Não vai te deixar em paz. – Disse o André.
_ O duro é que é verdade.
_ Leo, vai no carro e pega minha blusa, talvez disfarce um pouco. – Sugeriu o Neusa.
_ É uma boa.
_ Tem um boné meu no porta malas também. Põe ele pra disfarçar mais. – Falou o Jonatan.
_ Vou fazer isso. Empresta a chave?
Foi meio chato convencer a mocinha da portaria a me deixar sair para voltar novamente, mas eu consegui depois de deixar um documento com ela e insistir muito. Caminhei até a esquina que virava para a rua onde o carro estava e fui localizando-o com os olhos. Nem sinal do rapaz que olhava os carros. Me aproximei e, antes de abrir a porta, percebi que o vidro da porta do motorista estava aberto.
_ O burro do Jonatan esqueceu aberto. – Falei para mim mesmo.
Coloquei a chave no carro para abri-lo e senti que o trinco não estava abaixado. Nisso me veio um frio na barriga, pois eu mesmo tinha visto o Jonatan trancar o carro. Abri a porta às pressas e olhei direto para o banco de trás, à procura da blusa do Neusa. Nada.
_ Bosta! – Gritei.
Voltei às pressas para o bar. A moça da portaria devolveu meus documentos e disse algo que não entendi, indo ao encontro da turma. No meio do caminho, meu amigo chato me viu e veio falar algo, que ignorei completamente.
_ Cadê a blusa Leo? – Perguntou o André ao me ver.
_ Jonatan, você deixou o vidro do carro aberto?
_ Tenho certeza que não. Por quê?
_ Forçaram o vidro do carro e pegaram a blusa.
_ Que?!? Minha mãe me mata! – Disse o Neuza.
Fomos todos para o carro, saindo sem nem lembrar que não poderíamos mais entrar depois. Chegando lá abrimos o carro e o averiguamos. Nada de blusa e o radinho à pinha também tinha sumido.
_ Filho da puta! – Gritou o Jonatan.
_ Cadê aquele cara que ia olhar o carro? – Perguntou o Hugo.
_ Hugo, certeza que foi ele. – Falou o André.
Do outro lado da rua, o Neuza acendia um cigarro sentando na sarjeta.
_ Que vou falar pra minha mãe?

A noite tinha acabado pra gente. E nem eram duas da manhã.